Soterrado em mentiras, Bolsonaro faz e desfaz no JN

Bolsonaro ataca urnas eletrônicas, diz que não xingou ministros do STF e que atuou firme e forte na pandemia
Bolsonaro no Jornal Nacional [Imagem: Reprodução/Rede Globo]

A sabatina à qual foi submetido Jair Bolsonaro na segunda-feira, 22 de agosto, no Jornal Nacional tinha tudo para ser histórica. Não foi o que aconteceu. Além de levantar a bola para o fascista de plantão, William Bonner fez caras e bocas, tentou arrancar um compromisso democrático do candidato à reeleição de respeito ao resultado das urnas. Agências de checagem calcularam que Jair contou uma mentira por minuto nos quarenta minutos que durou a sabatina.

Por Bia Abramo e Sérgio Kraselis

Os apresentadores do telejornal deixaram o presidente tão à vontade que o miliciano fingiu ter uma reação indignada quando, perguntado sobre o apoio do Centrão, se dirigiu com a maior cara de pau ao âncora: “Você tá querendo que eu seja um ditador. Se eu não governar com o Centrão, então você quer que eu vire um ditador.” Fingindo espanto, Bonner se limitou a um “Eu, eu…? ” Nem Odorico Paraguaçu faria melhor.

No que talvez tenha sido seu momento de maior cinismo, o candidato desafiou a jornalista Renata Vasconcelos a mostrar imagens em que ele imita a respiração agônica de paciente de Covid – o que, sabemos, ele fez em live e nas conversas com seus acólitos no famoso “cercadinho”. Horas mais tarde, a apresentadora Renata Lo Prete chegou a exibir os vídeos na Globo News, mas para uma audiência muito menor do que aquela que estava ligada na TV aberta. O que prevaleceu até as 21 horas e 12 minutos (a sabatina, de 40 minutos, começou com 2 minutos de atraso), foi a tentativa vã de Renata de apelar à compaixão do genocida, que desde o início da pandemia – por ele classificada como uma “gripezinha” – desdenha do sofrimento do povo, dos quase 700 mil mortos e dos familiares que perderam mães, pais, filhos e filhas para a doença.

Nesse terreno é que Bolsonaro patina e pode escorregar feio, apesar do espetáculo de “estadista” que tentou impingir a quem o estava assistindo. Em determinado momento, diante do silêncio cúmplice de Bonner e Renata, ele afirmou com todas as letras: “Eu estava certo sobre a Covid ”. Se estava, por que o ex-ministro Pazuello, da Saúde, num ato de fúria, mostrou o dedo do meio para ofender manifestantes? Por que Bolsonaro, com a ajuda do Centrão, está fazendo de tudo para esquecer as conclusões a CPI da Covid? Quando Bolsonaro e seus chamados técnicos vão pagar pela atitude irresponsável e criminosa na condução da pandemia?

Nadando de braçada nos estúdios do Projac, mais uma vez Bolsonaro repetiu as fake news da eficácia do tratamento precoce, da lentidão da aquisição de vacinas e do abandono do governo aos Estados mais atingidos no pico da doença, como aconteceu em Manaus. Muitas perguntas deixaram de ser feitas: sobre Queiroz, cheque pra Michele, filhos-alvos de processo, como atua o gabinete do ódio, Adriano Nóbrega e a fome que assola o país. E o que falar sobre o ex-ministro Ricardo Salles, envolvido na venda ilegal de madeira da Amazônia, aquele que em reunião ministerial vazada em vídeo sugeriu “passar a boiada” enquanto o povo estava desesperado morrendo sem vacina e sem oxigênio, para dar continuidade aos interesses do agronegócio? Salles foi elogiado pelo presidente, e os dois entrevistadores mais importantes da Rede Globo deixaram mais essa passar…

Isso para não falar do desmontes em pastas importante como na Educação, Saúde, Cultura, dos ataques racistas a povos indígenas, contra chineses… A lista é imensa. Como disse um espectador da sabatina nas centenas de comentários indignados que pipocaram nas redes sociais depois do Jornal Nacional, foram 40 minutos de fake news, desperdiçados pelo jornalismo da Globo, que teve a oportunidade de expor um psicopata, miliciano, genocida, mas optou por um clima amigável, isentão, como se fosse possível ser amigável e tratar um presidente como Bolsonaro com civilidade a essa altura do jogo.

LEIA MAIS SOBRE A ENTREVISTA DE BOLSONARO AO JORNAL NACIONAL AQUI

COMENTÁRIOS

POSTS RELACIONADOS

Regime de urgência para retirar a “função social da terra” da lei 8629/1993 é aprovado a toque de caixa

O projeto é visto como tentativa da bancada ruralista de enfraquecer a reforma agrária e flexibilizar normas ambientais e sociais, favorecendo o agronegócio e grandes proprietários. Especialistas alertam que a medida pode aumentar a concentração fundiária, expulsar comunidades tradicionais e comprometer a justiça agrária e ambiental, agravando desigualdades e conflitos no campo.

O direito do trabalho ainda respira

Danilo Santana, estudante Direito da PUC-SP O Direito do Trabalho ainda respira. Mesmo que esteja por aparelhos, ainda existe uma salvação, apesar dos esforços do