Uma visita ao novo Museu do Ipiranga

Após 9 anos, prédio passa por reformas e abre as portas ao público prometendo muitas novidades
Imagens do Museu do Ipiranga. [Imagem: Reprodução/Governo de São Paulo]

O Museu do Ipiranga volta a abrir as portas nesse bicentenário da independência. Já são nove anos que o prédio está com as portas fechadas para o público. Em 2013, quando foi fechado, o museu apresentava diversas rachaduras e umidade por trás da tinta plástica, o que não deixava que as paredes respirassem. Além disso, as paredes internas, feitas de tronco de palmeira juçara e argamassa (em vez de tijolos) estavam se desmanchando. Nesta terça (24), os Jornalistas Livres estiveram no museu em uma visita guiada patrocinada pelo canal History. Muita coisa mudou desde 2013, mas o clima ainda é de obras, e são muitas. Até o dia 7, entretanto, a assessoria de imprensa do museu promete que todas as reformas estarão concluídas.

Entrando no Museu do Ipiranga, que ainda está em reformas – Arquivo pessoal

A visita começou pela lateral, na rua Xavier de Almeida, onde o barulho de furadeiras e algumas dezenas de trabalhadores tomavam conta do espaço. Do lado de fora, a atmosfera era preenchida pela correria desses homens que receberam a tarefa de finalizar todas as obras até o dia 7. Já, dentro do prédio, o ambiente era mais tranquilo, com algumas salas ainda em reforma e panos cobrindo partes inacabadas.

No salão nobre, onde fica o grande quadro de Pedro Américo, “Independência ou morte”, o chão de madeira, que antes estava aprodecido, já está completamente restaurado. Os quadros, reformados, aparentam terem sido pintados ontem. Para quem pisou no museu pela última vez em 2013, será uma surpresa entrar nesse novo espaço. Através da parceria com o canal History, agora o museu também terá um tour virtual, mas a grande novidade está no monitor interativo ao lado do quadro de Pedro Américo.

“Independência ou Morte”, quadro de Pedro Américo restaurado – Foto: Emanuela Godoy

Com a promessa de se tornar o museu mais acessível do país, todas as exposições terão apoios tecnológicos que permitem a acessibilidade, como libras e audio descrição. Pisos táteis, que auxiliam na locomoção de deficientes visuais, já foram incorporados no edifício. E placas em braile também estão entre as novidades.

Em 2013, o museu apresentava apenas 15 salas. Agora, com a reabertura, serão 49 no total. Durante as reformas, foram feitas escavações debaixo do prédio, que inclusive trouxe novas descobertas arqueológicas. Através delas, o museu dobrou de tamanho. Foi construído um prédio moderno na parte de baixo do antigo edifício com uma área expositiva de 900m². Esse novo espaço, que será ligado ao antigo por meio de uma escada rolante, receberá as exposições temporárias de outros museus, que exigem uma climatização que o prédio original não pode ter para não afetar as paredes de argamassa. Além disso, nessa nova ala abrigará salas educativas, auditório, uma livraria, e um restaurante.

Haverá 12 exposições quando o museu abrir. A “História do Brasil” é uma das exposições que o público poderá ver a partir do dia 8. No saguão nobre e no salão nobre, figuras histórias como Maria Quitéria, José Bonifácio, dom Pedro entre outros, poderão ser vistos em telas pintadas por artistas brasileiros e estrangeiros. As outras exposições foram divididas em dois grandes grupos: “Para conhecer o museu” e “Para conhecer a sociedade”. Já o prédio novo, no subsolo do museu, será inaugurado com a exposição “Memórias da Independência”, que traz o evento com a perspectiva de diferentes lugares do Brasil, como Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

Qual história o novo Museu do Ipiranga traz?

Com o espaço físico do museu restaurado, resta a pergunta: e a história? Originalmente, o edifício foi pensado como um monumento da Independência, tendo o quadro de Pedro Américo como seu principal artefato. Agora, com a reabertura, o museu terá uma leitura crítica do próprio espaço? Que história será contada? Essas são algumas perguntas que os novos visitantes devem fazer.

O quadro de Américo foi encomendado por dom Pedro II como forma de exaltar a própria monarquia, que, na década de 80 do XIX, já estava em ruínas. A obra ficou pronta apenas em 1888, no fim do Segundo Reinado, às vésperas da proclamação da República. Ficou, entretanto, carimbado no imaginário brasileiro a ideia de que essa imagem representava a Independência em si, como se o grito de um único homem tivesse sido capaz de conduzir esse evento. Nessa narrativa, seria uma conquista pessoal de dom Pedro a fundação da nação. Essa perspectiva dos heróis, e dos grandes homens, que a pintura de Américo simboliza e que o museu carrega em suas paredes, foi responsável por calar, durante anos, os demais gritos da independência. Com o trabalho de novos historiadores, que buscam trazer as outras faces da independência, como a participação indígena, negra, feminina e popular, as paredes da história também foram abaladas.

O vice-diretor do museu, Amâncio Jorge de Oliveira, que conduziu a visita guiada, contou um pouco sobre as novidades. Na exposição “Para conhecer a sociedade”, serão exibidos utensílios domésticos e objetos sobre o trabalho, que trarão a vivência de pessoas comuns. Já sobre a Independência, Amâncio diz que, na reabertura, o museu buscará trazer novas abordagens sobre o evento, através das perspectivas de grupos oprimidos, como os negros e as mulheres.

“São outras faces do país, que não temos como não trazer à tona”. (Amâncio Jorge Oliveira)

SERVIÇO: Onde? R. dos Patriotas, 20 – Vila Monumento, São Paulo – SP, 04261-05; Horário(s) Terça a domingo, 9h às 17h; Acesse: https://museudoipiranga2022.org.br/eventos/

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