“A imprensa toda brasileira, sem exceção, está apoiando [a reforma da previdência], então a hora é agora”.
A legenda da foto principal da capa da “Folha” de hoje (13/12) é uma confissão de culpa. A frase, alinhavada de maneira canhestra, como é típico do autor do livro “Anônima Intimidade” (Michel Temer), revela o óbvio. Temer, com seus 3% de popularidade (a mais baixa de toda a história pós-Ditadura Militar), tem a seu lado, como sempre em notável antagonismo ao povo brasileiro, a totalidade da imprensa corporativa do Brasil –leia-se Globo, Folha, Abril, Estadão e parceiros menores.
Junte-se a isso o apoio da Fiesp, do latifúndio e dos bancos, aliados ao Congresso mais reacionário de que se tem notícia na história. Bem, todo esse monstro repugnante levantou-se como um titã cruel para esmagar os velhos, os doentes, os aleijados, os deficientes de todas as ordens, os loucos, os mais frágeis –a camada sofrida que precisa, como condição existencial, da Previdência pública.
Trata-se de um embate interessante. De um lado, os que tudo podem. Que podem matar, que podem legislar, que podem corromper e ser corrompidos, que prendem, que exploram, que destroem. Os que podem quase tudo, porque a Justiça, afinal, está aí para proteger os apetites mais sanguinários desses poderosos. De outro lado, uma farândola de miseráveis.
Então, como é possível que essa Reforma da Previdência não passe nem a pau? E que Temer, esse ridículo fantoche, tenha de rastejar pra pedir aos ricos e aos boçais que se engajem na aprovação do projeto antipovo que é acabar com as aposentadorias?
A “greve geral” do dia 5 de dezembro, depois transformada em “paralisação”, que depois se tornou “dia de luta”, e que foi fraquinha –reconheçamos–, não ajuda a entender essa lengalenga na aprovação da Reforma da Previdência.
Aliás, uma greve geral que sangra sem combate deveria antes açular os ânimos das hienas. Mas não é isso o que se vê. Ao contrário, as hienas parecem perdidas.
Desde antes do golpe que derrubou a presidenta Dilma, e face à fraqueza e hesitação da direção petista, sempre na defensiva diante dos ataques dos “Justiceiros” do TRF-4 e da Lava Jato, novos guerreiros vêm se colocando à disposição para a luta contra os retrocessos.
São as Mulheres, os Negros, os Gays, as Lésbicas, @s Trans, a Juventude, os Movimentos de Moradia, os Artistas, entre outros. Não, eles não substituíram as organizações tradicionais do povo pobre e oprimido. Mas somaram-se em toda sua diversidade a elas. Avolumaram, com seu entusiasmo e mobilização, as passeatas, os atos públicos, as lutas de rua. Gritaram palavras de ordem novas, civilizatórias e tão necessárias a um governo de esquerda. Empolgaram e furaram a bolha do petismo e do sindicalismo, oriundos dos anos 80.
Rejuvenesceram a agenda da esquerda.
Pois esse exército de milhões, a quem a agenda neo-liberal não consegue cooptar é o Alfa e o Ômega da situação política hoje. As mulheres já fizeram o movimento contra a Carestia, lá no finzinho da Ditadura Militar, que foi o sinal vermelho para o regime. Saques diários em supermercados e outras ações diretas sinalizaram que a situação precisava mudar. E mudou.
Pois essa potência mobilizadora pode-se colocar em movimento a qualquer momento.
O calendário eleitoral sinaliza um 2018 de grandes disputas e enfrentamentos, a principal delas sendo a vigência da própria Democracia. Porque haverá os que tentarão vetar a participação de Lula. E os que pensarão em cancelar o pleito, ante o cenário de uma derrota histórica e fragorosa. Haverá os partidários de uma fraude monstruosa da vontade popular. E haverá os aventureiros e as vivandeiras de sempre, alvoroçadas, indo “aos bivaques bulir com os granadeiros e causar extravagâncias ao poder militar”, como definiu o marechal Humberto de Alencar Castello Branco, primeiro Ditador Militar, sobre tipos como os apoiadores de Bolsonaro.
E há o povo. Organizado e o desorganizado.
A luta contra o impeachment da presidenta Dilma colocou em movimento novos atores e eles precisam estar na trincheira da luta pela Democracia e por Direitos no ano que vem. Isso significa abrir um debate com esses setores emergentes, visando a estabelecer parcerias e até candidaturas que representem esses segmentos.
Não é possível que os partidos de esquerda queiram defender a Democracia ameaçada apresentando às eleições apenas homens, brancos, com mais de 50 anos, aqueles mesmos que hegemonizaram as candidaturas petistas dos anos 80-90.
A diversidade é condição essencial para a vitória da Democracia diante dos duros desafios que temos pela frente.