“Chapa com Alckmin é para vencer e mudar o país”, diz Lula

Ex-presidente afirmou que a administração de Jair Bolsonaro é marcada por governos paralelos
Reprodução de rede social

O ex-presidente Luiz Inácio da Silva já dá como consolidada a aliança com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que se filiou ontem ao PSB. “Uma possível aliança minha com o Alckmin seria uma chapa muito forte, uma chapa para vencer a eleição, uma chapa para mudar esse país”, afirmou durante entrevista na manhã desta quinta-feira ao programa “Café com Política”, da rádio Super 91,7 FM, de Belo Horizonte.

“Nós temos que ter os olhos abertos para enxergar e a humildade para entender que ele é hoje aquele que melhor reflete, interpreta o sentimento de esperança do povo brasileiro. Aliás, ele representa a própria democracia, porque ele é fruto da democracia, não chegaria lá, do berço humilde que sempre foi, se não fosse o processo democrático. E por ter conhecido as vicissitudes, é que na realidade interpreta esse sentimento da alma nacional”, afirmou, por sua vez, o ex-governador de São Paulo em ato de sua filiação ao PSB essa semana.

Na entrevista de hoje, Lula aproveitou para alfinetar o atual governo e disse que a administração de Jair Bolsonaro (PL) é marcada por governos paralelos. Ele se referiu ao mais recente escândalo do governo atual, em que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, estaria privilegiando prefeitos indicados por pastores evangélicos com distribuição de verbas, obedecendo a ordens do presidente.

“Faremos um governo legítimo, não paralelo. Bolsonaro não governa o Brasil. Ele não discute com governador, nem com sindicato. A vacinação é paralela. Agora descobrimos educação paralela, é dirigida com fim específico para setores da igreja. Isso demonstra que esse homem não está preparado”, afirmou Lula.

Falando como candidato, Lula adiantou o que fará nos primeiros dias de volta ao Palácio do Planalto, caso seja eleito. “Primeira coisa que vou fazer é estabelecer plano de trabalho, mais importante do que o que está aí, não perder um dia sequer nos quatro anos de trabalho. Vou a Minas Gerais antes e depois. Se eu ganhar, o clima em Brasília será mais leve”, ressaltou Lula. 

O ex-presidente afirmou que a ex-presidente Dilma Rousseff, vítima de impeachment no golpe de 2016, não aceitaria participar de um eventual governo dele, o mesmo ocorrendo com outros antigos integrantes de seu governo, como José Dirceu e José Genoino. “Nenhum deles aceitaria participar, porque eles sabem da importância que eu tenho de fazer um governo ousado para 2023/2026”, afirmou o ex-presidente.

Ao ser questionado sobre o convite de Dilma, em seu segundo mandato, para integrar a Casa Civil, Lula disse que a princípio recusou pois, em “um mesmo palácio não caberiam dois presidentes”. “Quando fui convidado pela Dilma, eu disse que em um palácio não cabem dois presidentes. A situação estava muito difícil, o Jacques Wagner e o Rebelo falavam pra eu aceitar, mas eu entendo que não devia participar. Tentei convencer, não queria por conta disso. Em um palácio não cabem dois presidentes, não cabem dois reis. Tenho clareza disso”, disse.

Com o processo de golpe se acelerando, em 2016 Lula aceitou a ideia para tentar reverter as armações e chantagens do ex-deputado Eduardo Cunha. Mas sua posse no cargo foi impedida por ação do Ministro do STF Gilmar Mendes após o ex-juiz Sérgio Moro vazar um grampo editado e ilegal de conversa entre os ex-presidentes dando a entender que Lula queria o cargo para se livrar da Operação Lava Jato. Durante o julgamento da operação no STF ficou provada a manipulação política do ex-juiz para contribuir com o golpe e posteriormente se beneficiar do cargo de Ministro da Justiça de Bolsonaro e da promessa, felizmente não realizada, de se tornar ministro da Suprema Corte.

Combustíveis

Lula culpou a política de preços adotada pela Petrobrás pelas altas no preço dos combustíveis. “O Brasil hoje não consegue refinar toda a gasolina que precisamos porque o governo parou. Destruiu a Petrobras e por isso tem gasolina importada dos EUA. Importando em dólar e precificando em dólar para nós”, afirmou. “O Brasil que é autossuficiente, não tem que exportar óleo cru para importar refinado para não ter que pagar em dólar. Além disso, tem etanol, tem diesel e o Brasil pode, efetivamente, fazer a discussão de invocação de combustível para o Brasil. Pode-se usar mais etanol, mais biodiesel. Não temos que pagar preço em dólar! Se ganharmos, vamos abrasileirar os preços de combustíveis”, completou o ex-presidente.

Lula ainda criticou a postura do presidente Jair Bolsonaro diante do cenário de alta nos preços. “O presidente falou que daria murro na mesa. Quem dá murro na mesa é ignorante e não tem argumento. Reúne a Petrobras e o Conselho Nacional Energético e discute as coisas, desde a luz elétrica até a gasolina. Acho que ele nem sabe que existe o Conselho. O país está desgovernado. Coitado do motorista, do caminhoneiro, que paga um frete que mal dá para pagar o gasto do pneu, pedágio. Diesel a preço de ouro e no fim do mês não leva nada pra casa”, ressaltou.

Mentiras 

O ex-presidente falou também sobre o processo que ganhou sobre Deltan Dallagnol, ex-procurador da Lava Jato, condenado a pagar R$ 75 mil a Lula por causa do caso PowerPoint. “O Conselho Nacional do Ministério Público precisava ter cuidado disso, porque o Deltan não prestava um bom serviço para a população brasileira. Sobre a história do powerpoint, eu pedia R$ 1 milhão, e os ministros foram condescendentes e falaram que ele não ganha tanto assim”, disse.

Na entrevista, Lula disse ainda que pretende abrir novos processos contra outras pessoas e instituições que falaram mentiras sobre ele. “Ainda vou abrir outros processos, mas não vou discutir isso em processo eleitoral. As pessoas que mentiram, que fizeram acordo com pessoas em cada jornal e em cada revista para tentar me destruir com mentiras, precisam ser punidas”, disse.

Falando como candidato, Lula chegou a colocar em dúvida se Bolsonaro conseguirá votos suficientes para disputar o segundo turno das eleições deste ano. “Se o Bolsonaro chegar lá, vamos disputar, se for com outro, vamos disputar com outro. Sempre respeitando a opinião do povo, quando fechar a urna, quem ganhou, tem que governar”, disse o petista.

Ao ser perguntado sobre a polarização na política brasileira, Lula disse não ver problema nisso. “Essa palavra polarização não sei quem foi o gênio que inventou ela como coisa problemática. A polarização existe em qualquer país quando há disputa entre duas pessoas”, ressaltou. 

“A polarização entre Atlético e Cruzeiro é muito forte, mesmo com o América crescendo, mas a polarização histórica é entre Atlético e Cruzeiro, Flamengo e Vasco, PT e PSDB, que foi a polarização histórica em 1994, 1998 com FHC, 2002 com Serra, 2006 com Alckmin, 2010, 2016. Acontece que o PSDB teve problemas e ficou um partido fragilizado, muito diferente daquele que conhecemos. É uma polarização política digna, não tinha ódio, não tinha mentiras”, completou o ex-presidente. 

Aborto

O ex-presidente disse que, quando a pauta de costumes chegar até a ele, vai discuti-la sem nenhum problema. Para isso, ele citou o aborto, um dos temas mais polêmicos. “Eu Lula, pai de cinco filhos, sou contra aborto e sempre fui. Agora, eu, chefe de Estado, preciso tratar o assunto como saúde pública. Pessoalmente é meu pensamento, mas como vou tratar isso como chefe de Estado? Aí é colocar todas as mulheres em igualdade de condição”, afirmou Lula, falando sobre mulheres que têm condições de realizar o procedimento fora do país, enquanto as com menos condições sociais arriscam sua vida ao praticar o aborto.

“Muita gente é contra aborto, mas corre para outros países pra fazer escondido, enquanto isso mulheres morrem na rua. Cabe ao Estado dar a essas pessoas capacidade de tratamento digno, esse é o papel do Estado. A pauta de costumes não é problemática pra mim. Quando apresentar, vai ser discutida no fórum adequado, que é o Congresso Nacional”, disse. 

Lula falou também da possível aliança em Minas com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), que deve disputar o governo do estado. “O Kalil precisa de mim, eu preciso do Kalil e se nós dois nos juntarmos, faremos uma chapa muito forte em Minas Gerais”, disse.

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