“_ _ _ Mil Mortos” é uma série de intervenções gráficas sobre cédulas de dinheiro, uma espécie de remake da série original “Inserções em Circuitos Ideológicos” de Cildo Meirelles (1970), em que o artista carimbava notas com a pergunta: “Quem matou Herzog?”
Apesar de passados mais de 50 anos, nos vemos vertiginosamente caminhando pra trás e nos aproximamos dos Anos de Chumbo quando se assassinavam opositores ao sistema e se escondiam os corpos, ou os algozes. Hoje nem se escondem mais os corpos, eles se acumulam diante de nossos olhos em valas e gráficos informativos.
O valor real da vida virou número, pura estatística e se equiparou ou valor abstrato do dinheiro. Afinal estamos encurralados pelo falso dilema no qual temos que optar entre a vida e o PIB. Não é novidade que o liberalismo econômico em voga, coisifica o corpo, relativiza o valor da vida, classifica-a por sua utilidade de produção e acumulação, seu custo x benefício.
Anestesiados que estamos pela (falta de) dor, vemos impotentes um genocídio em marcha. Enquanto contamos os mortos pelos milhares, tentamos dar vazão a essa angústia, a essa raiva que nos consome na reclusão do lar.
A idéia da série é explorar a necessidade dessa fala sufocada, desse grito indignado inspirado pela grande sacada do Cildo, da multiplicação e difusão de uma mensagem nessa mídia analógica de massa e de grande fluxo que é o dinheiro impresso.
A cada dia a intervenção é atualizada com novas cifras dos mortos em outras notas que são reinseridas no fluxo da moeda corrente.
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Minibio
Maurício Brandão é arquiteto e artista integrante do coletivo Bijari desde sua fundação em 1997.
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Para conhecer mais o trabalho do artista
https://www.instagram.com/mooouses/
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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, de quintal, de rua, documentação desses dias de novas relações, essenciais, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente