Protestos voltam com tudo e Bolsonaro perde o monopólio das ruas. Por Sérgio Kraselis,para os jornalistas livres
Demorou, mas o povo gritou nas ruas de todo o país a palavra de ordem antes restrita às redes sociais: Fora, Bolsonaro! Vacina já! Se até agora as patacoadas presidenciais atraíram seus seguidores negacionistas vestidos de verde e amarelo e sem máscaras, as manifestações deste 29 de maio de 2021 tiraram de Bolsonaro o monopólio das ruas. De forma ordeira e pacífica, os manifestantes foram às ruas protegidos por máscaras e munidos de álcool em gel, em defesa da vida e da democracia.
A cobertura da mídia dos ato fora Bolsonaro e as ruas
Os principais telejornais se renderam aos protestos. As imagens aéreas exibidas pela Globonews mostraram milhares de pessoas em São Paulo, ocupando os dois lados da avenida Paulista para condenar o governo federal pelas mortes de 461 mil brasileiros vítimas da Covid-19 e exigir o impeachment de Jair Bolsonaro. As manifestações em diferentes capitais tiveram cobertura da emissora, como Rio de Janeiro, Brasília, Belém, Goiânia, Florianópolis, Fortaleza e Recife.
Mesmo a sempre tímida CNN Brasil, quando se trata de críticas ao governo federal, fez cobertura ao vivo das manifestações em São Paulo e em outras capitais. As TVs abertas também mostraram as mobilizações, mas o destaque ficou com a cobertura do “Jornal Nacional”, da TV Globo. Em sua escalada, o noticioso destacou em sua chamada: “Manifestantes protestam contra o presidente Jair Bolsonaro em todos os estados e no Distrito Federal”. Em pouco mais de 3 minutos, o principal telejornal do país destacou os protestos em quase todas as capitais, mas não deixou de apontar que em muitas cidades ocorreram aglomerações. Sem o mesmo exagero da “Folha de S. Paulo”.
A “Folha”, o maior jornal do país, disse a que veio, como sempre, em sua manchete sobre as manifestações convocadas por movimentos sociais, centrais sindicais e partidos de esquerda: “Protestos contra Bolsonaro reúnem milhares nas ruas em meio à pandemia”. Como ironizou o crítico de cinema José Geraldo Couto: “Ainda bem que, a cada três linhas, a Folha nos informa que as manifestações ocorreram em meio à pandemia. A gente não sabia”. Não duvidem: os próximos casos de Covid-19 serão jogados nas costas da esquerda.
A cobertura da “Folha” fez questão de enfatizar a falta de distanciamento e preferiu destacar que a manifestação bloqueou a avenida Paulista. Bloqueou? Melhor seria invadiu ou lotou, mas…
Lá pelo meio da reportagem, aquela frase marota: (…) A mobilização nacional deste sábado foi feita pensando em desgastar Bolsonaro e incentivar a CPI da Covid, enquanto o impeachment é visto como algo ainda distante”.(…) Como assim, cara-pálida? Desgastar um desgoverno? Incentivar CPI? O povo voltou às ruas, essa é que é a real. E não foi só a esquerda que esteve nas manifestações. Foi o povo brasileiro, cansado da narrativa negacionista que assola o país desde 2018.
Em sua página no Facebook, o grande fotógrafo Rogério Assis resumiu: “A velha mídia e sua rotineira canalhice destaca as aglomerações nas manifestações contra Bolsonaro, a favor da democracia, da vacina e, principalmente, da vida como se fossem a mesma coisa que as aglomerações promovidas pelo miliciano e sua corja de genocidas que se aglomeram, sem máscara, a favor do fascismo, do negacionismo e da morte”. Não precisa dizer mais nada.
O UOL, que pertence ao Grupo Folha, saiu com a manchete: “Protesto toma Paulista por impeachment de Bolsonaro”, não sem destacar em três chamadas na página inicial do portal a aglomeração nos protestos. Já o conservador “O Estado de S.Paulo” preferiu “Manifestantes fazem ato contra Bolsonaro e pedem vacinação em massa no país”. Na mesma toada ficaram “Correio Braziliense” (Manifestantes se reúnem contra Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios) e a “Zero Hora” (Manifestantes protestam contra o presidente Jair Bolsonaro).
No exterior, as manifestações foram destaques no “The Guardian” (Inglaterra), “La Nácion” (Argentina) e nas agências Reuters e Al Jazeera, entre outros órgãos da mídia internacional.