por Carlos Barros, cantor, professor e pesquisador. Salvador/BA.
E em 7 e setembro de 1822, D. Pedro I proclamou a independência do
Brasil!
Quantos de nós não temos essa frase de cor na cabeça desde crianças em fase escolar? A história, enquanto discurso é representação de fatos e processos complexos.
A colônia portuguesa na América foi tornada Reino Unido de Portugal e Algarves em 1808, como estratégia para fugir ao domínio napoleônico no continente europeu. Era um prenúncio para a separação política que viria. Na Côrte de João – o VI – a instabilidade caracterizava os bastidores e seu retorno para a sede do reino parece ter precipitado o famoso grito que também parece ser o ato que deflagra a tal independência.
A questão é que essa data tem a relevância simbólica de tantas outras.
Para nós, baianos, 2 de julho tem uma importância maior e mais concretamente percebida. Os pretos, as mulheres, os caboclos, os indígenas…
O sete de setembro de 1822 se consuma no 2 de julho de 1823. Isso é um fato aqui na Bahia.
Mas por que o resto do Brasil não se convence disso?
Porque o sete de setembro é uma data paulista. É uma data que celebra a vitória do Brasil que se construiu com a segunda sede do governo geral da colônia, desde o século dezessete.
Não que o sete de setembro – hoje, aliás – seja desimportante. Essa data simboliza uma tomada de posição de um membro da elite brasileira em relação ao que resolveu assumir em termos de lugar politico. O filho do rei quer ser imperador da ex-colônia. Ponto.
Pedro era mais brasileiro que português, mas – lembremos – era um monarca.
Os ventos republicanos que invadiram – desde França – as colônias americanas chegaram por aqui, mas só abanaram os leques no final do século XIX, quando uma proclamação (outra vez esse nome) se deu e da noite para o dia, o povo se viu regido por uma federação, ao invés de um Império.
Desde esses tempos, o Brasil não é – mesmo – para amadores!
Voltando ao sete de setembro, também aqui na Bahia, é interessante como nós subvertemos para melhor os fenômenos sociais. Além daquela beleza de homenagem aos Caboclos (indígenas abrasileirados e entidades espirituais) que vemos no 2 de julho, no dia de hoje, muitos espaços sagrados afro-ameríndios celebram a força da presença ancestral indígena na nossa terra.
No sete de setembro, além de muitas Casas de Candomblé e Umbanda fazerem festas e cultos internos aos Caboclos, há muitos relatos de biografias de médiuns que descobriram sua ligação com os seres ancestrais da terra nessa data!
Os caboclos apontam a independência dizendo que eles – os índios – nunca foram submetidos à Coroa. Muitos foram até dizimados, mas nunca subjugados no que há de mais potente no humano: o ancestral vívido no presente.
Que o sete de setembro possa ser ressignificado, sempre!
E cá pra nós – preciso ser fiel ao afetivo – o grito dos Caboclos me é mais profundo que o grito do Ipiranga!
“Eu sou meu pequenininho!
A bença meu pai, a bença, minha mãe! Deus lhe abençoe!”
Xêto A!
NO LINK ABAIXO, HISTÓRIAS DA BAHIA, DA REDE ANÍSIO TEIXEIRA, UM CONTEÚDO ESPECIAL PARA A COMUNIDADE ESCOLAR:
http://pat.educacao.ba.gov.br/tv-anisio-teixeira/conteudo/exibir/10987