Por Carlos Felipe Horta, jornalista
A morte de Mário Brás da Luz aos 88 anos, último filho vivo do patriarca Artur Camílo Silvério, fundador da Comunidade dos Arturos, em Contagem, enlutece a comunidade congadeira de Minas. Ao mesmo tempo, porém, cria uma oportunidade para se falar, pelo menos, um pouco, deste grupo quilombola que, desde o final do século 19, procura manter vivos costumes e tradições centenárias. Seu Mário estava intubado no Hospital Santa Helena, em Contagem, e nos deixa devido às complicações da Covid-19.
A história dos Arturos começou na segunda metade do século 19, com a vinda, como escravo, do angolano Camilo Silvério da Silva. Casado com Felisbina Rita Cândido, moraram na Mata do Macuco, na região da atual Esmeraldas e tiveram seis filhos. Um deles, Artur Camilo Silva, casou-se com Carmelinda Maria de Jesus e foi morar num lugar conhecido como Domingos Pereira, em Contagem, dando origem à Comunidade dos Arturos.
Durante décadas, vivendo como autênticos quilombolas, os Arturos mantiveram tradições e um estilo de vida ligado à sua ancestralidade. Como as comemorações do 13 de maio, o batuque, o candombe, a festa da capina ( também conhecida como a festa do João do Mato), as folias de reis, as rezas cantadas do terço, a devoção da Senhora do Rosário, sem falar no próprio sistema social entre eles.
Coube ao sociólogo e folclorista Romeu Sabará da Silva um dos primeiros a mostrar à comunidade a importância humana, cultural e social da comunidade, destacando-se o apoio dado pelo Prefeitura de Contagem às pesquisas e estudos. Também cabe destacar o trabalho desenvolvido pela Comissão Mineira de Folclore, sob o comando de Aires da Mata Machado e Saul Alves Martins, se juntando à Comunidade dos Arturos na luta pela preservação de sua vida e cultura.
Mais estudos e pesquisas, como “A Árvore dos Arturos e Outros Poemas” do professor e folclorista Edmilson Pereira de Almeida, deram continuidade à comprovação e valorização dos Arturos como legítimos representantes da cultura quilombola e afro-brasileira, levando o IEPHA, em maio de 2014, a reconhecer a Comunidade dos Arturos, como Patrimônio Imaterial da Cultura Mineira.
Ao longo destes tempos todos, a presença de Mário Brás da Luz foi fundamental, mas com a participação de todos os mais de 80 descendentes do patriarca Artur Camilo Oliveira, entre eles Jorge Antônio dos Santos, outro lutador em prol de tudo o que a Comunidade dos Arturos representa para a cultura mineira de origem negra. A repercussão sobre a morte de Mário Brás da Luz prova que Minas reconhece isso.