A quantidade de delitos cometidos por Bolsonaro e suas milícias já seria suficiente em democracias mais ou menos civilizadas para tirá-lo poder. Não é o caso do Brasil. A “elite política-financeira-mediática-judiciária” sustenta um governo abjeto que desde o início pisoteia a frágil Constituição (mas pelo menos é alguma). Há mais de cem pedidos de impeachment que dormitam sob os glúteos de Arthur Lira e de lá provavelmente não sairão.
Por Ricardo Melo
Rachadinhas, homicídios não esclarecidos, manipulação de órgãos do governo como a PF, cheques para primeira-dama, dinheiro vivo e loja de chocolates usados para esconder falcatruas na compra de imóveis, estímulo ao desmatamento, destruição do ensino público em todos os níveis, truques nas estatísticas de desemprego astronômico, ataques escancarados às minorias e à democracia. A capivara não tem mais fim –e não começou hoje.
Claro que no cume da sucessão de ilegalidades está o morticínio promovido durante a pandemia. Centenas de milhares de mortes poderiam ter sido evitadas caso a vacinação houvesse acontecido em massa no tempo hábil. Só que esse tempo foi desperdiçado com tratativas para a malta bolsonarista tentar ganhar dinheiro à custa da vida de brasileiros. À frente do genocídio, um presidente negacionista e de instintos homicidas que insistia ser a melhor saída mandar o povo para o abate. As instituições, ah, as instituições: onde elas estavam e estão até agora?
O mesmo espírito preside a reta final das eleições, mas turbinado. Na iminência da derrota, Bolsonaro e sua gangue apelam desesperadamente para as baixarias mais sórdidas e o saque dos cofres públicos.
Baixarias – A últimas declarações da “ministra Damares” quanto ao aviltamento de crianças na ilha do Marajó são dignas de uma bruxa desnorteada. Não que se esperasse algo de útil partindo de quem inventou um currículo e afirmou ter visto Jesus surgir num pé de goiaba. Mesmo dentro desses parâmetros, o escândalo assusta: falou numa cerimônia religiosa sobre crianças tendo dentes arrancados para facilitar sevícias em países que nem fronteira fazem com o Brasil. Provas? “Ouvi falar nas ruas”, disse Damares. E fica por isso mesmo.
Para não ficar por baixo, Bolsonaro revela-se um tarado incurável quando se refere ao caso de meninas venezuelanas. O mesmo que já disse ter um apartamento funcional para “comer gente”, agora diz que “pintou um clima” com meninas de 14, 15 anos. É um psicopata sem conserto que dirige um país como o Brasil!
A impunidade explica o que vem acontecendo com cada vez maior intensidade. O ataque de milicianos e/ou fanáticos contra eleitores adversários esparrama-se pelo Brasil afora. Casas de simpatizantes de Lula são depredadas na calada da noite em bairros tidos como “civilizados”, mesmo em São Paulo, conforme comprova o próprio Jornalistas Livres. Tudo vitaminado pelo armamento desenfreado da população patrocinado pelo delinquente instalado no Planalto.
Violência – Trabalhadores são ameaçados de demissão se votarem em Lula. Pipocam em todo o território nacional agressões em academias, bares e até mesmo assassinatos em festas de aniversário. Estamos vendo quase todos os dias investidas asquerosas contra a Igreja Católica e evangélicos não alinhados com o ideário neo-fascista. O tiroteio em Paraisópolis (SP) logo foi atribuído a petistas em programas eleitorais bolsonaristas como uma ação contra um candidato ao governo do Estado. Tudo cheira mal. Seria uma facada versão 2022? Não se sabe até agora e ninguém parece interessado em descobrir. Quase ao mesmo tempo, Bolsonaro convoca sua horda ensandecida para cercar seções eleitorais, num “Capitólio” à brasileira.
As instituições, ah, as instituições.
Canetadas – Nunca se viu o uso ilegal do dinheiro público de tal monta como agora. As coisas têm que ser chamadas pelo nome. “Orçamento secreto”, para a maioria da população, é algo ininteligível. Estamos diante de uma ROUBALHEIRA com fins eleitorais, assinada e sancionada em decreto da presidência da República. Dinheiro do povo utilizado para favorecer aliados da quadrilha do Planalto à caça de votos. Simples e trágico, assim.
Com o que resta de tinta na caneta, Bolsonaro posa agora de redentor dos pobres. Auxílio Brasil até o fim das eleições, empréstimo consignado a juros escorchantes e liberação de FGTS inexistente para a casa própria. A manobra é tão rasteira que nem bancos querem entrar nessa.
A ofensiva não deve ser desprezada, porém. A muitos surpreendem os milhões de votos que o capitão expulso do Exército obteve no primeiro turno. Pare para pensar. Os governos golpistas pós-Dilma, Bolsonaro incluído, jogaram ao mar da fome pelo menos 33 milhões de brasileiros. Agora, em três meses, os impostores fingem lançar uma boia para resgatar os náufragos que eles criaram. Tudo balela. É natural, contudo, que muita gente às vésperas do afogamento considere uma salvação –são famílias de trabalhadores que, como todo nós, têm como prioridade alimentar suas filhas, filhos e a si mesmas.
Existe uma onda de direita espalhada pelo mundo. Na Itália, Mussolini está sendo ressuscitado. Trump continua atuante. A Europa arde em chamas com o conflito da Ucrânia. Ao mesmo tempo, cresce o número de bilionários pelo planeta, inclusive no Brasil. Ricos cada vez mais ricos, pobres cada vez mais pobres. A barbárie, ou seja, o capitalismo em decomposição, não irá abrir mão de seus privilégios sem resistir.
O Brasil nestas duas semanas está no olho do furacão mundial. Lula tem uma tarefa gigantesca pela frente. Apesar de erros – quem não os comete?— é a única opção do momento para barrar uma escalada genocida, obscurantista, antidemocrática e liquidadora de qualquer avanço social.
Pesquisas não ganham eleições. Importa o trabalho nas ruas e de convencimento daqueles que vêm sendo enganados pela engrenagem homicida e intimidadora do neo-fascismo bolsonarista que se estende inclusive pela “mídia democrática”. A capa de “Veja” e o editorial da “Folha” falam a mesma coisa: “Lula não tem programa”. Pergunta: será que estes veículos não perceberam a diferença entre os progressos dos governos dele em comparação à tragédia social, política e econômica promovida por Bolsonaro?
Em 30 de outubro, o povo há de mostrar que percebeu.