Era uma tarde de agosto como qualquer outra quando um raio atingiu o principal reservatório de petróleo de Cuba, resultando em um incêndio incontrolável. O fogo começou na sexta-feira (5) após a explosão de um dos três tanques de combustível. No sábado, os veículos cubanos já chamavam atenção para o risco de explosão dos outros dois tanques, que estão a apenas 50m de distância um do outro. Não tardou. No domingo (7), o reservatório inteiro ardia em chamas.
David Lopez, fotógrafo documental nascido em Cuba, contou aos Jornalistas Livres o susto que levou na sexta-feira. “Quando começou a tempestade eu estava apagado, então só percebi o que aconteceu ao sair de casa. Via que uma fumaça preta se espalhava pelo céu”. Sua vizinha da frente estava na rua, então David vai até ela. Assim, descobre sobre a explosão.”Subimos para seu telhado que tinha visibilidade para a zona do reservatório e comecei a realizar as primeiras imagens”. O fotógrafo relata que havia muitas pessoas nos telhados filmando.
Nos últimos seis dias, o governo de Cuba direcionou bombeiros de todas as regiões do país para o local. Além disso, ainda teve o apoio do México e da Venezuela para deter as chamas. Até agora, no total, foram mais de 120 feridos e dois mortos, entre eles, Elier Manuel Correa Aguilar. O fotógrafo relata que no dia 5 já era possível ver as primeiras bolas de fogo subindo e que durante a noite se podia ouvir pequenas explosões. “Essa madrugada as sirenes de ambulências e bombeiros deixaram a cidade inteira acordada”. Apenas cinco dias após a primeira explosão, na quarta-feira (10), os bombeiros afirmaram que o incêndio já estava sob controle.
“Na manhã de 6 de agosto caminhei por toda a cidade e o ambiente era muito raro. Nosso caís serviu de casa para muitos habitantes. Logo após a grande explosão na madrugada, tomados pelo medo, muitos foram se refugiar nessa zona, onde permaneceram por mais de 12 horas”. Depois disso, a área foi evacuada, o fotógrafo conta que muitos habitantes de Matanzas recolheram o que podiam em suas casas. “Nem todos puderam trazer seus animais de estimação”.
“As crianças, depois de ter que viver uma experiência traumática, abandonando suas habitações, jogavam na praia em meio a um cenário insípido. Era o melhor que podiam fazer”.
“Os dias seguintes foram piores, terroríficos, explosões de uma magnitude enorme. Ninguém estava acostumado. Os povos do campo del Valle de Yumiri começaram a sentir os efeitos colaterais da grande quantidade de fumaça tóxica”. David, que falou com esse povoado, conta que essas pessoas assistiam cair uma chuva negra durante esses dias.
“Continuei fotografando o evento do outro lado da baía, onde continuava a vida de forma mais segura. Lá, as pessoas observavam o céu, com esperança de que tudo acabasse rápido. Por não pertencer a nenhum meio oficial de imprensa, não pude passar dessa zona. No inferno do outro lado, as pessoas mal dormiam”.
No dia 9 de agosto, depois da colaboração entre México, Venezuela e Cuba, o incêndio começou a apresentar sinais de controle. Crises como essas exigem uma resposta urgente dos países vizinhos. Foi o que defenderam os congressistas nos EUA, ao cobrarem de Biden, na quarta (10), apoio ao país cubano.
“Hoje, 12 de agosto, continuamos trabalhando intensamente para realizar uma das missões mais duras: encontrar os corpos dos desaparecidos. Sobre o fogo: já está totalmente controlado. É questão de tempo para que as pessoas possam voltar às suas casas, mesmo que muitas habitações estejam destruídas”. Conta o fotógrafo documental cubano, da cidade de Matanzas, David Lopez.