O presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, adora acusar o PT de abortista e de ignorar a fé das pessoas. Mas foi ele mesmo que, em abril de 1992, em um discurso pronunciado na Câmara dos Deputados, propôs a educação sexual obrigatória, a esterilização de casais e outros métodos, como forma de conter o crescimento da população. Bolsonaro fez mais: solicitou ao presidente da Câmara a transcrição nos Anais da Casa de reportagem da Folha de S.Paulo, sobre o início do “uso da pílula do aborto” na China, como forma de controle populacional (quanta diferença para esse Bolsonaro que fala em proteção do feto desde a concepção). Por fim, Bolsonaro defendeu que as religiões não dessem palpite nessas questões e que o tema fosse tratado “sem demagogia (…), porque de nada adiantam nossas convicções religiosas (…), quando está em jogo sem dúvida uma questão bem mais grave e que interessa à segurança nacional”. (veja o discurso nos anais da Câmara, abaixo)
“Religião não adianta”, disse Bolsonaro
O Bolsonaro de hoje, de olho no crescente eleitorado neopentecostal, adora posar com pastores, com Damares Alves, com aqueles a quem chama de “terrivelmente evangélicos”. É uma forma de ressaltar que ele, sim, é “do bem”. Para isso, o presidente sempre vem com a discurseira sobre a tal “ideologia de gênero”, espalha fake news de que o PT quer ministrar educação sexual para crianças na primeira infância (acusações mentirosas, diga-se). Curioso é ver que Bolsonaro, em 1992, inflamava-se defendendo ser necessário “que as famílias brasileiras se conscientizem da necessidade de manter sob controle as proles. (…) Sem dúvida que esse tema possui inegável importância e por seu caráter de relevante prioridade deve mesmo constar de forma obrigatória nos currículos escolares a fim de que possa ter sentido educativo para a população”. É de educação sexual que se trata!
O que mais causa indignação no discurso de 1992, contudo, é a forma como Bolsonaro tratou o tema da esterilização de mulheres sem autorização delas. Os partidos de esquerda brasileiros lutavam em 1992, contra a laqueadura de trompas feitas à revelia, durante o parto, quando elas nem sequer tinham condições de autorizar o procedimento. Na época, os movimentos denunciavam que perto de 7 milhões de mulheres (ou 45% daquelas em idade reprodutiva) foram esterilizadas contra a vontade, um crime gravíssimo.
Mas, Bolsonaro, em vez de se solidarizar às mulheres que tinham sido operadas involuntariamente, ressaltou que, se esses 7 milhões de esterilizações não tivessem ocorrido, “teríamos hoje mais 10 ou 12 milhões de menores engrossando a multidão de crianças que se acham em completo estado de miséria”. Em sua lógica criminal Bolsonaro acrescentou que “de nada adianta a nação ter uma multidão de brasileiros subnutridos sem condições de servir ao seu país”. Ou seja, em vez de lutar por vida digna para todos, Bolsonaro defendia que “o caminho certo” era impedir que os pobres nascessem, que “se reproduzissem”. Mesmo que à custa de enganar mulheres e esterilizá-las à força.
Veja a íntegra do pronunciamento de Bolsonaro à página 81 do site de discursos do Congresso:
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Uma resposta
pessoas mudam, ele acordou pra realidade que são psis que tem que educar na hora certa