Os organizadores dos Jogos de Tóquio em tempos de pandemia estão tentando de tudo para impedir que os atletas façam sexo durante as duas semanas de competições. Como se, ao proibir sexo, fosse possível evitar, ou mesmo minimizar, o contágio pelo coronavírus. Para isso, seria necessário que o torneio não fosse realizado. Já existem relatos de 127 atletas que testaram positivo para a doença na Vila Olímpica. Agora, como diz o ditado, Inês é morta.
Para conter os hormônios em ebulição, os japoneses colocaram em todos os quartos camas de papelão (como se a atividade sexual fosse praticada apenas nesse recanto…) e distribuíram um manual de instruções que aconselha os atletas a “evitar formas desnecessárias de contato físico, como abraços, cumprimentos e apertos de mão”.
Menos, minha gente. Cá entre nós, só posso desejar boa sorte aos meticulosos e higiênicos japoneses. Duvido que a abstinência sexual seja uma prática adotada pela legião de mulheres e homens jovens, no auge de suas formas e performances físicas, concentrados em Tóquio. Nem mesmo a pandemia da Covid-19 poderá impedir a aproximação entre todos os gêneros.
“Sabemos que as estratégias apenas de abstinência não têm sido historicamente eficazes na prevenção da transmissão de infecções sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV”, disse Alex Keuroghlian, diretor do National LGBTQIA+ Health Education Center no Fenway Institute, um centro de saúde comunitário em Boston, ao site Outsports.
“Na verdade, trata-se de informar às pessoas quais são os riscos e fornecer uma noção do grau de risco de diferentes tipos de intimidade e atividade sexual”, acrescenta Keuroghlian.
Além da proibição de contato físico, o consumo de álcool também foi vetado na Vila Olímpica. Os organizadores já avisaram que vão distribuir as cerca de 160.000 camisinhas (contra as 450.000 entregues na Rio-2016) apenas quando os atletas forem embora do país, para serem levadas para casa como souvenir. Alguém bota fé nisso?
Fico aqui a imaginar o contrabando de saquê, preservativos e lubrificantes que a essa altura já deve correr solto entre os atletas. Mais: é impossível acreditar que não haverá contato físico em solo japonês entre 11.687 atletas de 204 países, incluídos aí a equipe da Rússia, banida dos Jogos por causa do escândalo do doping, mas que compete sob a bandeira do Comitê Olímpico Russo, e o Time Olímpico de Refugiados.
Autora do livro “Vitória”, que escreveu com Nicolau Creti, a jornalista Cida Santos relembra uma passagem sobre a seleção masculina de vôlei, que conquistou em Barcelona-1992 a primeira medalha de ouro olímpica em um esporte coletivo para o Brasil.
“Animadas pelas sucessivas vitórias na fase de classificação, as jogadoras da CEI (Comunidade de Estados Independentes, criada após o fim da URSS), alojadas em frente ao prédio onde ficavam os meninos da seleção, brindavam os jogadores mandando beijinhos e tirando as roupas”, conta Cida. “Entre aplausos e gritinhos, para delírio dos brasileiros, elas prometiam novo strip-tease a cada conquista delas na quadra”, recorda Cida.
Em entrevista ao Outsports, a patinadora canadense
Anastasia Buscis, lésbica publicamente assumida, diz que o fervor sobre a Vila Olímpica ser um viveiro de sexo é exagerado – pelo menos por experiência própria.
“Misturar-se é mais do que sexo, acredite ou não. Alguns atletas LGBTQIA+ que estarão em Tóquio moram em países onde não estão protegidos. Se querem mesmo adotar medidas de distanciamento social eu adoraria ver os organizadores compensarem as restrições tendo uma forma específica e dedicada de reconhecer os atletas LGBTQIA+ e deixá-los socializar, mesmo virtualmente”, diz Buscis.
Link do manual
https://gtimg.tokyo2020.org/image/upload/production/xibscdw6nfsl994awcdq.pdf