TODOS OS PARTIDOS DE ESQUERDA SÃO RACISTAS?

Qual o espaço das negras e negros dentro das organizações políticas

Imaginemos um partido de esquerda que, de uma hora para outra, deixasse de ser racista. Quantos dirigentes teriam que dar espaço aos negros e negras na direção dos partidos? Os palanques e revistas teriam que ter oradores e colunistas negros para falarem de – pasmem! – Economia, filosofia-política, urbanismo, marxismo, sociologia, tática & estratégia! Os coletivos teriam que pensar em lugares melhores que a Vila Madalena, e em horários melhores que “segunda-feira a tarde” para reuniões!  Os recursos partidários seriam empregados para a eleição de homens e mulheres negras… Nem a Lava Jato causaria impacto tão grande na política brasileira!

Sejamos sinceros: O Estado é uma criação europeia, e os partidos também. A nossa República foi criada em oposição à Abolição. A “Democracia” formalmente fundada em 1988 é genocida do povo negro… Enfim: se o racismo é parte fundamental do capitalismo, tudo que foi inventado pela burguesia (Estado e partido) é essencialmente racista. Se quisermos pensar em “liberdade política” para negros e negras, não olhemos para os partidos, mas para os Quilombos!!! Democracia representativa não representa nem branco pobre, que dirá negro! Só uma política verdadeiramente antirracista poderá dar uma resposta real, na perspectiva de classe, para brancos pobres. 

Não que eu diga que devemos abolir os partidos de esquerda, e que partidos de esquerda e direita não têm diferença, ou que uma pessoa negra não deva votar, se filiar, exercer militância com companheiros brancos ou até se candidatar e ser eleita… NADA DISSO! Enquanto a gente não destrói o velho e cria o novo, nós negros devemos ocupar todos os espaços de poder (mas é difícil quando se tem que viver entre a dicotômica necessidade de trabalhar e existência política).  

Apesar de ser colunista do Jornalistas Livres e não do BuzzFeed, acho interessante propor uma lista para saber você identificar se seu partido-coletivo é ou não racista. Tenha em mente que cerca de 54% da população brasileira se autodeclara negra ou parda. Esta lista não esgotará todos os meios possíveis de identificação de racismo estrutural. 

PERGUNTAS PARA SABER SE SUA ORGANIZAÇÃO DE ESQUERDA É RACISTA

1 – A proporção da direção (partidária, sindical, ou do movimento social) é igual ou superior a 54%? Se “horizontal”, a proporção de negros e negras é suficiente para garantir influência na toda de decisões?  

2 – Sobre o que os negros são chamados para falar, na maioria das vezes, nos eventos promovidos pela sua organização? Se o “LUGAR DE FALA” do negro for só para falar da questão racial, desconfie: não querem te ver falando de economia e outros assuntos “relevantes”.

3 – No debate sobre política de drogas, qual discurso predominante: [I] autonomia do corpo e recreação (Olha aqui o liberalismo!!!); ou [II] genocídio do Preto Pobre de Periferia (somos tão massificados que nos colocam até em siglas!)? Se for uma análise séria sobre o genocídio da população negra, temos um bom começo para o debate.

4 – Entre falas de negros e brancos, qual é obrigado a apresentar mais referências (inclusive bibliográficas) para ter as ideias aceitas como verdade? 

5 – Quanto a tempo dispensado para trabalho e política, quem é obrigado a dedicar mais horas ao trabalho (como única fonte de sustento)?

6 – Quais são as principais referências políticas e teóricas no seu meio?   

Estas são só algumas perguntas para refletirmos no espaço político dos negros em organizações de esquerda. Creio que, a maior parte delas, poderia ser usada para tratar da questão de gênero, e identificar o quão machista é a instituição ou movimento em que se está inserido. 

Para todos os partidos e sindicatos de esquerda, e a maior parte dos coletivos, o racismo é uma ideologia mais determinante que a própria ideia de socialismo. Em outros termos: estruturas burocráticas e auto-organizadas [supostamente] à esquerda podem seguir existindo sem o “espectro do comunismo“, desde que sejam tão somente “liberais” melhores que os “liberais-fascistas” da direita. Um hipotético “Partido Social-Liberal” se passaria tranquilamente por socialista e libertário, e seria bem-vindo nos círculos universitários mais “vanguardistas”, sem sequer ser relevante para negros pobres e brancos pobres do país. 

A direita é um caso perdido na questão de classe, gênero e raça. Mas há muito o que se trabalhar pela esquerda, com vistas à superação de todas as formas de exploração. A liberdade de negros e negras depende da luta real contra o Capitalismo. É preciso que todos façam parte disto. Não ser racista não é “gostar” de negro. Precisamos de muito mais que camaradagem. 

A esquerda não se “salva” e nem revoluciona sem superar o Racismo. Sem utopias: o trabalho começa agora!

COMENTÁRIOS

3 respostas

  1. Votar aos 16 e ser votado aos 18, desde que filiado a partido político, e fidelidade partidária,
    são direitos na Constituição Congressual de 1988.
    Foi conquista que UNE estudantes, militares e trabalhadores, com o lema ” TODO ALISTÁVEL É ELEGÍVEL ” , fins anos 1950 e início 1960.
    DEPOIS VEIO O MAIS O MAIS LONGO,DOLOROSO, PENOSO,TRISTE 1º DE ABRIL
    DA HISTÓRIA DO BRASIL E YZTADU MERDOKRATIKU DE DIREITA.

  2. o correto não seria preto, negro na historia se trata dos escravos que vieram nos navios negreiros

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