Neste 28 de junho, se celebra o Dia Internacional do Orgulho LGBT. Como feministas militantes da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), defendemos a celebração da data recordando que as opressões que as mulheres enfrentam não são uma “somatória”, mas são inseparáveis. Assim, queremos defender que nosso orgulho parte de uma visão e de uma ação que se propõem a ser profundamente críticas, transformadoras, radicais.
*Por Luiza Mançano e Fabiana Benedito, da Marcha Mundial das Mulheres
Dizer que o nosso orgulho não cabe no mercado é anunciar que não se pode separar sermos lésbicas, feministas, anticapitalistas, antirracistas. Fazê-lo é rejeitar fundamentalmente o que tem sido propagandeado como orgulho LGBT, sobretudo no mês de junho.
Neste 28 de junho, queremos defender o orgulho não como um produto, mas uma celebração de formas de vida, sexualidade e relações de rompimento com o heteropatriarcado. Celebramos – e reivindicamos o direito de fazê-lo – mas nossa celebração é oposta, por definição, ao colorido das bandeiras hasteadas pelas grandes empresas, como a Pepsico, e o show de luzes multicoloridas que não apaga a precarização do trabalho, dos territórios e da vida promovida pelas corporações, com anuência dos Estados.
Em 2020, um estudo realizado por pesquisadoras e pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apontou que pessoas identificadas como LGBT estavam mais vulneráveis à depressão e ao desemprego no contexto da pandemia de covid-19. Há um sujeito que é vítima desta vulnerabilização e há, igualmente, agentes ativos nesta violência. É preciso visibilizar o papel central que as corporações desempenham na precariedade – no trabalho e na vida – enfrentada internacionalmente pela sociedade, de modo geral, e em especial pelas pessoas que estão às margens do sistema capitalista, que é heteropatriarcal e racista.
Não queremos salgadinho transgênico com arco-íris, não queremos roupa “sem gênero” das grandes cadeias, produzidas a preço de nada por mulheres do terceiro mundo. Nosso orgulho é solidário com as vítimas de Rana Plaza, nosso orgulho é pela soberania alimentar. Não queremos inclusão nesse sistema. Queremos uma nova sociedade, uma outra vida.
Assim, rejeitamos as tentativas de apropriação de temas caros para nós. Celebramos nossas sexualidades a partir da visão política da MMM, defendendo as alternativas e projetos políticos dos povos, com soberania e autonomia, a partir do feminismo anticapitalista que rejeita as saídas “coloridas” mercantilizadas. Nossas cores são as daquelas e daqueles que constróem luta popular ao redor do mundo.
Celebramos nosso orgulho rechaçando as armadilhas do capitalismo e de Estados como os dos EUA e de Israel que vendem “liberdade” enquanto massacram os povos da Palestina e da Síria, entre outros: nosso orgulho questiona o colonialismo e também o fundamentalismo religioso.
Celebramos nossa sexualidade, compreendendo-a como uma agenda política, na contramão de leituras que ignoram a base material e violenta da realidade das pessoas homossexuais, sobretudo mulheres, ao redor do mundo; uma violência física, mas também simbólica, refletida na falta de direitos, na invisibilidade, em estereótipos.
Neste dia de orgulho, também questionamos a mercantilização e contra a medicalização das nossas dores. Mais do que um assunto pessoal, de escolhas individuais, é preciso questionar as lógicas perversas do capitalismo que criam padrões irreais – já que todos são insustentáveis – para que nos sintamos desconfortáveis em nossos corpos, em relação a nossas sexualidades, para depois vender soluções individuais para curar nossas dores.
Queremos uma transformação radical da sociedade, que rompa com a divisão sexual do trabalho baseada no modelo de família tradicional, que rompa com o binarismo de gênero, não de forma superficial, mas questionando os modelos que organizam este sistema baseado na exploração e no estereótipo.
Celebramos e visibilizamos nossas formas de viver nossas sexualidades, celebramos nossas vidas porque elas refletem uma agenda política, de construção de alianças e alternativas baseadas no afeto entre mulheres, individual e coletivamente.
Como feministas, é nossa tarefa combater a invisibilidade imposta pelo heteropatriarcado; parte da luta LGBT somos a partir das experiências dos movimentos populares, isto é, quando ela se propõe a ser antipatriarcal, anticapitalista, anticolonial e antirracista.
Até que todas sejamos livres!
*Luiza Mançano e Fabiana Benedito são militantes da Marcha Mundial das Mulheres nos estados de São Paulo e Minas Gerais, respectivamente
2 respostas
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“(…) a base material e violenta da realidade das pessoas homossexuais, sobretudo mulheres, ao redor do mundo.”
Sobretudo homens. Mulheres lésbicas não sofrem nem metade da violência que gays do gênero masculino sofrem. Há evidências e mais evidências disso. Não sei porque distorcer a realidade para se apresentarem como as maiores vítimas, entre os LGB pelo menos, quando não são. E fico feliz por vocês!