O presidente Lula realizou uma reunião com a imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta sexta-feira (27). A falta de jornalistas e mídias negras na reunião segue demonstrando a superficialidade da esquerda brasileira na temática. Ele, Lula, e a reunião com jornalistas brancos.
A PRIMAVERA NEGRA ACABOU
O distanciamento do assassinato de George Floyd e Marielle Franco tem trazido consequências palpáveis à estrutura de poder: A perda e os desligamento de pessoas racializadas em cargos de alta liderança da empresas; a escassez de novas oportunidades inclusivas e o declínio do investimento (já baixo) do programas de equidade e justiça social.
É sobre isso que fala o artigo americano da NBC: “Os cargos de diversidade desaparecem 3 anos depois que o assassinato de George Floyd os inspirou” (clique para abrir o artigo).
É sempre importante lembrar que dentro do capitalismo a principal faceta do racismo é o bloqueio da mobilidade social. Dentro desta estrutura, a negação da possibilidade de recursos e a restrição de acesso a renda são as formas mais eficazes de extermínio indireto de uma população e comunidade. Não é somente sobre matar mas sobretudo sobre deixar morrer.
A ideia completamente falsa e vazia da meritocracia é a pedra fundamental da normalização da segregação. Como diz Cida Bento: “A meritocracia é um dos meios para a perpetuação do pacto da branquitude. O mérito é usado como justificativa para a permanecia dos brancos no topo da pirâmide social.
O RACISMO SIMPÁTICO – LULA E A REUNIÃO COM JRNALISTAS (BRANCOS)
Com a estruturas politicas se reorganizando e fragilizando ainda mais os já vulneráveis projetos de reparação e justiça social, a branquitude progressista se elabora em mais uma tecnologia: O racista simpático.
Robin DiAngelo em seu novo livro: “Racismo do Bem” – ainda sem tradução em português – diz claramente: Brancos progressistas não se sentem parte do problema e são peças chaves na perpetuação do sistema: são as pessoas que estão na posições de poder.
Lula recebeu críticas após realizar uma reunião com a imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta sexta-feira (27). As plataformas e mídias negras ficaram de fora. Imagina a quantidade de pessoas brancas antirracistas que assistiram toda essa articulação sem perceber que havia algo errado. Vejam a postagem do portal Mundo Negro abaixo:
O Presidente Lula recebeu críticas após realizar uma reunião com a imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta sexta-feira (27). Às vésperas do novembro negro, as imagens mostraram Lula cercado por jornalistas brancos. https://t.co/CCEP4b5m8I
— Mundo Negro (@sitemundonegro) October 27, 2023
NOVEMBRO: SEJA AGENTE DO DESCONFORTO
Quais atitudes estão sendo tomadas para promover de fato mudanças na estrutura? Você aliado e pessoa branca: O que tem feito para movimentar as estruturas? Quais são as atitudes que te fazem se considerar um antirracista?
A grande maioria dos eventos sobre diversidade são desenhados para evitar conflitos raciais e estão a serviço das expectativas e conforto da branquitude. Ninguém deveria estar confortável em um sistema que se fortalece no extermínio de parte da sociedade a todo o tempo. Em estado de guerra, todo mundo perde.
“A questão racial continua sendo o único tópico de problemáticas sociais que constantemente é sugerido como solução o fim de seu próprio debate” diz o radialista afro-americano Jay Smooth. Alguém já imaginou esta ideia sendo aplicada à violência doméstica, suicídio, estupro e pedofilia?
A branquitude progressista sempre se sentiu distante do problema discursando sempre em terceira pessoa enquanto as 530 células supremacistas se fortalecem no Brasil. São estas pessoas estão nas mesas de reunião tranquilamente rodeados de pessoas brancas.
O silencio dos “aliados” deve sempre ser considerados solidariedade branca e pacto de poder, jamais um simples descaso.
O que você tem feito para promover pessoa negras ao acesso ao capital? O que você faria se estivesse com Lula e a reunião com jornalistas (brancos)?
(*) Antonio Isuperio é arquiteto brasileiro, negro, periférico, lgbt+ que mora em New York. Ativista de direitos humanos por quase 15 anos, é filho de empregada doméstica e graduado em Arquitetura pela Universidade Estadual de Goiás, com MBA em varejo pela FGV-SP. É especialista em Design de Varejo e pesquisa e tendências de futuro e membro do Núcleo Negro do Jornalistas Livres