O Youtuber e palestrante conhecido como Chavoso da USP assistia um show durante a Virada Cultural na Brasilândia, zona norte de São Paulo, quando foi parado por Policiais Militares.
O professor, Youtuber, palestrante e estudante Thiago Torres, conhecido nas redes sociais como Chavoso da USP, foi agredido junto a um amigo, Guilherme, por três policiais militares no entorno do show do Emicida, Drik Barbosa e Rashid na Brasilândia, bairro da zona norte de São Paulo, neste domingo (28). Ambos são jovens negros.
Como foi a violência
Segundo Thiago “o show ainda estava rolando. Eu estava me sentindo cansado e me afastei um pouco para descansar com meu amigo Guilherme, mas não fomos muito longe. De repente três PMs [que estavam a pé] nos abordaram, já com agressividade, puxando a gente pela camisa, eles encontraram um cigarro de maconha com meu amigo e começaram a xingar de várias coisas “arrombado”, desgraçado”, “verme”, lixo do caralho” etc. “Ele [um dos PMs] mandou meu amigo a comer a maconha e ele se recusou. E começaram a enforcar rasgaram a blusa dele. Além de empurraram e darem dois chutes nas pernas”. Thiago gravou parte da abordagem. Os PMs então passaram a revistar e xingá-lo. Após constarem que não havia nada foram liberados.
Mas em seguida foram novamente abordados “dessa vez vieram com mais agressividade para cima de mim. Souberam que tinha filmado eles, não sei como. Perguntaram seu eu achava que eles eram palhaços. Começaram a chutar minhas pernas. E um PMs me deu um socão entre as pernas, ainda estou com dor! Pegou meu celular falando que iria verificar se era roubando, mas passou a olhar meu whatsapp e mandou mostrar o vídeo que havia gravado. Peguei o celular e bloqueei. Falei que não ia mostrar o vídeo porque não era obrigado e tinha o direito de gravar a abordagem.” Thiago relembrou aos policiais que toda a abordagem estava incorreta “falei que ele sequer tinha o direito de nos abordar, porque ele precisava ter uma fundada suspeita para isso, e ele não tinha. Só usou de um preconceito pela nossa aparência para nos abordar, enquanto vários brancos estavam lá fumando maconha e não eram abordados. Obviamente só tive coragem de falar essas coisas porque estava ali no show e com testemunhas (vários trabalhadores da Virada presenciaram). Se fosse na favela não teria coragem de fazer isso”. Os PMs também ameaçaram a forjar os dois “[um dos PMs] perguntou se eu já tinha sido preso. Disse que não, ele então disse que eu iria preso hoje, porque ele iria me forjar com drogas e levar a gente. Perguntam com o que eu trabalhava, falei que era professor. Os três deram risadas e debocharam falando ‘pra ver o nível da educação no Brasil’”. Os dois só foram liberados depois que Thiago falou sobre o canal “falei para ele pesquisar o canal ‘Chavoso da USP’, não sei se ele pesquisou, porque eu estava de costas, mas pouco depois liberam a gente. Quando acabou o enquadro eles falaram pra gente ir embora, disseram ‘acabou a festa de vocês, pega as coisas e vão embora, a saída é pra lá’. Então ele eles meio que obrigaram a gente a ir embora do show. Mas eu não vou deixar que isso aconteça, tanto é que eu falei pro meu amigo ‘a gente não vai embora a gente só vai dar a volta e depois a gente vai voltar’”.
A importância de filmar
Perguntado sobre a importância de filmar a abordagem, mesmo correndo risco ele explica “nem sempre vai ser possível filmar. A lei diz que a gente pode, que a gente tem esse direito, mas como eu também comentei, Estado Democrático de Direito é uma lenda urbana. Então, apesar da lei dizer uma coisa, a prática diz outra. Na grande maioria dos casos, se a gente for filmar uma abordagem, com os policiais vendo. ainda mais se for a própria abordagem, é completamente é impossível. Porque com certeza a gente vai sofrer violências, eles vão quebrar o celular. Se for possível filmar a abordagem, é mais uma recomendação para quem está de fora. Porque eu senti medo de verdade. Quando eles falaram que iam me forjar, eles realmente falaram que iam plantar drogas. Se eles realmente fossem plantar droga na gente, só consegui pensar que eu ia gritar! Gritar pro pessoal que estava ao redor que eles estavam forjando a gente, pedir pra alguém filmar e fazer alguma coisa então por isso que é importante que as pessoas fiquem atentas, acompanhando o que está acontecendo”.
Também negou que iria deixar de frequentar a virada “eu vou na virada desde 2017. As pessoas tem medo de ir à Virada Cultural no centro por causa de roubo. Eu nunca fui roubado em nenhuma virada e a violência que eu sofri foi da polícia. Estava assistindo o jornal falando sobre a Virada Cultural reforçando que teve bastante policiamento que as pessoas estavam sentindo mais segurança por causa disso. Com a gente foi exatamente o contrário, mais policiamento ali fez a gente se sentir inseguro. Quem supostamente está ali para fazer a segurança de quem está no show, prevenir brigas, assaltos. Eles estavam preocupados em agredir. Dois jovens negros, periféricos. Pretendo continuar indo sim [na Virada], acho que isso de forma alguma vai me impedir de ir”.
Chavoso de USP e a perseguição
Não é a primeira vez que uma ação arbitraria e violenta pelas forças policiais é cometida contra Thiago. Ele já teve sua foto incluída em um álbum usado para reconhecimento de suspeitos em um inquérito policial que investiga um caso de sequestro na cidade.