Baixa Estima
Cresci num núcleo familiar denso e complicado, marcado pela escassez, alcoolismo, trabalho e com uma relação pouco amigável com a escola. A infância e a adolescência me trouxeram um senso de responsabilidade precoce e também contribuíram para a construção da minha auto-estima – ou melhor, da ausência dela.
Contextos sociais marginalizados têm resultados previsíveis na vida adulta: sub-empregos, vícios e criminalidade. Essa é a regra do jogo. Alguns poucos e fortes conseguem escapar dessa realidade, dificilmente sozinhos, nunca sem levar marcas e códigos por toda vida. Às vezes, a desesperança e o desencanto com o futuro surgem, e na maior parte do tempo, ando curvado pelos problemas e, literalmente, pela postura.
Durante muito tempo, sem perceber, fotografei o que os olhos encontravam no nível do chão. Os defeitos e cicatrizes do tempo nos pisos. A passagem das pessoas, os objetos esquecidos e o lixo. Tais registros revelam esse meu andar cabisbaixo, esse jeito de buscar referências de baixo pra cima, metáfora de não jogar fora, nem deixar pra trás o que doeu. Da matéria ao caráter e subjetividade.
.
Minibio Cicero Costa
Cicero Costa, pseudônimo de Wallace da Silva Costa, maio de 1994. Nascido e criado no centro da cidade de São Paulo. Filho mais novo de Maria Alice da Silva Costa e Antonio Francisco Mendes Costa, ambos nordestinos retirantes.
Suas referências humanas e estéticas se desenvolveram a partir do seu contexto geográfico e familiar, através dos ofícios de seus pais, sua mãe vendedora ambulante e seu pai balconista de bar. A região onde cresceu, entre os bairros do Bixiga, Baixada do Glicério e Brás, onde trabalhou boa parte da sua infância e adolescência, foram decisivas na sua percepção de mundo, e como indivíduo, o que mais tarde se tornaria nítido na sua produção, que gira em torno de memórias afetivas e temas que permeiam sua vida, tais como trabalho, traumas, vícios, violência, questões culturais e de identidade.
.
Para conhecer mais o trabalho do artista
https://marteloagalopado.tumblr.com/
https://www.instagram.com/cicero.co/
.
O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, recriar seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, de quintal, de rua, documentação desses dias de novas relações, essenciais, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente. Um universo.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente