Uma variação do vírus da Covid-19 detectada na África do Sul tem tudo para colocar o mundo em risco
Por Renê Gardim
Na última semana, uma notícia atingiu o mundo todo. Na África do Sul, foi detectada uma nova cepa do novo coronavírus, batizada de Variante de Preocupação Ômicron pela Organização Mundial da Saúde (OMS), exatamente no momento em que o mundo se preparava para o retorno à vida normal depois que a pandemia perdeu força, principalmente devido à vacinação em massa.
Botsuana, que faz divisa com os sul-africanos, também registrou infecção com a nova variante do Covid-19, que aterroriza o mundo há quase dois anos.
Os mercados ficaram em polvorosa, com quedas acentuadas nas Bolsas de Valores e as moedas fortes como o dólar e o euro subindo em relação às demais. As fronteiras de diversos países, entre eles o Brasil, se fecharam para africanos.
Mas qual o motivo de tanta preocupação? Afinal, a vacina, tão esperada, já foi inoculada na grande maioria da população.
Ai está o engano. Voltamos a ser ameaçados pelo novo Covid-19 que surge na África. E isso tem um motivo. A desigualdade social, contra a qual lutamos no Brasil, também existe entre os continentes.
É bom lembrar que a África não é um país, mas um continente com maior número de países, 54 ao todo. Também é o continente que possui a maior pobreza e a maior desigualdade social dentre todos os demais.
Aí chegamos ao principal fator que mexeu com os nervos de todos na semana que passou. Somente 3% da população africana foi vacinada contra a Covid-19. Ou seja, dos 1,390 bilhão de habitantes somente 41,7 milhões receberam uma dose da vacina.
Um detalhe que precisa ser destacado: até onde se sabe, o negacionismo que permeia a população de países que já contam com vacinas suficientes, como Estados Unidos e Brasil, não prospera na África. O que acontece é que eles não têm doses para toda a população. Aliás, nem mesmo para uma parcela grande de seus habitantes.
Estamos falando de um continente à margem da economia do mundo. Apesar da grande quantidade de ouro e diamantes existentes, a África tem um PIB anual inferior a dois trilhões de euros. Para se ter uma ideia, a União Europeia, que reúne 28 dos 50 países europeus, possui um produto interno bruto de 13, 393 trilhões de euros.
Já os Estados Unidos, que sofreu forte queda com a pandemia, manteve 18,3 trilhões de euros de PIB em 2020 e pode chegar a 20 trilhões de euros neste ano. O Brasil, para termos algo mais próximo de nós, teve um PIB de R$ 7,4 trilhões (algo em torno de 1,678 trilhão de euros para termos uma comparação) em 2020.
O que estou querendo dizer com todos esses números? Como sempre digo, economistas é que gostam de números, não a população. Mas eles servem para vermos o buraco onde estamos enfiados.
Hoje, o continente com o maior número de países e com uma população enorme não tem acesso ao principal item que poderá nos tirar definitivamente dessa pandemia, a vacina. E não é por falta de produção. Embora os laboratórios ainda não tenham um volume realmente grande, já têm condições de atender à demanda. O que falta é foco no ser humano e não no lucro.
Os africanos estão, desde sempre, relegados à periferia do mundo e enfrentam sozinhos problemas que poderiam há muito tempo ter sido resolvidos se tivéssemos uma distribuição justa de riquezas. E não estou falando de dinheiro ou de metais precisos. O que falta é justiça social. Falta um mundo mais humano, que olhe para as pessoas e não para as contas bancárias, ou para os bens acumulados.
Está na hora de darmos as mãos para nossos irmãos africanos e não é apenas por causa da pandemia. Certo que a situação deles hoje nos coloca em risco. Mas temos que olhar adiante.
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