Lote Covid-19.
Conceito
A morte da humanidade me assusta, não apenas pela morte da vida, pois a morte é consequência da vida e com isso a gente sabe como lidar. Quando pensamos em indivíduos, nascemos com uma certeza que em algum momento, a vida irá se esvair de nossos corpos, e mesmo sendo esse o maior motivo de tristeza, esse ciclo é constante, ininterrupto e natural.
A Humanidade, que falo, é a que nos difere de outros seres, aquilo que nos faz sentir e agir em comunidade, a humanidade que nos transforma em humanos e que nos fez sobreviver e prosperar enquanto espécie.
O desespero está em ver a humanidade perder seu ar, e morrer lentamente, a cada movimento individualista, a cada falta de empatia e, com a perda da noção de comunidade, nos aproximamos de um final triste e sem esperança. A vida quando tratada como mercadoria, os nomes se transformam em números, os motivos se perdem, tudo vira dados que se transformam em estatísticas.
A vida sem humanidade perde seu significado.
E daí, o que me assusta, pessoas sem humanidade se tornam egocêntricas, que buscam seus prazeres acima do bem comum, que ignoram os fatos e a ciência pela ilusão da razão, não se importam com os outros, não se importam com a vida, não se importam com mais nada que não lhes satisfaça, uma humanidade onde a vida se transforma em dados, e dados ganham vida.
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Motivação
2020 foi um ano em que eu coloquei muita esperança, foi meu ano de defesa de dissertação e inevitavelmente criei diversas espectativas. Quando as primeiras notícias começaram a chegar, já me coloquei em alerta e quando a pandemia foi anunciada e tivemos que nos recolher em casa, muitos sentimentos acabaram aparecendo.
A pandemia me aflorou diversos sentimentos e sensações, nas primeiras semanas de isolamento tive crises de sonambulismo, terror noturno onde acordava gritando todas as noites, eu queria poder fazer algo para tentar ajudar, mas me sentia impotente, pois não sou profissional da saúde e não tenho conhecimentos que poderiam auxiliar no combate direto contra o vírus. Tudo que poderia fazer era ficar em casa.
Com o passar das semanas, notei que a agonia que sentia não era só pelo isolamento, mas pela sociedade, me assustava uma sociedade que banaliza a morte, as pessoas se transformando em números, então, percebi que poderia usar a arte para me expressar e também tentar passar a mensagem que os cientistas e jornalistas falavam através da arte, uma linguagem diferente de palavras e números, que envolve reações e sentimentos.
A arte, através do ensaio LOTE COVID-19, foi objeto de expressão, de lidar com meu caos interno, uma maneira de passar informação e a maneira que escolhi para passar meus sentimentos, para alertar, e principalmente, conscientizar que a banalização de uma tristeza desse tamanho pode sim causar o perecimento da humanidade.
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Processo
O material de LOTE COVID-19 foi feito todo dentro de casa, utilizando a luz natural, com membros da minha família com quem passei o período de isolamento, e também autorretrato. O fato deles não serem modelos não foi um empecilho, apenas tive que planejar a foto para que o ensaio fosse curto. Conduzi para que eles expressassem um sentimento quando colocado o plástico sobre o rosto.
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Detalhes
Existem alguns detalhes retratados nas etiquetas do LOTE COVID-19 que trazem questões mais pessoais. Os nomes de alguns personagens são uma junção de pessoas da minha família que já faleceram, outras que representam situações relacionadas com política e sociedade, o uso da palavra trabahando, onde eu tiro uma letra como forma de mostrar o desfalque com os trabalhadores e questionar as formas de trabalho.
Esse vídeo apresenta o processo e detalhes de LOTE COVID-19:
https://www.youtube.com/watch?v=TqLRBlDRsrM&t=59s
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Mini Bio
Gabriela Delcin Pires é formada em design pelo Instituto Federal de Educação, possui mestrado em Design pela Universidade do Estado de Santa Catarina e é pesquisadora em fatores humanos. Pela influência do design em sua trajetória, ela coloca a questão central dos seus trabalhos como o significado, além disso, considera o espectador como parte integrante do seu processo criativo e de seus trabalhos, pois o design coloca que devemos considerar as pessoas nos projetos que são feitos para pessoas, e para ela, sua arte é feita para pessoas.
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Para conhecer mais o trabalho da artista
https://www.instagram.com/elas.me/
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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, de quintal, de rua, documentação desses dias de novas relações, essenciais, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente