Jornalistas no Pará sofrem ameaças após reportagem sobre grilagem de terras

Denunciar a destruição da Amazônia, e qualquer tipo de violação de direitos humanos, no Brasil, nunca foi fácil, mas depois que Jair Messias Bolsonaro foi eleito presidente da república, as coisas pioraram muito. Alinhados com Bolsonaro, grileiros de terras públicas, desmatadores e garimpeiros ilegais, têm se sentido à vontade para destruir o Bioma Amazônico. Quem se opõe a estes criminosos e os denuncia, sofre todo tipo de ameaças – inclusive de agentes do Estado , ou perde a vida.

Após publicação de reportagem denunciando grilarem de terras públicas, integrantes do Tapajos de Fato, veículo independente focado em direitos humanos e questões socioambientais, passaram a ser perseguidos e ameaçados, inclusive pela polícia, conforme nota divulgada pelo veículo, que recebeu apoio do Sindicato dos Jornalistas do Pará, dentre outras organizações.

Os Jornalistas Livres, que lutam por justiça social e pela liberdade de imprensa, manifestam todo o seu apoio aos profissionais do Tapajós de Fato.

Segue a nota do Tapajós de Fato, sobre as ameaças que seus integrantes vêm sofrendo:

O Tapajós de Fato é um veículo de Comunicação independente e alternativo que atua na região oeste do estado do Pará, constituído a partir da necessidade de fazer comunicação por meio de construções coletivas entre organizações do movimento social e ambiental, a partir de uma visão sobre os impactos dos grandes projetos previstos para a região, bem como, pautas que interferem diretamente  no modo de vida amazônida, entre elas: Mudanças Climáticas e a Justiça Socioambiental.

Tem utilizado as plataformas em que atua para ecoar as vozes dos povos das mesorregiões Baixo Amazonas e Tapajós, por meio de matérias, reportagens, conteúdo audiovisual e podcasts denunciando o avanço dos grandes projetos que visam o lucro, e desconsideram a existência dos povos que vivem nos territórios.

A partir de denúncias feitas pelo Tapajós de Fato sobre a venda de terras  no Projeto Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande, a equipe do TdF passou a sofrer ameaças e perseguições. Ainda no mês de junho de 2021, um carro deu ré, em direção a um dos integrantes da equipe do Tapajós de Fato, em via pública de Santarém.  A partir de agosto do ano passado, carros paravam em frente à sede TdF  constantemente, onde ficavam observando o fluxo de entrada e saída no prédio, além de fotografar o local. 

Em de dezembro,  após a prisão de um advogado, fato que foi noticiado pelo veículo, uma mulher ligou para o número pessoal do coordenador do projeto,  culpando o Tapajós de Fato de propagar fake news sobre o acontecido. A pessoa alegou saber da localização das residências dos membros da equipe do TdF, bem como, a redação do jornal. Foram inúmeras ligações que continuaram por pelo menos  mais dois dias, através de um número com DDD  de Belém.

O dia 04 de dezembro foi quando houve a tentativa de intimidação mais explícita, quando parte da equipe estava cumprindo agenda em Belém, e um homem  começou a tirar fotos, e em público, falar em tom de voz alto que o Tapajós de Fato  estava espalhando notícias falsas, citando as denúncias feitas em relação ao deslizamento de uma barragem de rejeitos de mineração da Alcoa no município de Juruti, Oeste do Pará e as questões envolvendo venda de terras no PAE Lago Grande, bem como tentando criminalizar o TdF que segundo a fala dele, recebia dinheiro de Organizações Não Governamentais, Sindicatos e Partidos Políticos para fazer este trabalho. 

No dia 21 de dezembro de 2021, o Sinjor (Sindicato dos Jornalistas) do Pará e a seção estadual da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), assinaram uma nota em repúdio às tentativas de intimidação sofridas pela equipe deste veículo de comunicação.

A nota destaca que: 

Os ataques aos profissionais de comunicação representam graves ameaças, tanto à democracia, como à liberdade de informação e expressão. Cercamentos da liberdade de imprensa serão combatidos.”

Organizações parceiras do Tapajós de Fato, como a FASE, destacam a atuação do veículo em nota de apoio: “Esta não é uma ameaça só à liberdade de imprensa, mas também a todos que lutam pela proteção da natureza e qualquer outro tipo de violação.”

A Casa Ninja Amazônia também repudiou em suas plataformas os ataques, e teve o seu conteúdo repostado, inclusive, pela Deputada Federal Vivi Reis (PSOL), e pela Secretária Geral da CUT Nacional Carmen Foro.

Em 2022 as intimidações voltaram a ocorrer, um carro seguiu o coordenador do Tapajós de Fato até o portão da sua casa, também fazendo registros. E no dia 02 de fevereiro, duas viaturas da PM pararam o coletivo que seguia para a cidade de Belterra, onde estava uma pessoa da equipe e somente ele foi mandado descer do ônibus para ser revistado, os policiais alegaram ser rotina, no entanto, a cobradora disse que nunca havia acontecido aqui. Os policiais não informaram os motivos pelos quais apenas uma pessoa foi revistada fora do ônibus.

Medidas estão sendo tomadas após estas diversas tentativas de intimidação, Boletins de Ocorrência foram registrados. O Tapajós de Fato afirma que seguirá fazendo comunicação por meio das plataformas em que atua, bem como em conexão com as organizações, coletivos e movimentos sociais e ambientais que constroem a sua história até aqui.

Saiba mais:

https://www.tapajosdefato.com.br/noticia/219/mpf-alerta-sobre-proibicao-de-negociar-terras-da-uniao-no-lago-grande

https://www.tapajosdefato.com.br/noticia/542/advogado-defensor-dede-ruralistas-e-preso-em-santarem

https://www.tapajosdefato.com.br/noticia/563/sinjor-oab-do-para-e-outras-organizacoes-lancam-nota-em-apoio-ao-tdf-apos-serie-de-ameacas-recebidas

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