Carcará. 2021
O carcará não é, taxonomicamente, uma águia, e sim, um parente distante dos falcões. Diferentemente destes, no entanto, não é um predador especializado e sim um generalista e oportunista, alimentando-se de insetos, anfíbios, roedores e quaisquer outras presas fáceis; ataca crias de mamíferos (como filhotes recém-nascidos de ovelhas),
acompanha urubus em busca de carniça, são aves necrofagas.
Um casal de carcarás pode ser visto próximo dos humanos, por exemplo, numa área de atividade agrícola, mais especificamente, chegando a alguns metros distante de um trator que esteja arando terra, à espera de uma oportunidade de encontrar insetos e outros eventuais animais que inevitavelmente se tornam visíveis a essas aves predadoras.
O carcará vive solitário, aos pares ou em grupos, beneficiando-se da conversão da floresta em áreas de pastagem, como acontece no Pará. Pousa em árvores ou cercas, sendo frequentemente observado no chão, junto à queimadas e ao longo de estradas. Na região de Belterra, no estado do Pará, por muitas centenas de quilômetros quadrados, eles são a única espécie com vida que se vê, em meio ao desmatamento desenfreado que ocorre acompanhando a Rodovia 163.
Além das sonoridades que o carcará emite, as conversas que se podem ouvir nessa região, saindo das bocas de homens brancos encamisados, negociam 100 mil hectares de terra, à venda por R$ 1400 cada hectare, terra que é parte de uma fazenda com 1000 hectares abertos já. E segue: “Desembargador está operando aqui….virá a Anistia de reserva… enquanto isso estamos abrindo.”
Ali, perto dessa cidade Belterra, que foi construída pela Ford para extração de borracha para seus pneus, uma cidade no meio da Amazônia que tem arquitetura americana, americanos, e muita coisa escrita em inglês, se entende, se vê, se entra no ponto nevrálgico da questão política brasileira e da disputa que ocorre no Planalto às pressas. Da visão de ave de rapina que o Google Maps me dava, decidi ir a campo pisar nas Terras dessa disputa. Pousei. O silêncio, a seca, a terra infértil depois do envenenamento, as castanheiras, e o pio do carcará, são o que resta nessa paisagem que pouco antes era parte do dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo.
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Minibio
Bianca Turner (São Paulo, 1984) é artista multimídia, bacharel em ‘Design e Prática de Performance’ na Central Saint Martins College of Art & Design (2011, Londres, Reino Unido) e Master of Arts em “Cenografia” pela Royal Central School of Speech and Drama (2013, Londres, Reino Unido).
Participou de exposições coletivas com instalações e ações multimídia, em Londres, onde residiu de 2007 até 2013, e em São Paulo, (Mostra Verbo 2018 na Galeria Vermelho, Instituto Tomie Ohtake, Itaú Cultural, Red Bull Station, Teatro Municipal, Galeria Digital do SESI, DAHAUS, SSA Mapping, Bienal de Curitiba 2017, Festival Multiplicidade, dentre outros).
Em 2020 concebeu junto com Neo Muyanga a vídeo instalação ‘A maze in Grace’, performada na 34ª Bienal de São Paulo, e esteve na exposição coletiva ‘Corpo Poético/Político’, na Galeria Portas Vilaseca no Rio de Janeiro.
Também atua como diretora de arte e vídeo projeção no Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, grupo de teatro hiphop, em em outros grupos de Teatro e música. Sua pesquisa é sobre a subjetividade da memória. Explora a documentação do efêmero, o imaterial de um objeto ou um lugar; o invisível, o subjetivo e o indizível.
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Para conhecer mais o trabalho da artista
https://www.instagram.com/biancaturner/
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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, recriar seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, de quintal, de rua, documentação desses dias de novas relações, essenciais, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente