Diário do bolso: Papai Noel e o estrume

- Quem é você, seu barbudo? Aquele tal do Carlos Marcos? - Karl Marx? Não, não, só temos a barba parecida. E a barriga. - E essa roupa vermelha. Você é do PT? - Não. Foi a Coca-Cola que inventou. - A Coca-Cola jamais será vermelha! Ela é preta. Ou será que tem que dizer afrodescendente? Nunca sei essas coisas...

Por José Roberto Torero* Sonhei com o Papai Noel Diário, foi assim:

Eu olhei pro lado e ele estava lá, em pé, do lado da cama.

Enfiei minha mão na gaveta do criado mudo para pegar minha pistola, mas só achei um pão com leite condensado que devia estar lá há uns dois dias. Enquanto chupava os dedos, perguntei:

– Quem é você, seu barbudo? Aquele tal do Carlos Marcos?

– Karl Marx? Não, não, só temos a barba parecida. E a barriga.

– E essa roupa vermelha. Você é do PT?

– Não. Foi a Coca-Cola que inventou.

– A Coca-Cola jamais será vermelha! Ela é preta. Ou será que tem que dizer afrodescendente? Nunca sei essas coisas…

O velho deu uma bufada de impaciência e disse:

– Papai Noel. Sou o Papai Noel.

– Você existe? Pô, essa me pegou de jeito. Pensei que você fosse que nem a Cloroquina, uma coisa que a gente inventa pras crianças e pros trouxas.

– Não, eu existo, sim. E estou aqui numa missão.

– Veio me trazer um presente. Oba! É uma metralhadora? Uma peruca do Trump? Um habeas corpus pro Flavinho?

– Não. O presente não é para você.

-É pra Michelle? Ela está no outro quarto. Diz que não aguenta mais toda noite me ouvir gritar: “Não me espeta, eu tenho medo de seringa!”

– Não, não é pra Michelle. Ela já ganha muito presente do Queiroz. Você faz parte do presente.

– Eu? Ah, já entendi. Deve ser pros meus fãs. Você quer uma foto minha pra mandar pra eles, né? Tudo bem. Pode tirar agora mesmo. Acho que eles vão gostar assim mesmo como eu tô, peladão mas com a faixa presidencial.

– Não, não é uma foto, bobinho. Mas muitos brasileiros me pediram a mesma coisa, e eu vim fazer a vontade deles.

– “E o que eles pediram”, eu perguntei.

– Nas cartinhas estava escrito: “Quero que aquele desgraçado vá à…”. Então, antes de acabar a frase, ele pegou aquele saco dele, que estava cheio de, digamos, estrume, e virou tudo em cima de mim. Tudo! Fiquei coberto dos pés à cabeça de, digamos, adubo.

Foi aí que eu acordei de verdade, Diário. E vim escrever aqui.

Agora estou pensando: será que esse sonho quer dizer alguma coisa? Não, acho que não.

*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.

#diariodobolso

- Quem é você, seu barbudo? Aquele tal do Carlos Marcos? 
- Karl Marx? Não, não, só temos a barba parecida. E a barriga.
- E essa roupa vermelha. Você é do PT? 
- Não. Foi a Coca-Cola que inventou.
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