No dia 19 de janeiro, a população goiana se revoltou ao descobrir a chacina promovida pelo estado de Goiás no município de Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros. Quatro moradores locais foram executados pela Polícia Militar, após invasão em uma propriedade rural, sem mandado de prisão ou investigação prévia. A justificativa foi uma denúncia anônima de existência de “tráfico de drogas” na fazenda, onde havia plantação de pés de cannabis. Após 15 dias de denúncia, a chacina continua sem resposta.
Ao chegar no local, a PM afirmou ter sido recebidos à bala. Entretanto, nenhum policial ou viatura foram alvejados ou feridos. Já as vítimas, já algemadas, foram mortas por 58 tiros, sendo 40 disparos feitos por fuzis. No momento do crime, havia seis pessoas no local, as outras três conseguiram fugir com vida. Uma das quatro vítimas era um quilombola.
Entidades, coletivos, mandatos e instituições se uniram para arrecadar assinaturas em uma petição pública, que já reúne quase quatro mil nomes, e divulgar uma nota pública de repúdio contra o crime cometido pelo estado. No abaixo-assinado, os moradores também cobram a implantação “urgente” de câmeras de gravação audiovisual acopladas aos uniformes dos agentes de segurança pública, como forma de reduzir a letalidade policial em ações como esta.
Conforme relata a nota pública, que já reúne mais 140 entidades assinando, as vítimas “Salviano, Chico, Jacaré e Alan eram conhecidos por todos da comunidade. Eram pessoas de boa índole, não eram violentos, não tinham ‘passagem pela polícia’, não andavam armados. Não eram bandidos. Eram pacíficos. Morreram por causa de uma guerra insana, que condena e mata de forma seletiva uma parte da população que é preta e pobre, em verdadeiros tribunais de rua.”
Cavalcante é conhecida por ser uma cidade segura, acolhedora, que guarda um patrimônio histórico-cultural e beleza natural do cerrado brasileiro incomparáveis, atraindo milhares de turistas do mundo todo. Já a Polícia Militar de Goiás acumula inúmeras denúncias de casos emblemáticos de violência policial, conforme destaca a nota, tais como abuso de autoridade, abordagens ilegais, formação de grupos de extermínio, tortura e desaparecimentos forçados protagonizados pela instituição militar.
Segundo o último Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2021), a polícia goiana é a segunda mais letal do país e é responsável por 30% das mortes anuais totais do estado, índice superior à média nacional, que é de 12%. Em Goiás, para cada policial morto, morrem 240 civis. É o maior índice dentre os 27 estados brasileiros e um dos maiores do mundo, incluindo dados de conflitos bélicos.
A atuação violenta da PM de Goiás, motivo de dor e lamento para muitos goianos, é motivo de honradez para o governador do estado, Ronaldo Caiado (DEM). Os números assombrosos são frequentemente celebrados pelo governador, e ostentados em campanhas publicitárias oficiais e condecorações. Em pronunciamentos, frequentemente Caiado demonstra ser “orgulhoso da tropa que tem”.
Os cavalcantenses e os goianos seguem revoltados pelo crime bárbaro cometido no município que segue sem resposta e cobra investigação e celeridade da justiça. Cavalcante preserva uma história centenária de resistência, sua população é de maioria negra. A cidade abriga o quilombo Kalunga, maior comunidade de remanescentes quilombolas do Brasil.
LEIA NA ÍNTEGRA A NOTA ASSINADA PELAS ENTIDADES
NOTA PÚBLICA EM REPÚDIO À CHACINA PROMOVIDA NA CHAPADA DOS VEADEIROS (SÃO JORGE) PELO ESTADO DE GOIÁS
A comunidade de São Jorge e da Chapada dos Veadeiros, com apoio de diversas entidades de defesa de direitos humanos e movimentos sociais de Goiás, vem a público denunciar a ação policial do último dia 19 de janeiro, já conhecida como Chacina da Chapada dos Veadeiros, promovida pelo Estado de Goiás, que assassinou quatro pessoas, uma delas quilombola, na zona rural de Cavalcante.
Neste dia, a Polícia Militar de Goiás invadiu, sem mandado de prisão ou investigação prévia, uma propriedade localizada na zona rural de Cavalcante onde havia uma plantação de cannabis e encontravam-se sete pessoas. Quatro delas foram assassinadas pela PM sem direito à defesa e outras três conseguiram fugir com vida.
Os policiais alegam que receberam uma denuncia anônima da existência de “tráfico de drogas” e ao chegarem no local, teriam sido recebidos à bala. Entretanto, nenhum policial ou viatura foram alvejados ou feridos. As vítimas foram mortas por 58 tiros, sendo que 40 disparos foram feitos por fuzis.
Salviano, Chico, Jacaré e Alan eram conhecidos por todos da comunidade. Muitos possuem estórias pra contar dos momentos vividos juntos. Eram pessoas de boa índole, não eram violentos, não tinham “passagem pela polícia”, não andavam armados. Não eram bandidos. Eram pacíficos. Morreram por causa de uma guerra insana, que condena e mata de forma seletiva uma parte da população que é preta e pobre, em verdadeiros tribunais de rua.
Por que matar primeiro e perguntar depois? Por que não optar por uma investigação inteligente, que permita conhecer o perfil dos suspeitos envolvidos e seus antecedentes? Por que a polícia goiana em um sem número de vezes não cumpre sua missão de prender suspeitos e garantir o direito de defesa de todas as pessoas, observando o uso proporcional da força e o respeito à lei? Por que não respeitam o Estado de Direito, onde impera a lei e o devido processo legal? Por que os órgãos de controle mantidos com recursos públicos pouco agem?
Nos últimos anos, diversas entidades da sociedade civil vêm apresentando inúmeras denúncias de casos emblemáticos de violência policial, abuso de autoridade, abordagens ilegais, formação de grupos de extermínio, tortura e desaparecimentos forçados protagonizados pela polícia militar. Uma situação tão grave que, denunciada nos meios políticos, foi nacionalmente e internacionalmente reconhecida a partir da realização de uma audiência temática da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em Washington, e da federalização de inquéritos que demonstraram a grave violação de direitos humanos e a inércia das instituições estaduais.
Para se ter uma noção da situação atual, segundo o último Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2021), a polícia goiana é a segunda mais letal do país e é responsável por 30% das mortes anuais totais do estado, índice superior à média nacional, que é de 12%. Outro indicador de letalidade é a proporção de civis mortos para cada policial. Em Goiás, para cada policial morto, morrem 240 civis. É o maior índice dentre os 27 estados brasileiros e um dos maiores do mundo, incluindo dados de conflitos bélicos.
Recente análise de dados oficiais da Justiça nos mostra que só uma em 200 mortes por intervenção policial em Goiás vira processo na Justiça, nos deixando estarrecidos pela total inoperância dos sistemas policial e judiciário que falham reiteradas vezes em garantir justiça por meio de uma apuração ágil e transparente dos casos de violência nos quais estão envolvidas as forças de segurança. E por permanecerem sem solução e na invisibilidade, condenam centenas de famílias a um sofrimento psíquico sem fim, estimulam a impunidade e geram ainda mais violência.
Mas estamos aqui para dizer “Basta”! Não devemos aceitar mais a violência e a impunidade!
Denunciamos que os nossos mais nobres anseios por segurança pública e direito à vida abundante e plena estão sendo sequestrados por um Estado incapaz de controlar a violência e responsabilizar quem descumpre a lei no exercício de sua missão pública. Recusamos a ideia de que nossa segurança depende da quantidade de terror que se espalha pelo mundo.
Exigimos o imediato cumprimento das leis vigentes e uma investigação séria e independente capaz de apurar todas as irregularidades cometidas, assim como fazer justiça à memória das vítimas e à dignidade das famílias.
São Jorge e a Chapada dos Veadeiros, símbolos de resistência e diversidade, não verão a história de seus filhos e filhas serem manchadas pela impunidade e pela violência do Estado.
ASSINAM A NOTA:
Associação Acalme – GO
Associação Curando Ivo
Associação Vida e Justiça – Seccional Goiás
Associação Baobá de Canto Coral – SP
Associação Quilombo Kalunga – AQK
Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (Núcleo GO)
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Geografia (ANPEGE)
Associação Canábica Maria Flor (Maleli)
Associação Cannábica Mãesconhas do Brasil
Associação Sou Cannabis
Associação Cannativa (México)
Associação Nacional de Geógrafo (Seção Goiânia)
Agendas – Associação de Guias de Colinas do Sul
Agentes de Pastoral Negro
Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB
Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara (ABEFC)
Associação ABRACE Esperança
APEPI – Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal
Associação Cultural Cannabica de São Paulo – ACuCa-SP
Asjor – Associação Comunitária da Vila de São Jorge
ACV-CV- Associação de Condutores de Visitantes da Chapada dos Veadeiros
Agentes de Pastoral Negro
Artcanab – Associação Regional de Terapia Cannabica da Chapada dos Veadeiros
Assejor – Associação de Empresários da Vila de São Jorge
Associação Devir Social
Associação da Imprensa de Pernambuco (AIP)
Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal (AMA+ME)
Associação Movimento Sócio-Ambiental Caminho das Águas
Baia HackerSpace
BrCidades
Bloco Não é Não
Coalizão Negra por Direitos
Campanha Despejo Zero
Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge
Centro Acadêmico dos Estudantes de Biologia (CABio – UnB)
Centro Cultural Eldorado dos Carajás
CDHEP – Centro de Direitos Humanos e Educação Popular Campo Limpo
Centro Popular da Mulher – CPM/UBM
Coletivo Terapeutas Solidários
Comissão Pastoral da Terra regional Goiás
Comitê Estudantil Pelo Meio Ambiente (CEMA)
Centro de Promoção da Cidadania e Defesa dos Direitos Humanos Pé. Josimo
Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduino
Coletivo Quilombo
Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil
Coletivo ConVida – Periferias
Coletivo Feminista GSEX
Conectadas pela Vida
Coletivo Pretas de Angola
Coletivo Novembro Negro
Coletivo de Mulheres Pretas Angoleiras
Coletiva Margaridas – Pela Autonomia das Mulheres no PT
Coletivo Pretas de Angola
Coletivo Novembro Negro
CTB Goiás – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
Coletivo Mães Pela Paz de Goiânia
Coletivo Mente Sativa
Conaq – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas
Conselho Nacional do Laicato do Brasil – CNBB
Diretório Central dos Estudantes – DCE UFG
Fórum de Mulheres do DF e Entorno
Fórum de Religiões de Matriz Africana do Estado de Goiás
Federação das Associações de Cannabis Terapêutica – FACT
Fórum de Religiões de Matriz Africana do Estado de Goiás
Fórum Goiano de Mulheres
Frente LGBT de Goiás
Fórum de Mulheres Negras do DF e Entorno
Fórum de Defesa da Vida SP
Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado
Grupo de Mulheres Negras Malunga
Grupo de Pesquisa La Folie – História da Loucura. PUC Goiás/CNPq
Intersindical (Central de Classe Trabalhadora)
IBC – Instituto Biorregional do Cerrado
Instituto Internacional de Pesquisa com Plantas para a Saúde e Bem Estar – Paraíso Sagrado
Instituto Anjos da Liberdade
Instituto de Referência Negra Peregum Peregum
IVELCRUZ – Instituto Cidadania Diversidade e Liberdade de Vera Cruz
Mandato do Deputado Estadual Antônio Gomide
Mandato da Deputada Estadual Adriana Accorsi
Mandato da Deputada Federal Samia Bomfim (PSOL/SP)
Mandato da Deputada Federal Vivi Reis, Psol/PA
Mandato da Deputada Érika Kokay – PT/DF
Mandato do Deputado Alencar Santana – PT/SP
Mandato do Deputado Glauber Braga – PSol/RJ
Mandato da Deputada Federal Áurea Carolina, Psol/MG
Mandato da Deputada Federal Fernanda Melchiona, Psol/RS
Mandato da Deputada Federal Talíria Petrone, Líder do Psol na Câmara dos Deputados
Mandato Popular Deputado Federal Rubens Otoni
Mandato Popular Participativo Vereador Mauro Rubem
Mandato do Deputado Federal Elias Vaz
Mandato da Vereadora Aava Santiago
Mandato do Deputado Estadual Lucas Calil – PSD/GO
Mandato do Deputado Federal Paulo Teixeira – PT/SP
Mandata Ativista SP
Mães de Maio no Cerrado
MNU – Movimento Negro Unificado
Moviment.A.colher – feministas da Chapada dos Veadeiros
Movimento Bem Viver
Movimento Correnteza
Movimento de Meninos e Meninas de Rua de Goiás – MMMR-GO
Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua – MNMMR
Movimento Nacional da População em Situação de Rua – MNPR
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM
Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos – MTD
Mulheres Cannábicas do Brasil
Movimento Independente Mães de Maio
Mães de Maio no Cerrado
Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre Criminalidade e Violência da UFG – NECRIVI
Núcleo de Direitos Humanos da UFG – NDH
Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômicas – NEPE – UEG
Núcleo de Estudos em Agroecologia – NEA Candombá
Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento – ONDAS
Pareia Comunicação e Cultura (DF)
Policiais Antifascismo
Policiais Antifascismo – GO
Pompeia Sem Medo
Pastoral Carcerária do Estado de Goiás – PCr
Pastoral de Rua SP – Padre Júlio Renato Lancellotti
Partido dos Trabalhadores – PT
Partido Socialista Brasileiro – PSB
Partido Socialismo e Liberdade – PSOL
Rede Goiana de Mulheres Negras
Rede Goiana de Mulheres Negras
Rede de Policiais LGBTQIA+ (RENOSP)
RBdC – Rede Brasileira de Conselhos
Rede Contra o Fogo
RENAAQ – Rede Nacional de Advogadas e advogados Quilombolas
Santos Antifascista
Sementes de Proteção – GO
Servitur – Associação de guias da Chapada dos Veadeiros
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF – SJPDF
Sindsaúde
6ª Semana Social Brasileira
Terra de Direitos
Unidade Popular pelo Socialismo – UP Goiás
Uneafro Brasil
Vilanovenses Antifascistas
Uma resposta
Em todo o país estão colocando câmeras nos uniformes da policia, quando vamos vê isso em Goiânia? Já passou da hora!