NOVO RECORDE: 163 atletas LGBTQIA+ nos Jogos Olímpicos de Tóquio

Do futebol ao vôlei, Brasil leva ao Japão 14 esportistas que assumiram publicamente sua orientação sexual
Assumidíssimo: Douglas Souza com o namorado Gabriel
Assumidíssimo: Douglas Souza com o namorado Gabriel

Os Jogos Olímpicos de Tóquio já têm o seu primeiro recorde: ao menos 163 atletas gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros, queer e não-binários estarão presentes em Tóquio defendendo as cores de seus países. É quase o triplo do número que participou dos Jogos do Rio, em 2016.

Por Sérgio Kraselis

Foi-se o tempo de ficar escondido(a) dentro de um armário. A Olimpíada que começa oficialmente nesta sexta-feira (23) no Japão reúne esportistas de cinco continentes que assumiram publicamente sua orientação sexual.

O levantamento foi feito pelo Outsports, um site de notícias esportivas fundado em 1999 com foco em questões LGBT e em personalidades do esporte profissional e amador. Os EUA lideram com 30 atletas, seguidos pelo Canadá (16), Grã-Bretanha (16), Holanda (16), Brasil (14), Austrália (12) e Nova Zelândia (10).

O Brasil está representado com Marta da Silva, Andressa Alves, Bárbara Barbosa, Formiga, Letícia Izidoro e Aline Reis (futebol feminino), Izabela da Silva (atletismo/disco), Babi Arenhart (handebol), Isadora Cerullo (rúgbi), Silvana Lima (surfe), Ana Marcela Cunha (natação), Ana Carolina, Carol Gattaz e Douglas Souza (vôlei).

Na estreia da seleção feminina de futebol, Marta comemorou um dos dois gols que marcou na goleada de 5 a 0 sobre a China fazendo um “T” com os braços. “É uma homenagem para Toni”, disse a atacante ao final da partida, referindo-se a Toni Pressley, a namorada americana da brasileira. “Eu tentei fazer no primeiro gol, mas uma galera me abraçou e não deu jeito. Aí saiu mais um pra coroar e pude fazer essa homenagem pra ela”, afirmou.

Quem promete ser a verdadeira sensação entre o público de todos os gêneros é o ponteiro Douglas Souza, da seleção masculina de vôlei. O jogador é a nova estrela das redes sociais e já reúne mais de 1,4 milhão de seguidores no Instagram e mais de 116 mil fãs no Twitter.

Os vídeos postados pelo jogador viralizaram nos últimos dias. Um desfile improvisado por ele durante um treino da equipe, no qual faz um catwalking, aquele andar típico de passarela em que as modelos colocam um pé à frente do outro e a cintura não para quieta, teve 1,3 milhão de visualizações.

Bem-humorado, Douglas tem postado vídeos divertidos, entre eles um em que prova os três uniformes da equipe.

“Gente, eu gostei da amarelinha. Ficou tudooo! Eu a-do-rei a branca, é a minha preferida. O azulzinho é bafo”, comenta. Hoje ele estreia seu canal no YouTube, que já conta com 12,3 mil inscritos e no qual diz que “vai ter bastante conteúdo legal” durante a Olimpíada.

Em entrevista recente à “Folha de S. Paulo”, Douglas disse que se considera a “prova viva de que um LGBT pode jogar no alto nível, como um hetero”. Ao Globo Esporte foi mais além: “Eu levanto bandeira, sim. Nas minhas redes sociais sempre tem coisas lá em dias comemorativos, em dias de luta. Eu me posiciono sempre em prol da comunidade, me posiciono só de estar na seleção, de dar a minha cara a tapa para todo mundo”.

Ao jornal “O Globo”, o técnico Renan Dal Zotto disse que se sente feliz com o sucesso de Douglas nas redes, mas que todos os jogadores foram orientados a não postar mensagens em tom político durante a Olimpíada.

Recentemente, a jogadora Carol Solberg gritou um “Fora Bolsonaro” , após um jogo no Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, enquanto Wallace e Maurício Souza se deixaram fotografar fazendo referência ao então candidato Jair Bolsonaro à presidência. Douglas já recusou fazer lives com Maurício, e mandou um direto no queixo do colega de time: “Só vou te aceitar se o Bolsonaro cair hoje!”

“Tivemos problemas externos, políticos, de ideologia, no passado. Foi público. Não vamos entrar nessas questões políticas”, diz Renan, que faz questão de elogiar seu jogador. “Douglas é um garoto sensacional. Um cara sensível, puro e tudo o que faz, faz de coração. Quando ele treina, treina com o coração. Hoje ele é um dos melhores ponteiros do mundo”.

Jornalistas assumidos na cobertura

Diante do número de atletas LGBTQIA+, repórteres de todos os cantos do mundo, que também são publicamente assumidos, vão estar na cobertura dos Jogos. A NBC, emissora de TV americana, terá uma das maiores equipes, com vários repórteres e locutores abertamente gays, entre eles Shepard Smith, Steve Kornacki, Johnny Weir, Kate Scott, Gus Kenworthy e Chase Cain.

O Brasil não ficou de fora na área do jornalismo. Bicampeã olímpica pela seleção brasileira e considerada a melhor líbero da história do vôlei feminino, Fabi Alvim vai comentar para a TV Globo os jogos do time. Casada há sete anos com Julia Silva, gerente de seleções da Confederação Brasileira de Vôlei, elas têm uma filha chamada Maria Luiza.

Em entrevista ao site Hypeness, Fabi disse que comentar os Jogos Olímpicos é um marco, assim como poder jogar uma Olimpíada. “É uma responsabilidade enorme pegar o microfone e se comunicar com as pessoas que estão assistindo em casa, ainda mais sabendo que os Jogos Olímpicos são um momento de maior audiência do esporte. Venho me preparando para contribuir e viver esse sonho”, afirmou.

Pela primeira vez na história dos Jogos, o mundo tambem assistirá a estreia de uma atleta transgênero. Laurel Hubbard, da Nova Zelândia, vai competir na categoria feminina no levantamento de peso acima de 87 kg. Ela chegou a disputar torneios masculino antes da transição.

Estádios sem público

Previstos para 2020, devido à pandemia da Covid-19 os Jogos Olímpicos acontecem um ano depois em meio a uma onda de protestos. Pela primeira vez, não haverá público em Tóquio, nem mesmo de japoneses. Seiko Hashimoto, presidente do Comitê Organizador, sintetizou a ausência numa frase, bem ao estilo nipônico: “Peço desculpas a quem comprou ingressos”.

Para tentar evitar um novo surto pandêmico, o governo japonês decretou pela quarta vez o estado de emergência na capital, até o dia 22 de agosto. A Olimpíada acaba no dia 8.

COI abranda regra para protestos

O Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou que a Regra 50.2 da Carta Olímpica, que fala sobre o direito dos atletas se manifestarem durante os Jogos, será ampliada.

“Ao expressar suas opiniões, os atletas devem respeitar as leis aplicáveis, os valores olímpicos e os demais atletas. Deve-se reconhecer que qualquer comportamento e/ou expressão que constitua ou indique discriminação, ódio, hostilidade ou potencial para violência em qualquer base é contrário aos Princípios Fundamentais do Olimpismo”, diz a regra.

Agora, a partir de Tóquio, protestos estão autorizados antes do início das competições. Nos pódios, manifestações continuam proibidas, sejam elas políticas, raciais ou religiosas, sendo o atleta punido se não cumprir a regra.

88 atletas militares brasileiros

A delegação brasileira terá 301 atletas que irão competir em 35 modalidades. Entre eles, 88 são militares: 42 pertencem à Marinha, 26 ao Exército e 20 à Força Aérea Brasileira. Alvo de polêmica nos Jogos do Rio, o ato de bater continência no pódio em caso de conquista de medalha deverá ser novamente realizado em Tóquio.

Como são patrocinados pelas Forças Armadas, o gesto é tido como uma demonstração de agradecimento ao apoio. Mas não existe orientação dos militares. Os atletas são livres para prestar ou não continência. Vamos ver como isso acontecerá na prática.

PS: Depois das camas de papelão na Vila Olímpica, o Comitê Organizador da Olimpíada avisou que não distribuirá camisinhas aos atletas. Estava prevista a entrega de 160 mil preservativos. No Rio 2016, foram entregues 450 mil camisinhas. Alguém em sã consciência acredita que a medida vai impedir essa população sarada de transar após competir? Façam suas apostas.

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COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. Oi amigos, parabéns pela matéria, sensacional! Imagino que vocês estejam se referindo a cobertura televisiva, mas se for algo geral podem me incluir na lista de jornalistas assumidos na cobertura! Inclusive a primeira fala do Douglas foi em resposta a uma pergunta que eu fiz na coletiva! Abraços e sigamos na luta! Mateus Nagime, Surto Olímpico

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