Mulher indígena e nosso lugar no país possível

Nasci num lugar incerto e inseguro. Foi como o anjo torto, poeta que dissera, nos limites da última fronteira indígena do Estado de São Paulo a se ocupar, a dizimar as certezas de homens e suas mulheres.  

Entre o Rio do Peixe e Feio, deu ruim mesmo. 

Terra virgem para café, de onde foram retiradas as melhores madeiras do Estado, veio seda e gado, onde hoje só cana sobrevive. Antiga terra virgem, hoje dá álcool e couro, abate gado para as partes todas do planeta.

Mulheres indígenas são o sal da Terra.

Agora, presente, em véspera de eleição, atônito e orgulhoso poderei votar num coletivo Guarani, mulheres vereadoras para a grande metrópole do Brasil, onde vivo, viverei os dias próximos até onde sei meu fim.

Onde nasci, terra de terremoto, a cidade Getulina e a região de Tupã, onde índia Vanuíre bradava na copa das árvores, gritando aos parentes a aceitarem o ocidente ou oriente, nada poderiam fazer os indígenas diante da estrada de ferro Noroeste. Tal semente, hoje há uma árvore possível, o voto em indígenas, a legislatura.

Sônia significa sabedoria, Guarani guerreiro, Vanuíre heroína. 

*imagens por Helio Carlos Mello

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