Tá difícil, muito difícil fazer ciências no Brasil dos negacionistas e detratores da educação pública. Na madrugada dessa quinta, 17 de dezembro, o Bloco Didático 3, do campus Cuiabá da Universidade Federal de Mato Grosso, foi invadido por bandidos que arrombaram portas e furtaram equipamentos. A segurança do campus, tremendamente reduzida em especial com os cortes e congelamento de verbas federais desde o início do governo Bolsonaro, como denunciado aqui, aqui e aqui, até chamou a Polícia Militar quando viu a porta externa arrombada, mas não conseguiu impedir o crime.
Além das salas de aula “normais”, com equipamentos da própria UFMT, um dos espaços violados foi o utilizado pela TOCA, a agência experimental de comunicação dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Radialismo e TV, e Cinema e Audiovisual. Um dos projetos da TOCA, a narração pelas redes sociais dos jogos da Liga das Nações de Voleibol Masculino por estudantes mulheres como a bolsista Verônica Rocha, a primeira narradora de um jogo desse nível no Brasil, foi reconhecido há menos de duas semanas com o prêmio máximo da Expocom, premiação a estudantes dada pelo principal evento acadêmico da área de Comunicação no Brasil a Intercom.
Como se trata de um projeto de extensão, as verbas para seu funcionamento são ainda menores e a maioria dos equipamentos furtados (computadores, notebooks, no-breack, modem, hub wi-fi, etc) havia sido doada por professores e colaboradores. O local era utilizado, ainda, de maneira solidária por docentes e discentes de outros projetos de pesquisa e extensão. Um exemplo é o grupo de pesquisas CICLO, do qual faz parte o aluno Marcos Salesse, jornalista que já publicou reportagens (como aqui, aqui, aqui e aqui ) nos Jornalistas Livres e também foi premiado na Expocom com uma foto da Drag Queen Elza de Brasil publicada na capa da revista-laboratório Fuzuê.
Outra pessoa que usa habitualmente o local é a jornalista do PNBonline Safira Campos, pesquisadora do CICLO e que foi aprovada em primeiro lugar, também ontem, no novo Mestrado em Comunicação e Poder da UFMT, com o projeto de pesquisa “Enquadramentos do discurso antiambientalista do governo de Jair Bolsonaro na cobertura noticiosa de Folha de S. Paulo e Estadão”. Safira é mais uma cujas reportagens são eventualmente publicadas também (como aqui, aqui, aqui e aqui) nos Jornalistas Livres.
Veja abaixo nova matéria de Safira Campos, no PNBOnline, sobre o furto na UFMT:
NA MADRUGADA
Bandidos invadem prédio da UFMT e furtam equipamentos
Uma das salas arrombadas pertence ao projeto Agência Toca, recentemente premiado em competição nacional de Comunicação.
Safira Campos – Da Redação
Bandidos invadiram na madrugada desta quinta-feira (17.12) o Bloco do Didático da Faculdade de Comunicação e Artes (FCA) e do Instituto de Linguagens (IL) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Foram levados equipamentos do projeto Agência Toca, recentemente premiado em competição nacional de Comunicação. A Polícia Federal (PF) já foi acionada para investigar o caso.
Conforme professores e estudantes do curso de Comunicação Social, foram levados equipamentos como computadores de mesa, notebooks e uma impressora utilizados nas atividades do projeto Toca, uma agência experimental de comunicação que integra os cursos de Publicidade, Jornalismo, Radialismo e Cinema e Audiovisual da UFMT. Parte dos equipamentos são fruto de doações.
Segundo relatos, o segurança da madrugada chegou a ouvir barulhos, viu uma das janelas das salas quebradas e chamou reforço, mas não houve tempo para impedir a ação dos bandidos. O episódio causou consternação nos professores e estudantes. “Foi muito ruim ver os armários arrombados, a porta quebrada. Levaram nossos equipamentos: computadores, impressora. A Universidade não tem recurso e perder o que já conseguimos é triste”, relata a professora Tamires Coêlho, uma das docentes responsáveis pelo projeto.
Premiação Nacional
Há uma semana, a Agência Toca foi premiada nacionalmente na Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom), que faz parte de um dos eventos mais importantes da área no país. Os estudantes do projeto trouxeram para Mato Grosso o prêmio na categoria “Comunicação e Inovação”, pelo trabalho “Comunicação acessível e multimidiática na cobertura da Liga das Nações de Vôlei”, realizado em 2019.
Veja abaixo Nota Pública do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Poder da UFMT sobre o arrombamento e furto que foi divulgada hoje em reunião da Congregação da Faculdade de Comunicações e Artes da Universidade:
O Bloco Didático da Faculdade de Comunicação e Artes da Universidade Federal de Mato Grosso foi alvo ontem (17/12) de um arrombamento que resultou no furto de equipamentos do auditórios e da Sala da Agência TOCA Experimental. Foram levados um computador de mesa (notebook, CPU, nobreak, teclado e mouse), três notebooks e uma impressora. O computador era cedido pela FCA, mas os notebooks eram fruto de doações realizadas em 2018 e a impressora era cedida por empréstimo de uma docente ao projeto. A Sala 03 do Bloco Didático foi uma reivindicação de professores(as) do Departamento de Comunicação e é utilizada em conjunto com cursos do Instituto de Linguagens. No espaço, além da agência TOCA, atuam também os projetos de extensão Comunicast, Observatório de Publicidade e Sociedade (OPS) e Observatório Pauta Gênero. Fazem uso ainda da sala o Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Cidadania (CICLO) e os Projetos de Pesquisa em Áudio e Jornalismo (AudioJor), Democracia Mediatizada e Jornalismo Digital em Mato Grosso, todos com publicações de artigos em periódicos nacionais e internacionais com avaliação de excelência pela área. No último dia 10 de dezembro, mesma data em que a UFMT completou 50 anos, os estudantes da Agência Toca, que usam esse espaço, foram premiados na mais importante exposição de produtos estudantis de comunicação no país. A cobertura da Liga das Nações de Vôlei com uma transmissão radiofônica e multimidiática para redes sociais em parceria com a Associação Matogrossense dos Cegos (AMC) e a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) ficou em primeiro lugar na Categoria “Comunicação e Inovação” no prêmio da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares em Comunicação (Intercom). Diante disso, o roubo na madrugada deste 17 de dezembro não apenas afeta o trabalho dos estudantes da Comunicação Social, mas também a visibilidade nacional e internacional da Universidade Federal de Mato Grosso na área. O Programa de Pós-Graduação subscreve esta carta assinada pelo corpo docente, no sentido de solicitar aos espaços deliberativos a necessidade de investimentos em segurança na Faculdade de Comunicação e Artes. É importante que reconheçamos que este não é um caso isolado e resultado de um problema de segurança pública. É preciso pensar também na necessidade de investimentos diretos em equipamentos, segurança e em pessoal na Faculdade de Comunicação e Artes. O Bloco Didático, o bloco que reúne FCA e Instituto de Linguagens, onde está o Departamento de Comunicação, e o Museu Rondon são espaços próximos à Avenida Fernando Corrêa da Costa e necessitam da ampliação de investimentos em segurança. Dessa forma, solicitamos que os(as) representantes possam manifestar-se em direção à reitoria da Universidade no sentido de solicitar um posicionamento quanto ao fato ocorrido e sobre as possibilidades de investimento futuro em regime de urgência nessa área.
PPGCOM-UFMT