Seria um sábado como os últimos, não fosse tanta gente na rua, famílias com seus filhos pequenos, ensinando a andar. Gente jovem reunida com antiga, tantos com uma expressão de satisfação nos rostos, algo de cidadania difusa que envolveu a cidade em tempo de peste e curas. Há um desafio em curso, expõe-se entre as incertezas e calçadas desse momento.
Saio do metrô Brigadeiro, na Avenida Paulista, às 15:30 horas. Logo um cheiro bom me envolve, vendedor que queimava Palo Santo, e um cheiro de multidão, misturando-se no ar ao som intenso, repetitivo, um Fora Bolsonaro. Rompem-se as restrições, nem mais tão isolados vamos, segregados. Todo cuidado é pouco, mas não mais descuidam da razão, sabem que o desgoverno ameaça, tal peste.
Encontro a cavalaria quando atravesso a faixa, mas como massa de pão que cresce, vai chegando gente de todo canto, acalenta, vai matando nossa fome, tudo numa santa ordem alimenta.
Reverbera no tímpano FORA, fora tristeza, mau gosto, hipocrisia, insensatez. O bom senso invade a alma. Vejo o povo, de todas as cores, renda, escolaridade, juntos, misturados, mascarados, brilhando num sol entre chuva que lava onde se pisa.
Era tanta gente, um mar de gente, rio, chuva no asfalto de meu desalento, um povo que quer um país, gente que dizia FORA. Crianças na rua e seus pais, bandas de músicos, pequenos cachorros e seu dono. Tudo protesta tom de alegria, reivindica razão, bom governo.
Basta.
Há um sentimento de alegria na via, há uma satisfação em sorrisos sob as máscaras, dentes brancos que não vejo, mas mordem, deixam marca indelével no dia. Despertam na mente algo bom que não via nos anos 20 de agora.
Volto para casa com novos advérbios, preposições e verbos na boca. Fora. Contra. Basta.