Casos de assédio e estupro na TV Globo provocam protestos na emissora

Novo relato de assédios e estupro na empresa gera revolta e articulação, fazendo surgir o #MovimentoEsmeralda entre funcionárias da TV
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No último dia 19, a reportagem de João Batista Jr. na revista Piauí revelou um novo e violento relato de casos de assédio e estupro na TV Globo. A matéria traz com exclusividade o relato de Esmeralda (nome fictício adotado pela Piauí) que sofreu por anos inúmeras violências sexuais e morais de funcionários da emissora. A repercussão ganhou forma dentro da empresa no dia de hoje, com um levante de ações de funcionárias da TV Globo na sede da empresa em São Paulo e redes sociais.

AS AGRESSÕES SOFRIDAS POR ESMERALDA

Esmeralda, paraibana e engenheira, trabalhou no setor técnico da emissora em São Paulo desde janeiro de 2017, mas foram necessários apenas poucos meses para que os assédios começassem, envolvendo quatro agressores, funcionários da empresa que trabalhavam na equipe de Esmeralda. 

Conforme mostra a reportagem, os assédios foram variados e gravíssimos. 

Começando pelo primeiro assediador que, ao receber um “não” de Esmeralda após um convite para saírem, reagiu dizendo “Uma mulher gostosa como você, com esse bundão, não tem como ficar sozinha. Você faz um homem perder o juízo”. O mesmo funcionário, em outra ocaqsião, também fez comentários xenofóbicos dizendo para Esmeralda “voltar para a Paraíba em um pau-de-arara”. Poucos meses depois, o mesmo agressor protagonizou o caso mais grave, dizendo que iria até o computador de Esmeralda para ajudá-la com um e-mail, ocasião em que se aproveitou da proximidade física para dizer:

“´Você é muito gostosa, olha só como eu estou’, e foi pegando no pênis por cima da calça. Ele me encurralou com a cadeira junto da parede. Quando fui me levantar, ele colocou a mão na minha parte íntima, enfiando o dedo em mim, e me disse: ‘Fica caladinha, não se mexa, ninguém vai acreditar em você.’ Então ele me mandou abrir a perna. ‘Eu estou nessa porra há muitos anos, abra a perna que você não é ninguém.’ Eu gelei, chorei, fiquei sem reação nenhuma. Fiz o que ele mandou. Naquele momento, eu queria morrer ou entrar num buraco para nunca mais passar por aquilo. Com uma das mãos, ele forçou a minha vagina; com a outra, pegou a minha mão que segurava o encosto da cadeira e colocou em cima do pênis.”

O segundo assediador fazia questão de contar para a funcionária que se masturbava no banho pensando nela. Já o terceiro assediador, com mais de três décadas na empresa, passava por Esmeralda se esfregando e encostando o pênis ereto, dizendo em seguida: “‘Se você abrir a boca, ninguém aqui vai te ouvir. Estou nessa porra desde quando ela foi fundada”. O quarto assediador, técnico na empresa há mais de 18 anos, interrompia conversas de trabalho para dizer “Empina a bunda, sua gostosa, porque eu estou doido para te comer de quatro.”.

Como em diversas situações vividas por muitas vítimas, Esmeralda ficou extremamente abalada por meses, com quadro de ansiedade, burnout, depressão e síndrome do pânico e duas tentativas de suicídio. Precisou de um certo tempo para conseguir criar coragem e formalizar suas denúncias no RH da empresa e, posteriormente, à Justiça.

Em ação trabalhista movida contra a Globo, Esmeralda ganhou uma indenização no valor de R$ 2 milhões. 

Porém, um dos agressores ainda permanece trabalhando na empresa, o que gerou revolta urgente por parte de funcionárias da emissora.

SOBRE AS REAÇÕES E REVERBERAÇÕES

Poucas horas depois da publicação da reportagem de João Batista Jr. no dia 19/5, mais de 300 funcionárias de diversos setores da empresa se uniram para criar ações, como o #MovimentoEsmeralda em apoio à Esmeralda e às mulheres vítimas de assédio na empresa. 

Imagem: reprodução redes sociais

Nesta segunda-feira, 22, funcionárias vestiram-se em tons de verde, cor símbolo do movimento numa referência à cor da pedra esmeralda, registrando fotos na sede da empresa com cartazes em repúdio pelos acontecimentos relatados e prestando apoio à vítima.

Imagem: reprodução redes sociais

Além disso, ao longo do dia, diversas apresentadoras e repórteres da emissora estiveram no ar com roupas verdes em apoio ao movimento, como Ana Maria Braga, Patrícia Poeta, Clara Velasco, Joanna de Assis, Luiza Tenente, Michele Loretto e outras.

Nas redes sociais, as postagens das fotos ganharam repercussão e ampliaram as vozes que repudiam os assédios e agressões, mostrando também um ato de solidariedade e apoio a Esmeralda.

Imagem: reprodução redes sociais

De acordo com mulheres funcionárias participantes do #MovimentoEsmeralda, é importante que atos simbólicos da empresa não engulam ou silenciem a gravidade das denúncias. A mobilização precisa ser mantida até que surjam mudanças práticas no espaço de trabalho.

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