Recuperação com milhões de desempregados? Para quem???

Os frios números do IBGE sobre o exército de desempregados no Brasil

Os frios números do IBGE sobre o exército de desempregados no Brasil

Por Renê Gardim*

O cálculo da mão-de-obra economicamente ativa empregada no Brasil sempre enfrentou sérios problemas diante de um paradoxo. Enquanto economistas se debruçavam sobre planilhas de Excel tentando mostrar a “realidade” da oferta de vagas no país através dos números, progressistas e movimentos sociais enfrentavam a dura realidade da fragilidade de nosso mercado. E hoje essa dualidade está cada vez mais clara.

O IBGE divulgou os números de desempregados no país no trimestre encerrado em agosto. Os frios números dos economistas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas apontam para uma redução no volume de pessoas sem emprego. Para as estatísticas, hoje temos 13,7 milhões de desempregados, ou 13,2% da população economicamente ativa. Diante disso, hoje seriam 90,2 milhões de ocupados.

Mas espera lá! Matematicamente esses números estão corretos. No entanto, o que significa emprego? Para o trabalhador é uma ocupação onde ele possa ter uma renda mensal garantida e segura, com os benefícios conquistados a duras penas durante todo o século passado. Nesse contexto, ser camelô ou fazer serviços esporádicos não se enquadram nessa definição.

Então, voltemos aos frios números do IBGE. Pelo levantamento feito pelos estatísticos, dos 90,2 milhões de ocupados, no Brasil temos 37,715 milhões de informais, que não têm carteira assinada, não recebem vale-refeição, nem vale-transporte, não terão férias remuneradas e nem 13º salário em dezembro. Também não têm recolhida a Previdência e nem o FGTS.

Ou seja, temos 40% do total de ocupados que não têm emprego fixo com carteira assinada. Somando-se os desempregados chegamos ao assustador 51,415 milhões de pessoas que não têm um emprego formal.

E onde estão esses trabalhadores subempregados? De acordo com o IBGE, 10,023 milhões são “empregados” no setor privado sem carteira assinada; 3,796 milhões são trabalhadores domésticos sem carteira assinada; 19,085 milhões são trabalhadores por conta própria sem CNPJ (camelôs, vendedores de porta em porta, e aqueles que fazem pequenos bicos como ajudantes de pedreiro, eletricistas, entre tantos outros); 2.097 mil trabalhadores familiares auxiliares; 691 mil são “empregadores” sem CNPJ, que trabalham na informalidade e criam vagas para outros desempregados; e por fim, 2,097 milhões trabalham no setor público sem carteira assinada.

Além de tudo isso, temos a subutilização, que é aquelas pessoas que trabalham menos do que poderiam. Esse grupo reúne 32,9 milhões de brasileiros que também ganham menos devido a insuficiência de horas trabalhadas, de acordo com o IBGE. Além disso, hoje o que o governo considera “trabalhador informal” tem uma renda média quase 32% menor que aquele com carteira assinada no setor privado. Já entre os domésticos a diferença sobe para quase 41%.

Todos os dados contidos aqui estão na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua Mensal, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e podem ser encontrados no endereço: https://bit.ly/3keaEmW.

A matemática é uma ciência exata e os números não estão incorretos. Mas as famílias dos trabalhadores não comem, vestem ou usam os números como transporte. A precarização do emprego é uma triste realidade e não adianta tentarem usar os números numa alegada “melhoria da economia nacional”. As ruas mostram qual é a realidade que a população vive.

(*) Renê Gardim é jornalista há 36 anos. Atuou na “Folha de Londrina”, “Jornal de Londrina” e RBS. Foi editor de economia e agronegócio no DCI.

Texto anterior publicado por Renê Gardim: https://jornalistaslivres.org/povo-sem-carne-modelo-economico-perverso/

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