Diário, ainda não falei disso aqui em você, mas o Ricardo Salles está num mato sem cachorro. E isso é bem ruim, porque ele detesta mato.
É que, na quarta-feira, a Polícia Federal deu uma batida nas casas e nos escritórios dele em Brasília e São Paulo.
E por quê? Só porque suspeitam que o Salles teria feito um favorzinho pros madeireiros e afrouxado as regras para a exportação de madeira. E, por conta desse favorzinho ele pode ter recebido uns milhõezinhos aí.
A PF já tinha pedido pra investigar o caso, mas o Aras vetou. Então a PF pediu de novo, mas para o STF, e o careca do Alexandre de Moraes liberou, dizendo que o Aras só deveria ser avisado depois.
Pô, assim tão segurando meu goleiro! Isso é falta!
Quebraram os sigilos fiscal e bancário do Salles e de mais dez funcionários dele. Inclusive do presidente do Ibama, o Eduardo Fortunato Bim.
No carnaval, o Bim abriu a porteira pra passar a boiada. É que ele acabou com uma lei aí e afrouxou a fiscalização sobre as exportadoras de madeira.
Mas o Ibama lá dos EUA percebeu a mutreta. Aí entrou em contato com a PF, que está fazendo um estrago (tem uma turma da PF que ainda não percebeu que PF tem que ser Polícia da Família).
O Salles e mais dez pessoas estão sendo acusados de nove crimes, como corrupção passiva, facilitação de contrabando, advocacia administrativa e lavagem de dinheiro.
O Salles ficou todo nervosão com a história. Pegou um segurança dele (armado) e foi até a Polícia Federal tirar satisfação. Depois veio falar comigo e com o ministro da Justiça.
É tudo implicância com o Salles! Tá certo que o Coaf (sempre esses coafentos!) identificou uma “movimentação extremamente atípica” de R$ 14,2 milhões nas suas contas, que ele adulterou mapas para beneficiar mineradoras em São Paulo, que entregou cargos no ministério pra policiais da Rota que agora estão sendo investigados, que impediu os servidores dos órgãos ambientais de fazerem seu trabalho, só porque abriu mão de bilhões de reais em multas ambientais e que mentiu no currículo. Mas só por causa disso vão investigar o cara!?
Implicância pura, Diário!
Afinal, quem é que não tem uns pecadinhos?
José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.
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