Curta discute relação entre Jornalismo e Cultura em MT

Realizada pelo Coletivo Com_Texto, o documentário “Cultura é contexto” está disponível gratuitamente no canal no YouTube

O Coletivo de Jornalismo Independente Com_Texto reuniu diferentes vozes, perspectivas e atuações da cena cultural mato-grossense para debater sobre as relações entre a produção cultural e o jornalismo em Mato Grosso. O resultado dessa discussão está disponível no YouTube, no curta documentário “Cultura é Contexto!”. O material foi desenvolvido com apoio da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT), por meio do edital Movimentar Cultura.

A produção levanta questionamentos sobre o que é e quem produz cultura, como também faz provocações sobre qual a importância do jornalismo nesse processo. Além disso, o documentário fomenta o debate sobre quais os caminhos possíveis para um trabalho jornalístico alinhado ao desenvolvimento da diversidade de manifestações culturais.

Nessa conversa, compartilham suas percepções sobre o tema, a multiartista Lupita Amorim, o gestor cultural Matheus De Lucca e a produtora cultural Maria Clara Bertúlio. Participam também os jornalistas Maria Clara Cabral, José Lucas Salvani e Priscila Mendes.

Para o jornalista e membro do Coletivo, Marcos Salesse, o diálogo sobre a cobertura cultural é uma etapa importante na promoção das manifestações mato-grossenses. “Pensamos nesse documentário como uma forma de incentivar que essa discussão ocorra em diversos níveis. Tanto para os jornalistas formados ou em formação, quanto para quem produz arte ou manifesta sua cultura diariamente”, afirma o comunicador.

Durante o documentário, a multiartista Lupita Amorim revela alguns dos desafios e alternativas encontradas por ela para acessar os meios de comunicação local. De acordo com Lupita, ser uma travesti negra, da periferia, permite que ela construa manifestações artísticas baseadas em experiências que potencializam as expressões da regionalidade do estado.

Contudo, ela denuncia que esse lugar é transformado em uma posição única de narrativa, distante da percepção de um elemento de produção da cultura local. “Nosso trabalho fala sobre a nossa cidade, sobre o nosso estado e também merece esse reconhecimento”, evidencia a multiartista.

A multiartista Lupita Amorim no documentário

Já o gestor cultural Matheus De Luca destaca o lugar da cultura no cotidiano. Segundo ele, as pessoas se interessam por manifestações que estão interligadas com a sua própria identidade. Por isso, De Luca afirma que os meios de comunicação precisam se sensibilizar com as múltiplas produções artísticas que acontecem diariamente.

“De um lado a gente tem a mídia que está falando sobre a vida de uma maneira informativa, por outro a gente tem a arte que fala de uma maneira reflexiva. Então, a arte está fazendo o que a mídia não está fazendo, ela está trazendo diferentes perspectivas”, destacou o gestor.

O jornalista cultural José Lucas Salvani

Para a produtora cultural, Maria Clara Bertúlio, existem relações desiguais no processo informacional desenvolvidos por grandes veículos midiáticos. “É importante que a gente esteja criando novos espaços de mediação da cultura e principalmente dialogando com a comunidade”, afirma a produtora.

A mudança requer investimento

Para a jornalista Maria Clara Cabral, o jornalismo cultural tem uma grande capacidade de explicar as dinâmicas sociais, ultrapassando a proposta informativa e pontual. Neste sentido, a também pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Poder da Universidade Federal de Mato Grosso afirma ser preciso que haja condições favoráveis para que esse trabalho seja realizado

“O jornalismo cultural tem esse potencial de superar o fato e ir além. O grande problema do jornalismo em Mato Grosso, em geral, é a falta de contexto, e a cultura é o contexto. Então, o cenário ideal seria jornalistas terem condições e serem financiados a fazer suas produções culturais independentes e empresários conseguirem perceber o mercado de uma maneira alternativa”, explicou.

Por sua vez, José Lucas Salvani defende que haja investimento no jornalismo cultural para que seja possível um panorama com diversidade e quantidade de produções.

“Fazer jornalismo cultural de maneira independente é um caminho, mas é um caminho mais difícil do que nas redações, porque não tem recurso. E aí eu penso, se um jornalismo independente dá conta, porque uma redação, com recurso, não dá? Eu acho que falta investimento”, provoca o jornalista.

Priscila Mendes considera que a mudança está entrelaçada ao apoio desde a base, no incentivo à produção cultural, até a demanda e engajamento das produções midiáticas,

“Havendo investimento em cultura, vai ter  produção cultural; havendo produção cultural, haverá demanda. E aí a gente vai permitir que a sociedade tenha mais intimidade com isso, que ela entenda a cultura como algo do seu cotidiano. Havendo essa proximidade,  vai ter mais investimento em jornalismo cultural”, completa a jornalista.

O curta documentário “Cultura é Contexto!” foi contemplado no Edital Movimentar, da Cultura da Secretaria de Estado da Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso. Para assistir, clique aqui. Siga o Coletivo Com_Texto nas redes sociais: @com_text

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