Na porta do céu pediu um copo d’agua

Essa noite, sonhei com astronauta olhando Terra plana, sem rios e um monte de homens em seus  ternos pretos, sentados numa grande mesa, num leito de areia do que fora o rio Juruena, ouvindo Bob Dylan cantando Knockin’ On Heaven’s Door (batendo na porta do céu).

Mamãe ponha minhas armas no chão / eu não posso mais usá-las / essa fria nuvem negra está descendo / me sinto como se eu estivesse batendo na porta do céu.

Quando levantei da cama recolhi os jornais da semana jogados sobre a mesa, ainda assino jornais e revistas.  Manchetes denunciam que aproxima-se a conferência do clima, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontecerá de 1º a 12 de novembro em Glasgow, na Escócia. Também o capitão Kirk, o ator William Shatner, voou ao espaço, na cápsula New Shepard, sem piloto, da empresa Blue Origin, do bilionário Jeff Bezos. Confirmou que a Terra é uma esfera azul, no plano escuro do infinito cheio de astros. 

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Aqui, seguimos sem piloto mesmo, enquanto avança a grilagem das terras a custo das árvores, tão velhas, e rios, tão fartos. Nossa economia cada vez mais assenta-se no agronegócio e aumento de produção e lucro com uso intensivo de agrotóxicos Não só na Amazônia tombam as árvores, mas na Mata Atlântica, caatinga e cerrado. Estamos num pântano, com crianças indígenas sendo sugadas por dragas de garimpeiros e nuvens de terra vermelha que tingem o céu em várias cidades, enquanto os rios desaparecem, secando em pranto, barrados em pequenas centrais hidrelétricas na produção de energia. Vivemos numa Bienal de arte às avessas, somos a vanguarda dos disparates da razão.

Os rios nascem nos olhos d’água, no chororô das chuvas, no soluço de leitos e encontro das águas. No abraço das florestas, tínhamos um país de bacias, agora tudo mostra sua fragilidade.

Batendo na porta do céu estamos.