Por Rudá Ricci, cientista político e presidente do Instituto Cultiva
Rebeca ganhou a medalha de ouro. Já vejo alguns postando: “Mas, só ela levou duas medalhas e ouro para o Brasil foram somente duas”. Este é o pensamento no baixo astral reinante entre parte dos brasileiros que se acham descolados.
O baixo astral mais evidente nas redes sociais diz respeito à queda de Bolsonaro. Nas redes sociais tudo tem que ser instantâneo e alguns pesquisadores dizem que a lógica binária do “sim” ou “não” da internet leva ao raciocínio mágico em que tudo tem que ocorrer como eu quero. Assim, estratégia e tática só servem se o jogo acabar nos 10 primeiros minutos. Caso contrário, fica enfadonho e perde a graça. Na política é ainda mais impressionante: Bolsonaro definha publicamente, mas aparecem apressadinhos para dizer: “Mas ele continua lá”.
Esse sentimento apressado associado ao baixo astral parece contaminar mais os lulistas traumatizados com a sequência impeachment-prisão de Lula-vitória de Bolsonaro. Eles nunca falham: são absolutamente previsíveis. Vejamos a reação deles a duas notícias recentes.
A primeira notícia foi divulgada pela CNN Brasil, cuja linha editorial é de direita convicta sobre a pressão que Mourão estaria sofrendo para renunciar. Seriam conselhos de amigos militares. Por ser CNN, tenho a impressão de que é notícia plantada por “amigos do Mourão”. Explico: Bolsonaro disse que Mourão é “cunhado indesejado”. Na mesma hora que Ciro Nogueira dá um chega-pra-lá em outro general, o até então todo-poderoso Luiz Eduardo Ramos. Mourão cai para o fim da fila. Afinal, quem vai pedir algum favor para alguém que não estará na chapa em 2022? Sem atrativos, uma nota afirmando que Mourão pode renunciar joga os holofotes no desprestigiado vice-presidente. E chama a atenção do Centrão, afinal, acabaram de comprar uma casa que parece ter rachaduras.
O que dizem os “progressistas de plantão”? Que Mourão não tem coragem, que ele não vai largar 100 mil por mês (o que revela que nem leram a matéria com cuidado) etc. e tal. A leitura rasa não consegue entender o jogo. Porque, afinal, o jogo tem que ser ganho em 10 minutos.
Surge, ainda, outra notícia-bomba. A antropóloga Adriana Dias, da Unicamp, especialista em estudos sobre neonazismo, encontra inúmeras evidências de relacionamento de Bolsonaro com redes nazistas. A denúncia inicial – a história está no começo – foi feita pelo The Intercept. Mas, o que dizem os “Cavaleiros do Apocalipse” que se dizem progressistas? Dizem: “Não vai dar em nada”, “os bolsonaristas não estão nem aí”, “os seguidores de Bolsonaro começarão a usar suástica na roupa”.
O baixo astral que toma esses pretensos “militantes das redes sociais” é evidente. Estão traumatizados. Fico pensando como age a direita no Brasil. E percebo uma maturidade política muito maior que essa pretensa esquerda de celular. Alguém já viu alguém da direita postar nas redes sociais: “Acho que vai dar Lula, ele está em primeiro lugar em todas as pesquisas”“, ou “O PT já levou 4 eleições e Bolsonaro só ganhou porque roubou”? Não. Não postam frases assim porque fortaleceriam Lula.
A falta de senso político desse pessoal traumatizado é preocupante. Se continuarem agindo assim, Lula precisará armar uma campanha digital para desarmar a antipolítica de… parte de seus eleitores!!! A ingenuidade ou falta de autocontrole é por demais primária.
Ter medo é normal, mas alimentar o pânico gera paralisia. Está na hora desse pessoal da “militância digital” usar mais o cérebro.
