É preciso socorrer quem tem fome e fazer da alimentação um direito básico

19 milhões de pessoas vivem em fome crônica, ou seja, são pessoas que não têm o que comer
O desespero, a fome e a miséria atingem a população pobre e Bolsonaro não está nem aí
O desespero, a fome e a miséria atingem a população pobre e Bolsonaro não está nem aí

Não vou fazer um balanço de final de ano e muito menos projetar algo para o ano que está chegando. E por um simples motivo. Nada acaba no dia 31 de dezembro ou começa em 1º de janeiro a não ser o próprio ano. E uma prova disso é a manchete da Folha de S.Paulo do dia de Natal: “Fome atinge 37% dos mais pobres, diz Datafolha”.

Por Renê Gardim*

Na realidade o Datafolha não diz nada, apenas reproduz os dados coletados junto à população brasileira. A pesquisa mostra que mais de um terço dos brasileiros com renda mensal de até 2 salários mínimos não teve quantidade suficiente de comida em casa nos últimos meses. Na população em geral, 26% não conseguiram alimentar suas famílias de forma satisfatória.

Carestia voltou a ser a palavra de ordem no país, depois de termos saído do mapa da fome em 2014, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a FAO, agência das Nações Unidas (ONU) que lidera esforços para a erradicação da fome e combate à pobreza.

Estatísticas do próprio governo federal mostram que 19 milhões de pessoas vivem em fome crônica, ou seja, são pessoas que não têm o que comer. Além disso, mais 106 milhões enfrentam a insegurança alimentar. São aquelas que comem hoje, mas não sabem se terão o que comer amanhã.

Estamos vendo cada vez mais uma deterioração enorme desse nosso processo social. Estamos em um franco processo de demolição de todas as conquistas sociais, de todos os direitos individuais e coletivos duramente conquistados ao longo da história do Brasil e, hoje, demolidos por este governo genocida.

Não fossem os movimentos sociais do Brasil, neste momento, teríamos uma situação de calamidade. São essas organizações que têm feito todo esforço para garantir refeições mínimas para quem está sendo empurrado cada dia mais para a margem da sociedade.

Solidariedade e doações servem para minorar o sofrimento, mas é preciso muito mais
Solidariedade e doações servem para minorar o sofrimento, mas é preciso muito mais

E, como disse no início, esse não é um balanço do ano de 2021. Essa situação vem ocorrendo nos últimos seis anos. Não adianta levantar a bandeira da crise provocada pela pandemia. Ela apenas serviu para aprofundar e trazer luz para algo que se tornou política pública no país: o empobrecimento sistemático da população.

A situação é ainda mais perversa devido ao descontrole da economia, com recessão técnica, como gostam de dizer os economistas, e o total descaso com a inflação elevada.

A pesquisa Datafolha prossegue afirmando que 15% dos entrevistados disseram ter deixado de fazer alguma refeição recentemente devido à falta de comida, número que chega a 23% entre os mais pobres.

Fome no mundo

Sem dúvida essa situação não é exclusividade do Brasil. Hoje nós somos um pouco mais de 7 bilhões de pessoas em todo o mundo, sendo que a maioria vive em condições indignas.

MST realiza a campanha Natal Sem Fome, com o lema “Cultivando solidariedade para alimentar o povo”

A fome atinge quase 900 milhões e, segundo a FAO, o planeta produz alimentos capazes de atender a necessidade de 11 bilhões de bocas. Ou seja, há comida para uma população 57% maior do que atual. E, novamente, o Brasil está na mesma situação, pois produz muito mais do que o suficiente para alimentar seus cidadãos. Então, não faltam alimentos, falta justiça social.

A solidariedade do povo, em especial dos movimentos sociais como o @MST_oficial Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), do @mtst Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e tantas outras organizações populares é fundamental, mas ela não é suficiente. Precisamos de um país em que a alimentação, a saúde e a educação de qualidade sejam realmente um direito de todos.

(*)Renê Gardim é jornalista há 36 anos. Atuou na “Folha de Londrina”, “Jornal de Londrina” e RBS. Foi editor de economia e agronegócio no DCI.

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