Conquistas Históricas!

Lily Gladstone faz história no Globo de Ouro, e "O Território" conquista o Emmy Internacional!
Conquistas históricas Lily Gladstone
A celebração de marcos históricos na indústria do entretenimento, como a recente vitória de Lily Gladstone no Globo de Ouro e o triunfo do documentário brasileiro "O Território" no Emmy Internacional, sinaliza um avanço significativo na representação indígena no cinema.
Conquistas Históricas!
Lily Gladstone
Michael Buckner/Golden Globes 2024/Golden Globes 2024 via Getty Images

A celebração de marcos históricos na indústria do entretenimento, como a recente vitória de Lily Gladstone no Globo de Ouro e o triunfo do documentário brasileiro “O Território” no Emmy Internacional, sinaliza um avanço significativo na representação indígena no cinema. Contudo, esses eventos não são apenas celebrações de conquistas, mas também reflexos de um longo histórico de lutas e desafios enfrentados pelos povos indígenas na indústria cinematográfica.

Lily Gladstone, ao receber o prêmio de Melhor Atriz em Filme de Drama por “Assassinos da Lua das Flores”, não apenas fez história como a primeira mulher indígena a conquistar o Globo de Ouro, mas também destacou a importância de representar as crianças indígenas. 

Porém, é essencial reconhecer que essas conquistas vêm em meio a uma história marcada por estereótipos, apagamento e deturpação das narrativas indígenas. Um exemplo clássico remonta a 1973, quando Marlon Brando recusou seu Oscar em protesto contra a representação prejudicial dos povos nativos americanos em Hollywood. Sacheen Littlefeather, a atriz que representou Brando na cerimônia, enfrentou não apenas vaias, mas também décadas de ignorância e humilhação da indústria.

A recente carta de desculpas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas a Sacheen Littlefeather, quase 50 anos após o incidente, destaca a longa espera por reconhecimento e respeito. Este gesto tardio destaca a necessidade contínua de reflexão e ação para corrigir as injustiças históricas cometidas contra os indígenas na indústria do cinema.

Sobre o pedido de desculpas, Littlefeather disse ao Hollywood Reporter que nunca pensou “que viveria para ver o dia em que ouviria isso”.

“Nós, indígenas, somos pessoas muito pacientes — foram apenas 50 anos [esperando pelo pedido de desculpas]!”

Ao analisar os dados atuais sobre a representação indígena nos Estados Unidos, a pesquisa da professora Stacy L. Smith e da Iniciativa de Inclusão Annenberg revela uma realidade preocupante. Em 1.600 filmes de maior bilheteria de 2007 a 2022, menos de 0,25% de todos os papéis falados foram destinados a personagens nativos americanos. Este dado contrasta drasticamente com a representação demográfica, uma vez que os nativos americanos compõem 1,3% da população dos EUA.

A pesquisa também destaca a falta de diversidade nos papéis, com a maioria dos personagens nativos sendo homens e concentrados em faixas etárias específicas. A falta de sustentabilidade de carreira para atores nativos é evidente, com a maioria trabalhando apenas uma vez a cada 16 anos, limitando suas oportunidades e contribuições significativas para a indústria.

Ainda que esses dados sejam específicos aos Estados Unidos, é crucial mencionar a ausência de pesquisas semelhantes no Brasil, onde as comunidades indígenas também enfrentam desafios representativos na mídia.

No contexto brasileiro, a representação indígena na mídia enfrenta desafios que vão além do cinema, estendendo-se também para produções televisivas. Um exemplo notável é a série “Cidade Invisível” da Netflix, que em sua primeira temporada gerou controvérsias pela ausência de membros indígenas na equipe técnica e elenco, levantando questões sobre autenticidade e apropriação cultural. E também a emissora Globo, que já escalou não indígenas como Deborah Secco (Caramuru, A Invenção do Brasil), Stênio Garcia (A Muralha) e Cléo Pires (Araguaia) para papéis indígenas, mas que tem, mais recentemente, aberto espaço no horário nobre para intérpretes de variadas etnias apresentarem suas próprias culturas aos telespectadores.

A inclusão de profissionais indígenas em papéis-chave, tanto na frente quanto por trás das câmeras, é crucial para garantir a precisão cultural, evitar estereótipos prejudiciais e permitir que as histórias indígenas sejam contadas de maneira autêntica. Consultorias culturais desempenham um papel vital, oferecendo insights valiosos sobre tradições, costumes e questões específicas das comunidades indígenas.

(*) Naiá Tupinambá é indígena Tupinambá de Olivença, copywriter na Music2Mynd e fundadora da BND Digital, a primeira agência de marketing social fundada por duas mulheres indígenas.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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