Dia do Funk – Festa, homenagens e resistência

Homenagens a MC Daleste. Foto Terremoto.

Na última sexta-feira (07/07/2017) aconteceu a primeira comemoração do Dia do Funk em São Paulo. Com ares de ato sócio-político em defesa do gênero musical e homenagem ao MC Daleste, morto na mesma data em 2013, a festa aconteceu na Morada da Liga, casa da organização social Liga do Funk, reunindo MC´s, produtores e fãs do estilo para fortalecer o Funk como movimento cultural.

O estilo musical que vem cada vez mais tomando conta das festas da classe média brasileira tem sua origem nas comunidades periféricas a partir de adaptações do Funk norte americano e mesclas com o ritmo Miami Bass. A batida dançante foi o que conquistou os brasileiros e parte da população viu nesse estilo a possibilidade de cantar suas vivências, as letras de funk brasileiras são marcadas pelas referências à vida na periferia, muitas falam sobre a criminalidade vista do lado de dentro, uso de drogas e sexualidade de forma explicita.

Esse tipo de letra incomoda pessoas que entendem o funk como um incentivador da criminalidade e da prática sexual irresponsável, que enxergam os bailes como um recrutamento de pessoas dispostas a cometer e participar de atos criminosos, como especifica o empresário Marcelo Alonso em sua proposta de criminalização do funk, publicada no site de participação política popular, o e-cidadania e encaminhada ao senado em maio deste ano, após ter recebido mais de 20 mil assinaturas.

O movimento cultural do Funk reagiu a esse projeto e vem se empenhando em mostrar que o ritmo musical é muito mais do que isso, é impossível negar o apelo sexual e a relação das letras com situações ilegais, mas existem muitas coisas positivas no funk que se sobressaem e colocam sua proibição como censura e mais um avanço do conservadorismo e do ódio às classes populares. O Funk atualmente emprega centenas de pessoas e mudou a vivência da periferia, é no funk que muitos que desejam deixar a criminalidade se encontram, além do simples direito à diversão, que por décadas foi negado a essas pessoas que não tinham acesso a nenhum aparelho cultural. Com a chegada dos bailes funk essa construção acontece de dentro para fora, criada na periferia, para a periferia e chamando a atenção de quem não vive ali e dos poderes políticos.

Quanto a problematização das letras, os próprios funkeiros entendem a necessidade de debater sobre isso e vem se articulando para tal, sempre entendendo que as letras são diretamente relacionadas à vivência de cada um e aquilo que é cantado caminha junto com a qualidade de vida em que essas pessoas se encontram. Fala-se do tráfico pois é isso que é vivenciado, fala-se da pratica sexual de forma irresponsável porque a educação sexual ainda não chegou de forma responsável na vida dessas pessoas. A questão colocada é se vale a pena proibir ou educar? O movimento cultural do funk aposta em educar, organizações como a Liga do Funk se preocupam em orientar os tantos jovens que sonham ser MC e dar a eles oportunidades de aprendizado que abrangem os estudos musicais, mas também os sociais.

Um grande avanço na luta contra o preconceito vivido por esse movimento é a instauração do Dia Estadual do Funk, que já é comemorado nos estados do Rio de Janeiro e do Espirito Santo e teve sua primeira comemoração no Estado de São Paulo em 2017, após sua aprovação em novembro de 2016. O projeto de lei foi apresentado pela Deputada Estadual Leci Brandão após a morte do MC Daleste e tantas reações que consideraram o assassinato positivo. O texto apresentado pela deputada na Câmara ressalta a inclusão da data como uma forma de lutar contra a discriminação sofrida por esse público e seus artistas.

 

A escolha do dia 7 de julho está diretamente ligada a morte de Daleste, que foi baleado em 2013 enquanto se apresentava na cidade de Campinas, no palco, com mais de mil espectadores. O caso foi arquivado sem resolução. Para tornar esse dia um misto de homenagem, resistência e festa, a Liga do Funk promoveu em sua sede a comemoração da data que contou com apresentações de MC´s, poetas, discursos saudosos, participação da família de Daleste e a inauguração do projeto “Morada da Liga” que dará formação intensa para pessoas que desejem se envolver profissionalmente com o mundo do funk.

 

Taís Di Crisci, é socióloga e cofundadora da GICA TV

 

Veja entrevista com Bruno  Ramos da Liga do Funk e a Deputada Estadual Clélia Gomes sobre a “Lei do Funk”

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