Sem o povo, Museu do Ipiranga será reaberto para marcar os 200 anos da Independência

Na véspera de 7 de setembro, convidados especiais do governo festejarão, no Museu do Ipiranga, os 200 anos do Grito de D. Pedro. A data faz pensar: o povo tem independência e liberdade?
Após quase 10 anos interditado, o Museu do Ipiranga será reaberto no dia da Independência [Foto: Marcos Santos/USP Imagens]
Após quase 10 anos interditado, o Museu do Ipiranga será reaberto no dia da Independência [Foto: Marcos Santos/USP Imagens]

O Museu do Ipiranga será reaberto na comemoração do bicentenário da Independência do Brasil. Mas o povo estará fora da festa. O evento de inauguração, no dia 6 de setembro, estará restrito a convidados e representantes do governo. Em reforma desde 2013, o museu receberá o público geral só a partir do dia 8

Por Thaís Helena Moraes

O dia da Proclamação da República, que fez o Brasil se afastar do mando português, será celebrado pelas autoridades antes da data histórica, no dia 6 de setembro. À festa de reinauguração do Museu do Ipiranga comparecerão somente os convidados especiais do governo. Embora os organizadores do evento não confirmem, uma das razões de comemorar na véspera é o medo de que o local seja palco de manifestações, uma vez que bolsonaristas chamam para as rua neste 7 de setembro os virulentos apoiadores da campanha de Bolsonaro.

A cerimônia reunirá 1.500 convidados, entre membros dos governos estadual, federal e da Prefeitura de São Paulo, além de patrocinadores e parceiros. No dia oficial do Grito de Dom Pedro, só funcionários da instituição, os envolvidos nas obras de reforma e restauro e alunos de escolas públicas poderão circular por ali. Finalmente no dia seguinte, 8 de setembro, o museu, localizado no bairro do Ipiranga, abrirá seus enormes portões para o público geral.

O que comemorar?

Sob gestão da Universidade de São Paulo, o museu esteve interditado nos últimos 9 anos para solução de problemas estruturais. O edifício apresentava rachaduras, infiltrações, fiação exposta e falta de sistema de combate a incêndios. A reforma, porém, teve início 6 anos atrás, em 2016. Pinturas, esculturas, mobiliário e outros itens do acervo passaram por restauração: mais de 3 mil peças receberam tratamento. Os custos com toda a empreitada somam R$ 235 milhões.

As comemorações do bicentenário da Independência do Brasil começaram com achegada do coração de Dom Pedro I, na última terça-feira (23). A relíquia, vinda da cidade portuguesa do Porto, pode ser vista no Palácio do Itamaraty, em Brasília, até 8 de setembro. Todos os festejos, no entanto, significam pouco em uma nação que vive no abandono. O povo brasileiro está enfrentando uma pandemia que ainda não terminou e produziu quase 700 mil mortos por Covid. Ocorrem um aumento vertiginoso da fome, com milhares de famílias morando na rua, e recorrentes ameaças à democracia. Basta ver o processo eleitoral deste ano, que se depara com o aceno de um golpe, incentivado pelo presidente da República. Em 200 anos, não conseguimos acabar com o racismo, as desigualdades sociais, a intolerância religiosa, a matança de pobres nas periferias. O feriado cívico é uma oportunidade para refletir: há, na realidade, independência e liberdade para comemorar?

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