A Justiça determinou nesta sexta-feira (21/10) a prisão de Steve Bannon, ex-estrategista da campanha que elegeu Donald Trump presidente dos Estados Unidos, em 2016. Bannon é conhecido como um grande articulador da ultradireita global. Segundo a sentença, ele deve cumprir 4 meses de prisão e pagar multa de US$ 6.500. A condenação ocorreu por desacato à autoridade do Comitê que investiga a invasão ao Capitólio – centro do legislativo do país –, por ter se recusado a depor e a entregar documentos sobre o episódio.
Por Camilla Almeida
No dia 6 de janeiro de 2021, apoiadores de Donald Trump, incentivados pelo próprio presidente, atacaram o Capitólio, ameaçando parlamentares, destruindo objetos e móveis dos gabinetes. Era uma tentativa de barrar a certificação da vitória do presidente Joe Biden, que derrotara Trump. No tumulto, cinco pessoas morreram.
De acordo com as investigações, Steve Bannon entrou em contato com Trump duas vezes na véspera do atentado e ainda participou de uma “reunião de planejamento” em um hotel em Washington. Neste mesmo dia, o ex-estrategista disse em seu podcast: “O inferno vai acontecer amanhã”. War Room, ou Sala de Guerra, é o nome do podcast criado para difundir ideias e opiniões de extrema-direita.
Bannon foi intimado pelo comitê a entregar todos documentos e mensagens trocadas entre Trump e aliados, mas se recusou alegando “privilégio executivo” – um instrumento institucional que prevê o sigilo de diálogos do presidente com seus assessores.
A invasão do Capitólio não é único problema que enfrenta na Justiça. Em 2020, ele chegou a ser preso por fraude, mas foi liberado ao pagar fiança de US$ 5 milhões.
Atualmente, o direitista é investigado por fraude, lavagem de dinheiro e pela participação de um suposto esquema de arrecadação de recursos para a construção do muro que separa os Estados Unidos do México.
Ligação com o Clã Bolsonaro
O aliado de Trump já se encontrou algumas vezes com o presidente do Brasil e seus filhos. “Bolsonaro é um grande herói para todos nós”, afirmou Bannon em entrevista à BBC, em setembro deste ano. “Bolsonaro ainda teria ao menos uma coisa ou duas a ensinar ao presidente Trump sobre como conduzir uma campanha ou sair de uma cilada”, disse. Há registros de vários encontros entre ele e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) em 2018, ano em que Bolsonaro foi eleito.
Steve Bannon é considerado um “oráculo” para a família. Muitas estratégias trumpistas foram aplicadas no bolsonarismo. Um exemplo é a adoção de uma campanha divisionista. Tanto Trump quanto Bolsonaro foram eleitos por assumirem o papel de um candidato que não tenta agradar e ainda incentiva a insatisfação de uma parcela a qual Bannon chama de “maioria silenciosa”. A demolidora disseminação de fake news e a construção de narrativa imoral de adversário político também são táticas herdadas do ex-estrategista.
Ele já declarou Eduardo Bolsonaro como seu representante no Brasil e o tem como ícone do “movimento internacional de partidos de extrema direita”. Em fevereiro de 2019, o trumpista afirmou à Folha de S. Paulo que as investigações das rachadinhas no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL) são parte da guerra do “marxismo cultural” contra o clã de Jair Messias.
Mentiras sobre Lula, o STF e Brasil
Em seu podcast, Bannon já afirmou que o Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro é “cheio de comunistas declarados”. “Eles [os ministros do Supremo] estão chancelando o uso de urnas que vêm da Venezuela. O povo do Brasil quer cédulas auditáveis e em papel”, acrescentou, criticando o nosso sistema eleitoral. O direitista foi responsável por espalhar informações falsas sobre Lula (PT), adversário de Bolsonaro na disputa pela Presidência da República, além divulgar mentiras sobre as instituições brasileiras.