Nesta quarta-feira (19), moradores da cidade de Ouro Preto em MG foram à prefeitura da cidade pedir o fim da privatização do fornecimento e tratamento de água e do saneamento de esgoto realizados pela empresa Saneouro. Retomar o fornecimento de água para a esfera pública era uma promessa de campanha do atual prefeito, que não se concretizou. Além disso, os manifestantes protestavam contra os preços abusivos das contas de água e esgoto, que variavam de 300 a 1500 reais.
Um vídeo filmado durante o protesto mostra um morador reclamando de uma cobrança de 1519 reais diante de uma mesa coberta por inúmeras contas de água. Em seguida, segundo o membro do Conselho Municipal de Saneamento, Eduardo Evangelista, a manifestação se iniciou de forma pacífica com cerca de 400 pessoas e foi organizada pelo Comitê Sanitário de Defesa Popular de Ouro Preto. Oitenta delas ocuparam a prefeitura para esperar o chefe do município, Angelo Oswaldo (PV), e entregar as contas de água cobradas pela Saneouro.
Os manifestantes tentaram entrar no gabinete do prefeito mas foram atacados pela Guarda Municipal com cassetetes e spray de pimenta. Uma senhora de 73 anos teve que ser encaminhada a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) por ter inalado o gás.
“Foi um ato de total covardia, nós não ficamos porque temos compromissos de trabalho e assim como a nossa ocupação era pacífica, deixamos nossas mulheres lá, foi só a gente sair que eles entraram e jogaram spray em todo mundo”, denunciou um dos moradores.
Histórico dos serviços de água e de esgoto
Antes do início da atuação da empresa privada, em janeiro de 2020, os serviços eram feitos da mesma forma que há 300 anos, com o esgoto despejado diretamente nos rios. Menos de 2% do esgoto era tratado.
No entanto, desde o início da implantação dos serviços de fornecimento, tratamento e saneamento de água e esgoto por meio da Saneouro, há reclamações dos habitantes de Ouro Preto. De acordo com os moradores, a cobrança atual é três vezes maior se comparado às concessionárias que atendem em nível nacional. Por isso, pedem pela municipalização desse serviço essencial.
As autoridades reconhecem a legitimidade da reivindicação popular e alegam que estão tentando combater os preços abusivos. Além disso, uma retirada da empresa Saneouro do município está sendo discutida.
Contra a privatização da água
Assim como na Bolívia em 2000, a população de Ouro Preto também se rebelou contra a privatização do fornecimento de água. Com a cobrança de valores absurdos, os cidadãos pedem para que esse serviço seja de responsabilidade pública e não privada.
Se o candidato de Bolsonaro ao governo do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) for eleito, em breve poderemos ver a “Guerra da Água” explodir no estado mais rico do país. Uma das principais propostas de Tarcísio é a privatização da Sabesp, empresa brasileira de economia mista que fornece água e a coleta e tratamento de esgoto de SP. Tal proposta tende a superfaturar esse recurso, assim como ocorreu em Ouro Preto e na Bolívia. No país vizinho a privatização foi revertida e o serviço voltou a ser fornecido pelo Estado.