O governo de Nicolás Maduro comemorou na madrugada da última segunda-feira (07) a vitória da base governista nas eleições legislativas da Assembleia Nacional da Venezuela que aconteceram no domingo (6).
Por Juliana Medeiros e Martha Raquel, direto de Caracas, para os Jornalistas Livres
Com mais de 98% das urnas apuradas e 6 milhões e 251 mil votos válidos, 30,5% do país participou do processo eleitoral. Na Venezuela a votação não é obrigatória e problemas como a pandemia e a falta de gasolina que o país enfrenta justificam a abstenção. Além disso, é tradicional que o comparecimento do povo venezuelano – acostumado a valorizar o voto como exercício democrático – seja mais presente em eleições presidenciais.
Parte insignificante da oposição chamou ao boicote, mas a maioria disputou a eleição. A pluralidade foi garantida não somente com as opções políticas participantes do processo (das 107 que se apresentaram, 98 pertenciam a oposição), mas também haviam fiscais e observadores dessas mesmas forças de oposição acompanhando todas as etapas do processo. Cerca de 90% dos 14 mil candidatos que concorreram eram de oposição ao governo Maduro.
O resultado final, segundo o último boletim do CNE (Conselho Nacional Eleitoral) anunciado pela presidenta da entidade Indira Alfonzo Izaguirre, contou com os seguintes números:
– Grande Polo Patriótico (PSUV e outras 8 organizações chavistas): 4.276 milhões de votos (69,43%)
– Aliança Democrática (AD /Copei /CMC /AP /ElCambio): 1.095 mil votos (17,72%)
– Aliança Venezuela Unida (Voluntad Popular /Primero Venezuela /Venezuela Unida): 259 mil votos (4,15%)
– Aliança Popular Revolucionária (PCV e outras 3 organizações chavistas): 168 mil votos (2,7%)
– Outras organizações: 405 mil votos (6,7%)
Além desses, falta definir os representantes indígenas, cuja eleição teve início nesta quarta-feira (9), com 37 assembleias gerais, respeitando um cronograma especial conforme suas tradições e costumes. Para a realização dessas eleições se realizaram mais de 3.500 assembleias comunitárias prévias nas três regiões do país que possuem população indígena: Ocidente, Sul e Oriente.
Como é o sistema de votação da Venezuela
O mundo enfrenta hoje uma pandemia que já contaminou 67 milhões de pessoas e matou mais de um milhão e meio. Para que o processo eleitoral acontecesse de forma segura, a Venezuela criou um rígido protocolo de segurança sanitária para as eleições legislativas.
Na entrada dos centros de votação as filas respeitavam sempre o distanciamento social, sendo permitida a entrada de apenas 10 pessoas por vez. A espera ocorria, dentro do local, em cadeiras separadas e os eleitores eram chamados um a um para sua sessão. O uso de máscara era obrigatório e a cada etapa havia um agente responsável pela biossegurança que oferecia álcool para desinfecção das mãos.
Na sala de votação, 5 etapas eram obedecidas, conforme a metodologia venezuelana. Primeiro a identificação com a cédula de identidade e o reconhecimento por biometria – que liberava a urna. Em seguida a votação secreta em lista, votação nominal e retirada do comprovante. Depois de conferido o voto impresso com o voto da urna, o votante colocava o papel em uma urna hermeticamente fechada. Em seguida, assinava a lista da sessão e colocava o dedo polegar para o carimbo da digital (com tinta própria que leva alguns dias para sair, o que impede que um mesmo eleitor compareça mais de uma vez para votar).
Para garantir um processo transparente, a eleição contou com 17 auditorias e observadores nacionais e internacionais. Do país, 1600 pessoas, de todos os partidos, fiscalizam o processo. Já na ala internacional, foram mais de 200 observadores de 34 países, entre os quais muitos parlamentares de países latinoamericanaos, europeus e africanos.
Os observadores convidados pelo CNE apresentaram relatório técnico declarando, inicialmente, que as eleições e o direito ao voto ocorreram de maneira livre e soberana. Além disso, lembram em nota que a Venezuela realizou simulações prévias ao 6 de dezembro com bom comparecimento de eleitores, para familiarização com o processo e eventuais dúvidas que pudessem surgir. Assim como o sufrágio em si, a participação em simulações é voluntária. Os observadores concluem fazendo um chamamento à comunidade internacional, especialmente a UE e países da região (numa referência ao Grupo de Lima) para que respeitem os resultados eleitorais oriundos da vontade popular.
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