O juiz Marcelo Alexandre do Valle Thomaz, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, deferiu liminar imposta pelo vereador Sargento Mello Casal, do PTB, para que fotografias da exposição “Democracia em disputa” fossem retiradas da fachada do Centro Cultural Bernado Mascarenhas (CCBM), no centro de Juiz de Fora (MG). Promovida pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Democracia e Democratização da Comunicação (INCT/IDDC), a exposição integra a programação cultural da 73ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realizada na Universidade Federal de Juiz de Fora e com apoio da prefeitura da cidade.

A exposição mostra mais de meio século da democracia no Brasil a partir fotografias históricas, inclusive com imagens de colaboradores dos Jornalistas Livres. Entre as imagens censuradas, há uma de protestos em Brasília contra a PEC do Teto de Gastos, feita por Maxwell Vilela em 2016, e outra mais recente da cobertura das últimas manifestações pelo impeachment de Jair Bolsonaro, feita por Isis Medeiros.

No entanto, a fotografia que causou mais indignação a do repórter fotográfico da Folha de São Paulo, Alan Marques. Ela registra a passagem da faixa presidencial entre Fernando Henrique Cardoso para o então presidente Lula, durante sua posse em Janeiro de 2003. O abraço mostra um episódio único: dois adversários políticos, dois presidentes eleitos pelo voto popular e que completaram seus mandados, respeitando o rito democrático e promovendo a transição pacífica do poder. Isso foi acusado pelo juiz de ser “engenhos de publicidade”, e de “propaganda comunista financiada por uma prefeitura do PT”, segundo bolsonaristas nas redes sociais.
“Os painéis veiculam imagens fotográficas documentais de momentos históricos da construção democrática brasileira e foram selecionadas por alguns dos principais historiadores do país com base em critérios técnicos e históricos”, explicou o Instituto da Democracia por meio de nota: “As contestadas imagens registram, portanto, passagens fundamentais da construção democrática brasileira. Nada mais distante de peças publicitárias”.

A prefeitura de Juiz de Fora, governada por Margarida Salomão (PT), vai recorrer da decisão.