Por José Roberto Torero*, governar é que nem ser pego com batom na cueca: o importante é negar e inventar uma desculpa.
Por exemplo:
1-) Mortes pela covid.
Nunca que eu vou assumir que ajudei a ter 170 mil mortos por covid porque mandei todo mundo ir pra rua, falei que a máscara não adiantava quase nada e não fiz um plano nacional de combate. Vou é botar a culpa nos governadores e prefeitos.
É mais ou menos como dizer: “essa cueca tem as iniciais J.M.B. mas não é minha. Deve ser de algum João Martins Batista”.
2-)Centrão.
Nunca que eu vou assumir que estou fazendo justamente o que eu disse que ia combater: o tomaladacá com o Centrão. Vou falar que todas as minhas nomeações são técnicas.
É mais ou menos como dizer: “acho que foi a lavadeira que achou a cueca tão bonita que deu um beijo nela.”
3-) Inflação.
Nunca que eu vou assumir que as causas do aumento de preço dos itens de alimentação são a alta do dólar e a falta de estoque regulador, que eu e o Temer deixamos acabar. Vou colocar a culpa no tal do “fica em casa”, que impediu o pessoal de produzir mais.
É mais ou menos como dizer: “Isso não é batom, é que eu menstruei.”
4-)Rachadinha.
Nunca que eu vou assumir que o Flavinho é culpado e que, sabendo disso, eu estou mexendo os meus pauzinhos pra livrar o garoto. Vou falar que é tudo perseguição política só porque ele é meu filho.
É mais ou menos como dizer: “Olha só que engraçado: lavei a cueca com uma roupa vermelha e a mancha ficou exatamente no formato de uma boca!”
5-) Racismo.
Nunca que eu vou assumir que o Brasil é racista e que morremuns cem negros assassinados por dia. Vou é falar que a esquerda quer jogar uns brasileiros contra os outros pra desestabilizar o meu governo.
É mais ou menos como dizer: “Batom? Não tem nada aí. Você deve estar com problema nos olhos. Vamos num oculista agora mesmo!”
Enfim, Diário, esse é o conselho que eu vou deixar para a posteridade. Se encontrarem batom na sua cueca, negue e dê uma desculpa. Nem precisa ser boa, porque, se a esposa quiser acreditar, ela acredita em qualquer negócio. E eu falo isso por experiência própria, porque eu já fui casado um monte de vezes, talkei?
*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.
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