Documentário retrata diferenças de acesso das crianças à cidade de São Paulo

Produzido por estudantes de Jornalismo de diferentes universidades, “Se a cidade fosse minha” mostra como a desigualdade afeta as condições de vida e de compreensão do território pelos pequenos

No princípio da vida de cada um há a infância. Um momento que, de forma quase paradoxal, transcende aspectos de classe socioeconômica, raça e gênero, mas que, ao mesmo tempo, não escapa das problemáticas que se apresentam em cada um desses aspectos da sociedade. No meio de tudo isso, há o lúdico, interativo e mágico mundo que uma criança constrói. A sobreposição do que enxerga uma criança e o que de fato a cerca foi pauta em “Se a cidade fosse minha” (2022), um mini-documentário produzido por estudantes de Jornalismo.

O território da produção foi a cidade de São Paulo, a mais populosa do Brasil e que abriga, junto a seus milhões de habitantes, a desigualdade social. Assim, obviamente, as diferenças de acesso à educação, ao lazer, à saúde, à moradia digna, não se limitam ao mundo dos adultos. Segundo apontou o Mapa da Desigualdade, realizado pela Rede Nossa São Paulo, uma criança do distrito da República, região central, demora em média três dias para ter sua vaga em creche atendida. Uma outra de Marsilac, extremo Sul, enfrenta em média 158 dias.

Ainda nos números, se no Alto de Pinheiros, na Zona Oeste, praticamente não há crianças de 0 a 5 anos em situação de vulnerabilidade, essa porcentagem vai para 13,7% em bairros como o Campo Belo, na Zona Sul. O levantamento faz parte do Mapa da Desigualdade da Primeira Infância, também da Rede Nossa São Paulo, e contou com dados do Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) de 2010.

Diante desse cenário, quatro estudantes de Jornalismo de três instituições de ensino localizadas em São Paulo se organizaram para desenvolver um material audiovisual sobre o tema. A ideia de André Carvalho (ECA-USP), Karen Ramos (Anhembi-Morumbi), Silvia Gomes e Tiago Ortaet (ambos da Universidade Cruzeiro do Sul) era abordar de que forma crianças paulistanas acessam e significam uma cidade como São Paulo. Para isso, o grupo percorreu diversas regiões paulistanas e trouxe seis mães com crianças da primeira infância (de 0 a 6 anos) para contar suas histórias, cotidianos e dificuldades dentro da metrópole.

“Quando nós temos uma cidade que tem a medida dessas crianças, que parta delas, elas podem servir para todos.” É o que afirmou a professora Marcia Aparecida Gobbi, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), ao defender uma cidade que inclua mais as crianças em sua estrutura.

A produção do documentário fez parte do curso “Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo”, promovido pelo Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais (IPFD), em parceria com a OBORÉ Projetos Especiais, no âmbito do Projeto Repórter do Futuro. Junto à produção sobre o acesso à cidade pelas crianças, mais 18 obras inéditas sobre São Paulo foram realizadas. Para conhecê-las, basta clicar aqui.

“Se a cidade fosse minha” pode ser assistida gratuitamente no YouTube. Confira: https://www.youtube.com/watch?v=zqA78fLnN60

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