Zona de indefinição. Reflexões Pandêmicas:
1. Medida restritiva
Já não se caminhava na cidade, livre de estruturas condicionantes e territórios mapeados. O trânsito entre ambiências não ocorre alheio às múltiplas vigilâncias.
Em 2020, por medida de segurança sanitária, afinal recomenda-se não caminhar na cidade.
2. Esterilização
Os protocolos de higiene para prevenção do covid-19 devem ser rigorosamente respeitados, ainda que o coronavírus não tenha inaugurado atitudes de assepsia social.
3. Comportamento disfuncional
Em espaços de livre circulação, um comportamento irregular destoa desarticulado entre os habitantes, a maioria tensionados pelo trabalho.
Antes da covid-19, o fluxo das multidões em circulação – embaladas pelo ideário de profissional promissor que edificou São Paulo – já dava indícios de esgotamento (quando não aparecia de fato decaído, refletido seu flagelo nas edificações espelhadas).
Na atual circunstância, os escritórios refrigerados com poltronas giratórias e vista panorâmica, assumem seu aspecto de mausoléu fantasmagórico.
4. Manada
As instâncias de poder e exclusão que constituem as diferentes ocupações e serviços, finalmente revelam seus ideais de segregação e privilégios. Desenvolver atividades suficientes para a subsistência e que instituem modos alternativos de vida, se tornou um capricho ou utopia. O trabalho se converteu em uma espécie de renúncia do pensamento ou da vida, uma adesão obediente a tais estruturas de indefinição e segregação. Entre o desemprego e servir em precárias condições, nota-se a paralisia.
5. Aqui havia um rio
O rio que fluía neste vale já não nos alivia com sua brisa, ainda que esteja no ar vestígios de sua corrente. Se puder pausar por um interminável instante sobre esta ponte, poderá ouvir as lavadeiras, os pescadores, e as aves em suas margens. Estão todos aqui, petrificados pela memória, aguardando que se encerre o tempo do concreto, à espera que os autorize.
Zona de indefinição.
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Mini Bio
Luanna Jimenes, artista do corpo e da performance, pesquisadora em linguagens transdisciplinares. Dedica-se a atividades educativas e de mediação. Seus processos criativos ganham sentido em experiências imersivas, seja em programas na cidade ou no campo. Sua produção atende diferentes suportes, presenciais e audiovisuais.
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Para conhecer mais o trabalho da artista
https://emperformance.wixsite.com/nucleodeperformance
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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente