Da ratoeira armada pelo Alckmin, ninguém escapou

Nesta terça-feira, 12/1, a polícia de Alckmin estava nas ruas com apenas uma missão: impedir que a manifestação contra o aumento das tarifas de ônibus, metrô e trens em SP se realizasse. E a “melhor” forma de se fazer isso, sem dúvida, se deu pela truculência e maldade da ação do contingente, lição número 1, que a polícia vem insistindo em aplicar contra a população que protesta nas ruas, nas escolas e nos espaços públicos.

Sem motivo algum, sem que um único ato de vandalismo tivesse sido cometido pelos manifestantes, a Polícia Militar desferiu o ataque selvagem contra tudo e contra todos os que estavam confinados no perímetro da praça do Ciclista, no final da avenida Paulista. Confinados é o termo exato. Porque a animosidade da PM já se fez notar no início da concentração.

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Foto: Helio Carlos Mello

A polícia cercou os manifestantes com cordões de policiais fortemente armados, espalhados pela avenida Paulista, pela rua Bela Cintra, pela rua da Consolação. Quem estava dentro sabia que o ataque da PM era iminente. A tensão e o medo pesavam, mas a coragem dos milhares de manifestantes ali reunidos impediu a dispersão pretendida pelas forças da repressão (quem quisesse sair do cordão, saía, mas não podia voltar).

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Foto: Jornalistas Livres

E foi assim que a passeata se preparou para sair. Bandeiras levantadas, viam-se as presenças do Movimento Passe Livre, da UNE, da Ubes, do Sindicato dos Metroviários, da Juventude do PT, da CUT, de um lado. Do outro, policiais equipados com as tais “armas não-letais” (escopetas calibre 12 municiadas com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, spray de pimenta).

Sem mais, deflagrou-se a repressão selvagem.  Centenas de bombas de gás foram arremessadas contra manifestantes encurralados. Um cenário de repressão digno de Ditadura Militar. Os manifestantes queriam descer a avenida Rebouças e terminar o ato no largo da Batata, mas a Polícia já havia saído do batalhão com o trajeto definido, e queria forçar a passeata a seguir pela rua da Consolação.

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Foto: Jornalistas Livres

Os Jornalistas Livres testemunharam o momento em que o MPL recebeu do comandante a garantia de que “nada iria acontecer” se a manifestação concordasse em descer a Consolação e caminhasse até a Praça da República, onde terminaria. O fato é que o chefe da operação mal fechou a boca e a primeira bomba de gás lacrimogêneo foi lançada pelos policiais em cima dos manifestantes que seguravam a faixa com a frase “3,80, o povo não aguenta”.

Foi o replay maldoso do fatídico dia 13 de junho de 2013, contra uma manifestação que nem sequer teve início. Estilhaços de uma das bombas atingiram a coxa de uma repórter dos Jornalistas Livres. Outras 28 pessoas sofreram ferimentos e tiveram de ser levadas ao Hospital das Clínicas e à Santa Casa. Um rapaz teve fratura exposta.

E mais uma vez o estado democrático de direito e a liberdade de manifestação e expressão foram arremessados na lata do lixo. Sem reciclagem.

Na praça do Ciclista, manifestantes procuraram abrigo em edifícios. A polícia foi atrás. Dentro do Edifício Cervantes, as pessoas sufocavam sob o efeito das bombas de gás lacrimogêneo, choravam, desesperavam-se. Skatistas, tão comuns na avenida Paulista, escondiam assustados os seus skates velhos, com medo de que a polícia os levasse presos por tomá-los por “black blocs”. Feridos compartilhavam ataduras e mertiolates para tratar os machucados.

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Foto: Jornalistas Livres
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Foto: Jornalistas Livres

A tropa de Choque completou a bárbarie com o apoio da Força Tática, caçando grupos de manifestantes, a fim de impedir qualquer aglomeração que excedesse o número de 10 pessoas. Era tiro, porrada e bomba, literalmente e sem mira, para todas as direções. Gritos, choro e sangue, muito sangue se via cada vez que a nuvem de fumaça dos artefatos era levada pelo vento.

O secretário de Segurança Púbica de São Paulo, Alexandre Moraes, considerou “normal” a atitude da PM. Ninguém esperaria do chefe dos algozes que dissesse nada diferente. Afinal, ele foi indicado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) para prosseguir na criminalização/repressão aos movimentos sociais, aos pobres e à população periférica.

O prefeito Fernando Haddad (PT-SP) guarda até agora um silêncio cúmplice, em relação aos atos selvagens da polícia, de desrespeito ao direito constitucional de reunião e de livre expressão do pensamento.

Novas manifestações estão marcadas para esta quinta-feira (14/01), no Theatro Municipal e no Largo da Batata.

 

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