Um sete (Flechas) de setembro!

por Carlos Barros, cantor, professor e pesquisador. Salvador/BA.

E em 7 e setembro de 1822, D. Pedro I proclamou a independência do
Brasil!

Independência ou Morte!, também conhecido como O Grito do Ipiranga, 4,15×7,6m, 1888, Museu Paulista. Pedro Américo de Figueiredo e Melo foi um romancista, poeta, cientista, teórico de arte, ensaísta, filósofo, político e professor brasileiro, mas é mais lembrado como um dos mais importantes pintores acadêmicos do Brasil, deixando obras de impacto nacional.

Quantos de nós não temos essa frase de cor na cabeça desde crianças em fase escolar? A história, enquanto discurso é representação de fatos e processos complexos.

A colônia portuguesa na América foi tornada Reino Unido de Portugal e Algarves em 1808, como estratégia para fugir ao domínio napoleônico no continente europeu. Era um prenúncio para a separação política que viria. Na Côrte de João – o VI – a instabilidade caracterizava os bastidores e seu retorno para a sede do reino parece ter precipitado o famoso grito que também parece ser o ato que deflagra a tal independência.

A questão é que essa data tem a relevância simbólica de tantas outras.

Para nós, baianos, 2 de julho tem uma importância maior e mais concretamente percebida. Os pretos, as mulheres, os caboclos, os indígenas…

O Primeiro Passo para a Independência da Bahia, de Antônio Parreiras.

O sete de setembro de 1822 se consuma no 2 de julho de 1823. Isso é um fato aqui na Bahia.

Mas por que o resto do Brasil não se convence disso?

Porque o sete de setembro é uma data paulista. É uma data que celebra a vitória do Brasil que se construiu com a segunda sede do governo geral da colônia, desde o século dezessete.

Não que o sete de setembro – hoje, aliás – seja desimportante. Essa data simboliza uma tomada de posição de um membro da elite brasileira em relação ao que resolveu assumir em termos de lugar politico. O filho do rei quer ser imperador da ex-colônia. Ponto.

Pedro era mais brasileiro que português, mas – lembremos – era um monarca.

Os ventos republicanos que invadiram – desde França – as colônias americanas chegaram por aqui, mas só abanaram os leques no final do século XIX, quando uma proclamação (outra vez esse nome) se deu e da noite para o dia, o povo se viu regido por uma federação, ao invés de um Império.

Desde esses tempos, o Brasil não é – mesmo – para amadores!

Voltando ao sete de setembro, também aqui na Bahia, é interessante como nós subvertemos para melhor os fenômenos sociais. Além daquela beleza de homenagem aos Caboclos (indígenas abrasileirados e entidades espirituais) que vemos no 2 de julho, no dia de hoje, muitos espaços sagrados afro-ameríndios celebram a força da presença ancestral indígena na nossa terra.

Um patrimônio histórico e cultural do povo brasileiro, o dia 2 de julho, em que se comemora a independência da Bahia, marca as lutas travadas no estado contra as tropas portuguesas que resistiam na região. A celebração da data através de um cortejo festivo virou tradição secular e é vista como uma memória viva da nossa história. O sociólogo e professor da UFBA, Adalberto Santos, conta um pouco sobre os aspectos culturais que envolvem o 2 de julho na Bahia.

No sete de setembro, além de muitas Casas de Candomblé e Umbanda fazerem festas e cultos internos aos Caboclos, há muitos relatos de biografias de médiuns que descobriram sua ligação com os seres ancestrais da terra nessa data!

Os caboclos apontam a independência dizendo que eles – os índios – nunca foram submetidos à Coroa. Muitos foram até dizimados, mas nunca subjugados no que há de mais potente no humano: o ancestral vívido no presente.

Que o sete de setembro possa ser ressignificado, sempre!

E cá pra nós – preciso ser fiel ao afetivo – o grito dos Caboclos me é mais profundo que o grito do Ipiranga!

“Eu sou meu pequenininho!

A bença meu pai, a bença, minha mãe! Deus lhe abençoe!”

Xêto A! 

NO LINK ABAIXO, HISTÓRIAS DA BAHIA, DA REDE ANÍSIO TEIXEIRA, UM CONTEÚDO ESPECIAL PARA A COMUNIDADE ESCOLAR:

http://pat.educacao.ba.gov.br/tv-anisio-teixeira/conteudo/exibir/10987

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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