Rádios acusadas por Bolsonaro afirmam ter provas contra denúncias

Em tentativa desesperada, Bolsonaro acusa suposto boicote à sua candidatura por parte de emissoras de rádio do NE
Bolsonaro faz acusação desesperada às rádios do Nordeste. Foto: [Reprodução/Adriano Machado/Reuters]

Após a campanha de Bolsonaro (PL) denunciar suposto boicote à sua campanha por rádios do Nordeste, as emissoras afirmam ter provas contra as acusações. Ao menos 6 das 8 emissoras citadas contestam os dados apresentados pela denúncia. No decorrer da apuração da denúncia, inúmeras inconsistências apontam para fraudes na queixa. Esse ato de Bolsonaro foi visto pelos petistas como desespero, diante das perspectivas de derrota no segundo turno no domingo (30). Lula apresenta indicativos de 4 a 6 pontos percentuais à frente do candidato à reeleição. 

Por Raquel Tiemi

O caso teve início na segunda-feira (23), apenas um dia após Roberto Jefferson, comparsa de Bolsonaro, recepcionar policiais federais que queriam prendê-lo com tiros de fuzis e granadas. O ministro das Comunicações, Fabio Faria, anunciou em suas redes sociais que seria exposto um “fato grave” em comunicado no Palácio da Alvorada às 19h30. Em tom alarmista e ao lado do coordenador da campanha eleitoral de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, afirmaram que foram feitas 154.085 inserções a menos para o candidato do PL em relação ao petista entre os dias 7 e 21 de outubro. Além disso, declararam a realização de uma dupla checagem desses fatos. 

“Essa é uma GRAVE violação do sistema eleitoral! Estamos indignados e estamos tomando as medidas cabíveis junto ao TSE. Nós, que preservamos a democracia e direito de igualdade, queremos uma campanha limpa e justa”, ressaltou o ministro em sua página do Twitter. Muitos políticos e apoiadores bolsonaristas repetiram o discurso e pediram a cassação da candidatura de Lula. 

Por outro lado, a acusação foi vista por petistas e até mesmo por parte do QG da campanha de Bolsonaro como uma medida derrotista e desesperada às vésperas da decisão do segundo turno no domingo (30). 

Resposta do TSE

Na terça-feira (24), em resposta à denúncia, o presidente do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, afirmou que a acusação feita pelo atual governo é extremamente séria. Por isso, deu à campanha de Bolsonaro 24h para apresentar provas da acusação contra as rádios. Além disso, alertou que, caso seja  comprovado que o pedido foi acionado para causar tumulto no pleito eleitoral, é possível que o presidente passe por investigação de crime eleitoral. 

Dentro do prazo estabelecido, um documento com as “provas” do suposto boicote de rádios locais contra o atual presidente foi entregue às autoridades, as quais já começaram a listar as irregularidades e inconsistências da denúncia. Diferentemente das mais de 150 mil inserções a menos que tinham sido “checadas”, o documento apresentou apenas 700, de emissoras de Bahia e Pernambuco. Mas até essas eram fakes.

Inconsistências na apuração da denúncia 

Não demorou para que mais falhas surgissem. Primeiramente, segundo a equipe de Bolsonaro, a apuração foi realizada com o uso da programação via streaming das rádios, ou seja, pela internet. Porém , de acordo com especialistas da área, a programação online não apresenta obrigatoriedade na divulgação de conteúdos eleitorais, apenas aquela que é veiculada nas rádios. Portanto, os dados levantados não comprovam as alegações. 

Outras falhas dizem sobre as divergências nas datas e horários em que as supostas inserções teriam sido feitas. As emissoras informam que possuem gravações dos respectivos dias analisadas desmentindo as acusações. Além disso, uma das maiores evidências de que essa “apuração” da campanha Bolsonaro é um tiro n’água foi o erro na nomeação de uma das rádios no relatório. Trata-se da indicação da Rádio Bispa com a frequência FM 97.1. No entanto, sua frequência correta seria a FM 98.7, a emissora dona da FM 97.1 é a Viva voz, ambas rádios evangélicas. 

Decisão final do TSE

Com provas “extremamente genéricas”, Moraes rejeitou a ação do presidente ao anular o processo sobre o suposto boicote de rádios de sua campanha na quarta-feira (26). Em sua justificativa, disse que o documento denominado de “relatório de veiculações em Rádio”, apresentado pela campanha de Bolsonaro foi produzido por uma empresa – “Audiency Brasil Tecnologia”- não-especializada em auditoria e cuja metodologia não oferece as condições necessárias de segurança para as conclusões apontadas pelos autores. 

O presidente do TSE também expediu um ofício à Procuradoria-Geral Eleitoral para apurar suposto cometimento de crime eleitoral com finalidade de tumultuar o segundo turno das eleições em sua última semana. 

Bolsonaro reagiu alegando que o magistrado “não segue a nossa Constituição e não tem respaldo do Ministério Público” e que “vai até às últimas consequências” sobre rádios. Além disso, continuou a polêmica após a anulação do processo ao convocar comandantes das Forças Armadas para uma reunião extraordinária no Palácio da Alvorada. 

COMENTÁRIOS

POSTS RELACIONADOS

A nova fase do bolsonarismo

Por RODRIGO PEREZ OLIVEIRA, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia O ato de 25/2 inaugurou um novo momento na história da