Retrato Falado – Mangará.
Este ensaio apresenta a intervenção Retrato Falado – Mangará realizada durante 3 dias, no CEAGESP, em 2014, na qual troquei retratos por histórias com António Jorge de Abreu, Asmir Aparecido Carlos, Daniela, Fábio de Castro, Francisco Macedo de Souza, Giovani Rodrigues de Assis, Jéssica Bezerra da Silva, Luís dos Santos, Marinalva, Milena R. S., Moacir Borges dos Santos; todos trabalhadores do mercado.
Esta edição teve a participação especial de Kena Chaves e Matheus Brant nas câmeras e José Mauricio Rodrigues Lima na captação de áudio, equipe que participou, registrou e gerou um material bastante sensível que finalmente será, ao menos em parte, compartilhado. Apresento a seguir alguns registros fotográficos de Kena e Matheus, assim como trechos dos depoimentos dos participantes dessa edição da intervenção Retrato Falado.
Agradeço a possibilidade de compartilhar esse material através do projeto dos Jornalistas Livres, Futuro do Presente. Presente do Futuro. Esta é uma oportunidade de potencializar o diálogo, o sentido coletivo, comunitário e expressivo sugeridos pela intervenção Retrato Falado – Mangará.
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“Sou do São Luis do Piauí. A gente vem à procura de trabalho, né?”
“Lá tem maracujá, tem banana, tem tudo! Que seja, a tamoia. Lá não tem! Lá tem a pinha no lugar da tamoia.”
“Eu tenho um sonho… arrumar meu nariz!”
“Todo mundo olhando, vou ser desenhado agora por uma moça que eu não sei quem é, mas eu confiei, um rapaz elegante com um chapéu na cabeça, uma câmera, que parece ser meio tímida me filmando, e os demais companheiros me filmando. O Ceasa é isso! O Ceasa não é só trabalho, o Ceasa não é só loucura, o Ceasa não é só estress. O Ceasa tem seus bons momentos e esse é um momento oportuno e eu estou aqui! Obrigada, pode desenhar, moça.”
“A gente carpintava de enxada, machado, cavava açude… Mexia com roça mesmo, tudo com a roça.”
“Olha… Não é que nem aqui não. Lá é azul, bem azulzinho mesmo.. Tem dia quando tá amanhecendo, tem aquelas fachas vermelhas, quase cor de fogo. Nascer do sol… fica bonito.”
“Ah, eu acredito que em outros lugares muda muito. Mudou muito. O nosso povo de lá, a maioria dos homens casados, eles não gostavam que mulher trabalhasse em firma nenhuma… Ficava com muito ciúme… As mulheres vinham e começavam a falar um pouco mais difícil, aí eles já começavam a ciumá. Falavam, ah, você não sabe isso aí, você aprendeu lá no serviço! Tem que sair… perguntavam se o pessoal que tinha carro, dava carona… E começava a ciumera.”
“Hoje, já… hoje já teve uma mudança muito grande. Olha lá… A maneira de mudança, a maioria foi por causa de estudo. O pessoal vai estudando e a pessoa vai se entendendo… Por que lá onde nóis foi criado, 80% dos que vieram primeiro é analfabeto.”
“Cinco dois. Essa é a segunda vez que eu trabalho aqui, fazem três anos. Antes eu era auxiliar de escritório. Aqui eu sempre trabalhei com frutas. Antes eu trabalhava com melancia, agora mudei de melancia pra abacaxi.”
“Aqui eu trabalho de carregador, acho bom. Sou carregador autônomo.”
”Aqui nós faiz tudo. Eu trabalho com carrinho assim, também. Aqui a gente trabalha com carrinho, a gente carrega, faz descarga, faz tudo que aparece. Tem gente que puxa mercadoria pros box, mas geralmente mesmo, faz carga.”
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Minibio
Manu Romeiro é artista visual, cantora e arte educadora nascida em São Paulo.
A primeira vez que decidiu trocar retratos por histórias foi em 2014, num barco de transporte público, durante viagem de 3 dias sobre o rio Amazonas (Pará). Desde então, a intervenção Retrato Falado foi realizada no bairro da Serrinha, durante o Festival da Serrinha (Bragança Paulista), no CEASA (Centro Estadual de Abastecimento de São Paulo), durante a residência artística Programa Artista Residente UFOB, em feiras de rua das cidades de São Félix e Santa Maria da Vitória (Bahia) e no SESC Vila Mariana (São Paulo). Em Portugal foi realizada na Biblioteca de Amadora, Espaço Anagrama e no Festival Onda de Contos (Lisboa), em Santa Maria da Feira (Aveiro) e Vila Nova de Famalicão no Lucity Festival (Braga).
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Para conhecer mais o trabalho da artista
https://manutchuga.wixsite.com/manuromeiro
https://www.instagram.com/romeiromanu/
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O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, de quintal, de rua, documentação desses dias de novas relações, essenciais, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.
Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente