Cinegrafista relata que campanha de Tarcísio pediu sua demissão após divulgação do áudio

O repórter detalha a pressão que sofreu no dia do ataque e diz que teme pela vida de sua família
Tarcísio de Freitas manda cinegrafista apagar gravações do tiroteiro. Crédito: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

O cinegrafista Marcos Andrade (49) relatou, em entrevista à Folha, a ordem que recebeu para apagar vídeo sobre o suposto atentado contra o candidato Tarcísio de Freitas, ocorrido em Paraisópolis no dia 17 deste mês. Ele contou que viu seguranças à paisana, da campanha de Tarcísio, atirando no meio da comunidade. A agenda do candidato no local foi interrompida e Tarcísio logo tuitou que havia sido alvo de um atentado, versão que foi logo contestada pela polícia civil. Segundo Marcos Andrade, a campanha do bolsonarista também pediu sua demissão da emissora. 

Marcos tem mais de 30 anos de carreira e trabalha para a Jovem Pan. O repórter é especialista em filmagens de conflitos e foi o único que conseguiu filmar o momento do tiroteio, fato que demonstra o bom trabalho jornalístico do repórter.

Após o acontecido, o cinegrafista foi levado até um comitê de Tarcísio, onde foi abordado por uma pessoa a serviço da campanha que ordenou a ele apagar as filmagens que tinham sido conseguidas. Marcos achou a conversa suspeita e conseguiu gravar em áudio parte do que foi pedido pela equipe do candidato. A gravação foi divulgada e tornou-se um escândalo. Por que a equipe de Tarcísio não queria que as imagens fossem divulgadas? Será que todo o atentado não passou de uma farsa? 

“A meu ver, eu não fiz nada de errado. Se alguém fez alguma coisa de errado, não fui eu”, diz Marcos, afirmando que está com medo por sua família, já que não sabe com quem estaria lidando ao divulgar as imagens.“Eu também estou assustado, porque você não sabe com quem está lidando. Medo não por mim, mas pela minha família, entendeu? Eu estou com a minha esposa para ganhar nenê neste próximo mês.” 

Marcos afirma que a campanha de Tarcísio pediu à Jovem Pan que ele fosse demitido. A emissora comunicou que não planeja cortar Marcos de seus funcionários, mas pediu para que ele fizesse um vídeo para a campanha do ex-ministro. O repórter não sabe quais seriam os fins de tal vídeo, caso fosse entregue ao candidato ao governo de São Paulo.   

O cinegrafista comentou também que estranhou a presença de tantos agentes federais na assessoria e na segurança de um candidato. Marcos está acostumado a cobrir eventos desse tipo e achou o cenário diferente: “Tem muita polícia. Só que você não consegue distinguir quem é quem. Quando você olha para o lado e fala assim: tem um federal aqui, um cara da Abin, um militar. Isso é normal?”, diz ele. 

Andrade falou que pretende se desligar da emissora. O repórter acredita que o motivo real para a ordem de apagar as imagens foi que “alguém estava lá quando não deveria estar”, fato que prejudicaria a campanha de Tarcísio. 

Tarcísio tentou justificar o pedido feito por sua equipe para apagar as imagens comentando que o momento de tensão levou as pessoas a fazerem isso como forma de preservação da imagem dos envolvidos. A campanha nega ter pedido a demissão do cinegrafista e a Jovem Pan disse que o time de Tarcísio não entrou em contato com o veículo para pedir que as imagens não fossem divulgadas. 

A polícia relatou que irá utilizar as imagens para investigar o suposto ataque. Além disso, o grupo Prerrogativas, formado por juristas e advogados que estão apoiando o PT neste momento, apresentou uma notícia-crime ao Ministério Público para que todo o caso seja investigado.

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