Ailton Krenak, o líder indígena e pensador, estará hoje à noite em São Paulo, e não estará no meio da avenida Paulista parando o trânsito, falando para a multidão, que pena! Não entendo porque a sabedoria fica restrita em pequenas salas, com público restrito, àqueles que chegam cedo às filas. É sempre assim para as pessoas de boa fala, ou estão presas e impedidas de falar, ou estão na universidade e salas reservadas, mesmo que públicas, ou em subterfúgios de vielas.

Mas a metrópole e seus institutos são assim, apenas para alguns. A palavra ameaça sempre, dizem que o lendário Jesus tinha que falar escondido também.
Ailton, que pintara a cara de preto no Congresso Nacional, em luto, em guerra, em pura dor pelos seus parentes indígenas, não esmorece ou desalenta.
Há oito anos, escreveu que todos os rios da América, um dia, vão chegar ao mar! Se não for pacífico vai pro atlântico…
Passei anos pensando nisso, nos ciclos dessa matéria líquida que se rebela a comandos, a água tão vital.
Nesses anos todos tanta água rolou debaixo das pontes, outras não tiveram a mesma sorte, deram em lama, assassinadas.
Na água vejo rebelião, protesto, sede de alforria. Paradoxo desses tempos, a água tem sede de água.
Da Colômbia ao Brasil, as barragens estão em polvorosa, ameaçam populações, evacuam qualquer esperança nos engenheiros e arquitetos, o capitalismo que invade as montanhas e as nascentes.
A água não se curva, por mais que doa, ao domínio dos homens. São tempestades, são tsunamis, secas profundas, acidez ou insalubridade.
Se o presidente tem medo do Triplo A e dos rios voadores, na terceira margem fica nosso lamento e um país de futuro duvidoso.
*Ilustração de Caribé©, imagens por Helio Carlos Mello©